O ‘TQQ’ da Petrobras

AMONA ORDOÑEZ

SÉRGIO ROXO

28/07/2017

 

 

Nomeado para sanear estatal, Bendine provocou a ira de funcionários com clima de ‘caça às bruxas’ e foi apelidado como o presidente que trabalhava só às terças, quartas e quintas

 Considerado o homem do governo Dilma Rousseff na Petrobras, Aldemir Bendine assumiu a presidência da companhia em fevereiro de 2015 no lugar de Maria das Graças Foster em meio à maior crise da história da companhia envolvida no escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato. Apesar de não ser filiado ao PT, Bendine se aproximou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, principalmente, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega nos tempos em que comandou o Banco do Brasil (BB), entre 2009 e 2015.

Sua missão era colocar a estatal de volta nos trilhos, acertar as finanças e publicar o balanço de 2014. Não demorou, porém, para que, dentro da companhia, o executivo recebesse o apelido de “presidente TQQ”. É que, segundo comentários, ele somente trabalhava na sede da Petrobras no Rio às terças, quartas e quintas-feiras.

Bendine tinha a meta de “limpar” a companhia dos funcionários envolvidos nas irregularidades. Juntamente com seus diretores, de um lado buscava arrumar as finanças lançando programas agressivos de cortes de custos. De outro, iniciou um profundo processo de reestruturação interna, com mudanças no modelo de governança para “blindar” a Petrobras. Entre as medidas, mudanças no estatuto para evitar que ocorressem desmandos novamente.

Com um forte programa de demissões, Bendine ganhou o respeito e a admiração do mercado em geral e o ódio dos funcionários. Foi instaurado dentro da companhia um verdadeiro clima de “caça às bruxas”, considerado péssimo e que fazia com que cada funcionário desconfiasse do colega ao lado.

Em vários momentos durante sua gestão na Petrobras, Bendine demonstrava grande indignação pelos casos de corrupção ocorridos dentro da estatal. “É uma maluquice”, comentou certa vez Bendine ao responder sobre a situação da petrolífera quando assumiu o cargo. Durante sua gestão houve embates entre os interesses do Conselho de Administração; sua diretoria, composta por funcionários de carreira; e os planos de Brasília.

O expressivo corte nos investimentos da Petrobras e o lançamento de um programa de venda de ativos enfrentaram forte oposição interna, o que rendeu discussões acaloradas entre o que queria a diretoria da estatal e o que defendia, naquela época, o Conselho de Administração. Os investimentos da Petrobras, que no Plano 2014-2018 eram de US$ 220,6 bilhões, foram cortados para US$ 98,4 bilhões no Plano 2015-2019, lançado na gestão de Bendine, que deixou a companhia em maio de 2016.

Bendine não era a primeira opção de Dilma para a Petrobras, mas acabou sendo o escolhido depois que outros nomes recusaram o posto. A presidente apostou na “bem avaliada” gestão de Bendine no Banco do Brasil, apesar de, na época, já ter sido divulgada notícia sobre a suspeita de que a instituição teria favorecido a socialite Val Marchiori na obtenção de um empréstimo do BNDES (leia reportagem abaixo).

 

NO CARTÃO DE VISITAS, DIDA

Funcionário de carreira do banco, onde começou como office boy aos 14 anos, Bendine ascendeu dentro da instituição depois da chegada do PT ao Planalto. Foi secretário-executivo e, em seguida, vice-presidente de Cartões e Novos Negócios de Varejo. Insatisfeito com a dificuldade de comunicação e com a cartilha pró-mercado do então presidente do banco, Antonio Francisco de Lima Neto, Lula nomeou Bendine para o seu lugar, em abril de 2009.

Sob seu comando, o Banco do Brasil se alinhou à política do Planalto de baixar as taxas de juros e o spread bancário, forçando os concorrentes privados a seguir o mesmo caminho. A linha adotada aproximou Bendine dos dirigentes petistas, que o tratavam sempre por “Dida”, apelido que ele chegou a mandar imprimir no seu cartão de visitas.

Bendine também tinha preocupação em mobilizar a base de funcionários do banco. Chegou a levar Lula para participar de uma reunião de gerentes regionais da instituição.

Mantido no posto após a chegada de Dilma ao poder, o presidente do BB acelerou a política de corte de juros a partir de 2012, que o mercado entendia como uma interferência política na instituição, mas que o ajudou a cair nas graças da nova chefe.

O globo, n.30671 , 28/07/2017. País, p. 4