Irmãos Batista deixam o conselho da JBS

Josette Goulart

27/05/2017

 

 

Tarek Farahat e José Batista, pai de Wesley e de Joesley, passam a comandar o conselho

Os irmãos Joesley e Wesley Batista renunciaram aos postos de presidente e vice-presidente do conselho de administração da JBS, respectivamente.

A decisão foi tomada na reunião do conselho realizada ontem e foi motivada pelas delações dos executivos, que admitiram uma série de práticas de corrupção e atos ilegais cometidos na última década. Wesley Batista, no entanto, permanece na presidência executiva da empresa.

Pelo acordo que os executivos firmaram com o Ministério Público Federal, ambos podem continuar na administração das empresas do grupo.

Mas Joesley, além de sair da JBS, também não é mais presidente do conselho da J&F Investimentos, de onde foi afastado desde abril por decisão judicial no âmbito da Operação Greenfield, que investiga irregularidades nos fundos de pensão.

De acordo com comunicado enviado ontem pela empresa, os irmãos serão substituídos por Tarek Farahat na presidência do conselho e por José Batista Sobrinho, o pai de Joesley e Wesley, na vice-presidência.

Zé Mineiro, como é conhecido, foi fundador da JBS em 1953, quando iniciou o conglomerado com um pequeno açougue no interior de Goiás.

Na década de 80, Zé Mineiro passou o comando da empresa para José Batista Júnior, seu primogênito. E, desde os anos 2000, o comando da empresa foi assumido por Wesley e Joesley quando mudaram o nome da Friboi para JBS, formando um império mundial.

Executivo. Farahat já era membro do conselho e também desde 2015 ocupa o cargo de presidente global de marketing da JBS. O executivo, de origem egípcia, fez praticamente toda sua carreira na Procter & Gamble, empresa dona de marcas famosas como Ariel, de sabão em pó, Gilette, de higiene pessoal, e Pampers, das fraldas descartáveis.

Na Procter & Gamble, Farahat ficou durante 26 anos e ocupou cargos em vários países no mundo, espalhados pelo Oriente Médio, Europa e América Latina. De 2006 a 2012, foi presidente da P&G para América Latina e até 2015 era membro do conselho executivo da P&G mundial.

Farahat terá agora a missão de implementar um sistema de governança corporativa na JBS, que consiga recuperar a imagem perdida com as confissões de crimes feitas pelos irmãos Batista na delação premiada fechada com o MP.

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Grupo omitiu que Wesley e Joesley são os novos sócios da Blessed

 
 
Empresa foi questionada pela CVM e respondeu que não havia alteração na sociedade, mas recuou dois dias depois

 

A JBS informou ontem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que alterou seu Formulário de Referência no item que fala sobre os seus sócios, para incluir os novos donos da Blessed Holdings, um dos acionistas indiretos da companhia. A empresa, com sede em Delaware, nos Estados Unidos, passou a pertencer a Wesley e Joesley Batista. A JBS, no entanto, tinha sido questionada na quarta- feira pela CVM e respondeu que não havia qualquer alteração a fazer. Somente dois dias depois, após ser novamente questionada, é que a empresa fez as alterações.

O questionamento foi feito porque as declarações de imposto de renda de Joesley e Wesley entregues junto com os documentos das delações premiadas dos executivos informavam que ambos haviam comprado a Blessed, 50% para cada, por um total de US$ 300 milhões, em outubro do ano passado. Já teriam pago cerca de US$ 30 milhões aos antigos controladores. Mesmo sendo Wesley presidente da JBS e Joesley, do Conselho, a informação continuou sendo omitida pela empresa.

A Blessed entrou na sociedade do JBS na época da fusão com o frigorífico Bertin. Em 2014, o Estado questionou à companhia a à própria CVM quem eram os sócios da Blessed.

Como a Blessed tinha, mesmo que indiretamente, mais de 5% das ações da JBS, era obrigação, segundo a lei das S/As, ter o nome de seus sócios divulgados. A JBS, no entanto, nunca tinha feito isso até então.

Naquela ocasião, informou que os sócios eram duas seguradoras com sede nas Ilhas Cayman e em Porto Rico, que tinham sócios idênticos. A Receita Federal chegou a dizer que esse tipo de estrutura era usado para esconder patrimônio. Em nota, a J&F, que controla a JBS informou que todos os atos ilícitos foram comunicados à Procuradoria-Geral da República. / J.G.

 

- Aquisição

US$ 300 mi foi o valor acertado por Wesley e Joesley Batista para a compra da Blessed, que pertencia às seguradoras US Commonwealth Life e Lighthouse Capital Insurance

O Estado de São Paulo, n.45417 , 27/05/2017. ECONOMIA, p. B10