Sem dinheiro, PF terá que reduzir operações, diz ministro da Justiça

Vinicius Sassine

28/07/2017

 

 

Segundo Torquato Jardim, será preciso um processo seletivo nas ações

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, admitiu ontem que as restrições orçamentárias poderão impedir que a Polícia Federal realize todas as operações este ano. Ele afirmou que não houve redução no volume de recursos previstos no orçamento, mas um contingenciamento que limitou os gastos do governo.

— Não há corte, há contingenciamento, que é gastar quando se tem dinheiro. Estamos repondo na medida do possível. O contingenciamento da PF foi de R$ 400 milhões, mas R$ 170 milhões já foram repostos e estão previstos R$ 70 milhões mês a mês. Isso poderá implicar em um processo seletivo de ações, em não se realizar todas as operações necessárias, na extensão total. Este juízo compete ao próprio departamento — disse Torquato.

O ministro voltou a deixar em aberto a permanência de Leandro Daiello como diretor-geral da PF:

— Sempre falei com a mais absoluta clareza: Daiello e eu estamos trabalhando para uma nova PF, um novo sistema institucional. Irrelevante quem vai continuar, se ele lá ou eu aqui, ou se saem os dois ou se ficam os dois. Não há compromisso pessoal. Nunca houve prazo para ele sair. O “deadline” é do dono da caneta, e o dono da caneta se chama Michel Temer.

Torquato Jardim jogou para a Polícia Federal a responsabilidade pelo pedido da tornozeleira eletrônica que garantiu a saída da prisão de Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor especial do presidente Michel Temer. O ministro negou que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) — subordinado ao Ministério da Justiça — tenha feito o pedido formal à Superintendência de Administração Penitenciária do governo de Goiás.

— O pedido saiu da Polícia Federal. O Depen foi consultado se havia tornozeleira em Brasília, e não havia. O órgão, então, avisou que havia em Goiás. E quem requereu a Goiás foi a Polícia Federal — disse o ministro.

Diante da declaração de Torquato, O GLOBO perguntou ao ministro se o Depen não pediu a tornozeleira:

— Quem pediu por escrito foi a Polícia Federal — respondeu.

— E por telefone, o Depen não pediu a tornozeleira?

— (O Depen) Procurou saber se havia, mas não pediu.

A concessão da tornozeleira a Loures, o “deputado da mala”, foi feita pelo então superintendente de Administração Penitenciária de Goiás, o coronel da reserva da Polícia Militar Victor Dragalzew Júnior. Tanto ao Ministério Público em Goiás, que investiga o empréstimo do dispositivo, quanto em entrevista ao GLOBO o coronel afirmou que o pedido partiu do Depen.

O globo, n.30671 , 28/07/2017. País, p.07