Executiva deu guinada no rumo do banco

Vinicius Neder

27/05/2017

 

 

Maria Silvia mudou a política de crédito do BNDES e conduziu criação de nova taxa de juros

Há um ano e dez dias, a economista Maria Silvia Bastos Marques era anunciada pelo então presidente em exercício Michel Temer como nova presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Foi a primeira mulher nomeada para o alto escalão do governo Michel Temer, após a nomeação de um ministério formado apenas por homens ser alvo de críticas.

Sua indicação, anunciada um dia antes do nome de Ilan Goldfajn para presidir o Banco Central (BC), sugeria alinhamento na equipe econômica. Exigente, focada em resultados e com fama de “trator” no mundo dos negócios, onde fez fama ao ser a primeira mulher a comandar a siderúrgica CSN, Maria Silvia foi diretora do BNDES quando o banco começou a trabalhar nas privatizações, no início dos anos 1990. Voltou duas décadas depois para dar uma guinada na instituição.

Ainda que o tamanho da queda nos desembolsos desde o ano passado seja explicado pela falta de demanda diante da recessão, a redução do BNDES foi uma das primeiras medidas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. A expansão do banco foi uma marca nos governos do PT. Turbinados por R$ 440,8 bilhões em aportes do Tesouro de 2009 a 2014, os desembolsos saltaram de R$ 88,5 bilhões em 2003 para R$ 267 bilhões em 2010, em valores de 2016.

Para reverter isso, antes de Temer completar um mês no cargo, o próprio presidente anunciou a devolução de R$ 100 bilhões, parcelados em três anos, da dívida do banco de fomento com a União. Apesar das pressões do empresariado e de parte do corpo técnico, Maria Silvia acelerou as mudanças.

Em novembro passado, surpreendeu o mercado, ao devolver os R$ 100 bilhões de uma vez, e não em três.

Outro sinal do ritmo acelerado de Maria Silvia foi a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que substituirá a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) nos empréstimos do BNDES a partir de 2018. Cerca de três meses se passaram entre a revelação, pelo Estado, de que a equipe econômica estudava atrelar os juros do BNDES às taxas das NTN-Bs, títulos públicos corrigidos pela inflação, e o anúncio da TLP, no fim de março.

Crédito. O destaque da guinada foi o anúncio da nova política de crédito do banco, na primeira semana deste ano, com regras que valem para todos os setores e incentivos “horizontais” aos projetos que recebem crédito subsidiado.

Em relação a suspeitas de irregularidades nas operações, a diretoria de Maria Silvia criou uma Área de Controladoria. Também mudou regras para a concessão de empréstimos para a infraestrutura e para a exportação de serviços.

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Presidente lamentou ‘baixa importante'

Carla Araújo

Tânia Monteiro

27/05/2017

 

 

 

Interlocutores do presidente Michel Temer avaliavam ontem que o governo sofreu uma “baixa importante” com a saída da economista Maria Silvia Bastos Marques da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Porém, o Planalto trabalhou rápido para escolher um sucessor, Paulo Rabello de Castro. A ideia era evitar desgastes adicionais com o mercado financeiro. Segundo fontes, após ser surpreendido com o pedido de Maria Silvia, Temer confidenciou a auxiliares: “Já tenho um nome”.

A sucessão foi discutida em reunião de Temer com os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira. Segundo relatos, a executiva telefonou para o gabinete de Temer na quinta-feira à noite e pediu uma audiência, marcada para ontem às 14h30. A conversa durou meia hora e ela alegou “razões pessoais” para deixar o cargo.

 

O Estado de São Paulo, n.45147 , 27/05/2017. ECONOMIA, p. B3