A gravação do presidente Michel Temer que foi feita por Joesley Batista repercutiu na Câmara, com dois pedidos de impeachment, cobrança de renúncia pela oposição e de debate sobre eleições diretas. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou mais cedo à sessão plenária.
“Não tem mais clima para trabalhar”, afirmou.
A oposição apresentou uma nota assinada por PT, PDT, PC do B, PSB, PSOL e Rede, na qual informa que foi constituído um fórum permanente de ação para pedir a renúncia ou o afastamento do presidente Michel Temer.
No documento, os partidos dizem que estão empenhados em atuar para que haja a vacância do cargo e seja realizada eleição direta. Os partidos também cogitam um pedido conjunto de impeachment e solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) o afastamento cautelar do presidente. Outra opção seria o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acelerar o julgamento da chapa Dilma-Temer.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) protocolou o primeiro pedido de impeachment por crime de responsabilidade, na noite de ontem, considerando que, na gravação feita pelo dono da JBS, Temer dá aval para a “compra de silêncio” do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Um pedido semelhante foi feito pelo terceiro-secretário da Câmara, João Henrique Holanda Caldas (PSB-AL).
Na Câmara, já tramita desde o mês passado outro requerimento de impeachment, aberto por ordem do ministro Marco Aurélio Mello, do STF. A comissão especial que analisará esse primeiro pedido ainda não foi instalada, porque a base aliada resiste a indicar os deputados.
Além do impeachment, a oposição aproveitou ontem para cobrar a renúncia de Temer. “Impeachment demora uns três meses”, disse o deputado Silvio Costa (PT do B-PE).
Segundo o deputado José Guimarães (PT-CE), outra estratégia dos opositores será tentar paralisar o funcionamento do Congresso. “A situação é muito grave. Ou se faz o impeachment ou não se faz mais nada neste País”, afirmou o petista.
Nova eleição. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), afirmou que avaliará a possibilidade de pautar nos próximos dias no colegiado a votação da Proposta de Emenda à Constituição que prevê eleições diretas para presidente, caso Temer seja cassado ou renuncie ao mandato. Hoje, um novo presidente teria de ser escolhido por eleições indiretas, entre os congressistas. / COLABOROU DAIENE CARDOSO
DELAÇÃO
● Temer foi gravado pelo dono da JBS Joesley Batista em conversa em que teria dado aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ); empresa tem 7 delatores
PMDB
PSDB
PT
Joesley Batista
DONO DA JBS, FEZ DELAÇÃO
Wesley Batista
DONO DA JBS, FEZ DELAÇÃO
Michel Temer
PRESIDENTE DA REPÚBLICA (PMDB)
Guido Mantega
EX-MINISTRO DA FAZENDA DOS GOVERNOS LULA E DILMA
Segundo Joesley, Mantega seria o contato da JBS com o PT. Ele disse que era com o ex-ministro que dinheiro de proprina era negociado para ser distribuído aos petistas e aliados
PT
PT e aliados
Rodrigo da Rocha Loures
DEPUTADO (PMDB-PR)
Temer teria indicado o deputado para resolver um assunto da J&F, holding que controla a JBS
Eduado Cunha
EX-PRESIDENTE DA CÂMARA (PMDB-RJ)
Joesley disse a Temer que estava dando a Cunha e a Funaro uma mesada na prisão para ficarem calados. Diante da informação, Temer teria afirmado: “tem que manter isso, viu?”
Lúcio Funaro
OPERADOR
Aécio Neves
SENADOR (PSDB-MG)
R$ 2 milhões teriam sido entregues a pedido de Aécio para pagar despesas de sua defesa na Lava Jato
Frederico Pacheco de Medeiros
PRIMO DE AÉCIO, EX-DIRETOR DA CEMIG
Mendherson Souza Lima
SECRETÁRIO PARLAMENTAR DE ZEZÉ PERRELLA
O destino seriam os advogados de Aécio, mas, segundo investigações, o dinheiro teria ido para uma empresa do filho do senador Zezé Perrella (PMDB-MG)
O Estado de São Paulo, n. 45138, 18/05/2017. Política, p. A6