41ª fase da Lava Jato prende ex-banqueiro

RICARDO BRANDT

 JULIA AFFONSO

LUIZ VASSALLO

27/05/2017

 

 

Poço Seco, nova etapa da operação, tem entre os alvos suspeitos de intermediar propinas por negócio da Petrobrás no Benin, na África
 
A Polícia Federal deflagrou ontem uma nova fase da Operação Lava Jato, a 41.ª, com o objetivo de aprofundar as investigações sobre operações financeiras relacionadas a contrato de US$ 10 milhões da Petrobrás para exploração de campos de petróleo em Benin, na África. O ex-gerente da estatal Pedro Augusto Côrtes Xavier Bastos e o ex-dono do banco BVA José Augusto Ferreira dos Santos foram presos durante a operação de ontem.
 

As investigações tentam identificar quem são os beneficiários finais de suposta propina que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, foram pagas em contas da Suíça e dos Estados Unidos.

O valor teria sido depositado em contas de Bastos, Santos e do lobista João Augusto Henriques, ligado ao PMDB. Fernanda Luz, filha do operador Jorge Luz, preso na Lava Jato, foi alvo de condução coercitiva.

O negócio da Petrobrás em Benin é o mesmo que resultou em condenação de 15 anos e quatro meses de prisão do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDBRJ), em decisão do juiz federal Sérgio Moro, no início do ano.

O peemedebista, preso em Curitiba desde outubro de 2016, foi acusado de receber US$ 1,5 milhão como propina.

Por meio do rastreamento das movimentações financeiras das contas usadas por Henriques, a força-tarefa da Lava Jato chegou a elementos que indicam que outro operador financeiro pode estar envolvido na lavagem do dinheiro restante pago. Trata-se de Álvaro Gualberto Teixeira de Mello, dono da ATM, que seria próximo dos operadores financeiros do PMDB já presos no escândalo Petrobrás. O investigado também foi alvo de condução coercitiva ontem. “Um dos segredos de se investigar lavagem de dinheiro é justamente seguir o rumo. Para nós seguirmos o dinheiro temos que analisar o comportamento dos operadores, são agentes profissionais da lavagem de dinheiro”, disse o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima.

O inquérito que originou a operação de ontem, batizada de Poço Seco, não teve políticos como alvo direto. A reportagem não conseguiu localizar os advogados de defesa dos citados na operação de ontem.

Cortes. Durante entrevista sobre a nova fase, Lima afirmou ser “incompreensível” a redução do quadro de delegados de Polícia Federal na Operação Lava Jato. Reportagem do Estado mostrou que a Polícia Federal reduziu a equipe destacada para a força-tarefa em Curitiba e contingenciou 44% do orçamento de custeio previsto para 2017.

“Importante que se compreenda que precisamos manter uma equipe que realmente dê condições de suporte às medidas que vão ser tomadas daqui para a frente, investigações que vão se desenvolver”, disse Lima.

O delegado da PF Igor Romário de Paula, da força-tarefa em Curitiba, negou ver a medida como tentativa de barrar a operação.

“Eu não vejo indícios de qualquer tipo de influência para tentar barrar. Vejo limitação em função da disseminação da investigação. São 17 Estados que vão receber desdobramentos.” / RICARDO BRANDT, JULIA AFFONSO e LUIZ VASSALLO

 

- Políticos

“Nesse momento não temos nenhum indicativo além de Cunha. A fase ainda é investigatória.”

Carlos Fernando dos Santos Lima

PROCURADOR DA REPÚBLICA

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Governo paraense afasta 29 policiais envolvidos em chacina

Carlos Mendes

27/05/2017

 

 

Dez posseiros foram mortos a tiros na quarta durante cumprimento de ordem de prisão pela PM no sudeste do Estado

O secretário de Segurança do Pará, o general aposentado Jeannot Jansen, determinou ontem o afastamento dos 29 policiais – 21 militares e 8 civis – envolvidos no confronto que resultou na morte de dez pessoas na fazenda Santa Lúcia, a 35 km da cidade de Pau D’arco, no sudeste do Estado. Eles não podem mais participar de qualquer missão policial e devem colaborar com as investigações para esclarecer os fatos.

Os policiais afirmam que cumpriam ordem judicial de prisão e de busca e apreensão de armas contra invasores da propriedade quando foram recebidos a tiros.

Segundo sobreviventes do grupo que ocupava a área, no entanto, os policiais já chegaram atirando. Eles prestaram depoimento sigiloso ao Ministério Público Estadual.

Peritos do Instituto Renato Chaves estiveram na fazenda e foram aos locais que eram ocupados pelo grupo. Segundo peritos, foram encontradas cápsulas deflagradas de projéteis calibre 380, que coincidem com o calibre de algumas armas que a polícia diz ter apreendido após o tiroteio. Eles também analisaram marcas de balas na vegetação do local.

Críticas. A Ordem dos Advogados do Pará acusou os policiais de terem mexido no local do confronto, retirando os corpos antes da chegada dos peritos, o que prejudica as investigações.

O promotor militar Armando Brasil também criticou a atitude dos policiais. “Não podiam ter feito isso, deveriam ter esperado a perícia fazer seu trabalho, com as vítimas no local, para só depois haver a remoção”, disse Brasil ao Estado. “Não posso aceitar que isso tenha acontecido.

A cena dos crimes ficou inidônea, porque provas importantes podem ter desaparecido com a retirada dos corpos.” A Polícia Civil informou que tudo está sendo apurado, mas disse que não comentaria as acusações da OAB e de Brasil até que tudo fique esclarecido. O corpo das dez vítimas foram enterrados ontem nas cidades de Redenção e Pau D’arco.

Integrantes de movimentos sociais, de direitos humanos e sindicatos compareceram e prestaram solidariedade às famílias.

A Polícia Federal foi acionada para garantir a integridade física de oito pessoas que teriam sobrevivido durante o tiroteio na propriedade rural.

Governo. A ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, defendeu ontem que a investigação do massacre em Pau D’arco seja controlada pelos órgãos públicos de Marabá, cidade a 426 quilômetros de distância que concentra delegacias especializadas em assassinatos no campo, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.

Em entrevista ao Estado, ela demonstrou preocupação com a perícia do local da chacina. Os peritos de Marabá e Parauapebas só chegaram à área do crime depois que policiais do município tinham retirado os corpos.

“Não podemos deixar que a coisa transcorra de qualquer maneira”, afirmou a ministra. “A perícia tem de ser feita com muito empenho e dedicação.” Uma equipe do Ministério dos Direitos Humanos foi enviada ao Pará para acompanhar as primeiras informações e levantamentos sobre o massacre. “A situação é vexatória, constrangedora e inadmissível. Em pleno século XXI, essa situação não pode ocorrer”, disse Luislinda Valois. “Como ministra, como cidadã e como ser humano não posso aceitar o que ocorreu. Ninguém pode aceitar”, disse.

A ministra afirmou que confia no trabalho de juízes e procuradores na elucidação e punição de culpados. Ao comentar sobre a onda de violência no campo, Luislinda Valois disse que é preciso desencadear ações concretas em todos os níveis de governo. / COLABORARAM LEONENCIO NOSSA e CARLA ARAÚJO

 

 

 

 

- Reações

“A cena dos crimes ficou inidônea, porque provas importantes podem ter desaparecido com a retirada dos corpos.”

Armando Brasil

PROMOTOR MILITAR

 

“Não podemos deixar que a coisa transcorra de qualquer maneira. A perícia tem de ser feita com empenho.”

Luislinda Valois

MINISTRA DOS DIREITOS HUMANOS

O Estado de São Paulo, n.45147 , 27/05/2017. Politica, p.A10