Justiça nega pedido e Lula depõe hoje a Moro

Ricardo Galhardo, Ricardo Brandt e Valmar Hupsel Filho

10/05/2017
 
 
Lava Jato. Audiência ocorre em meio a clima de tensão e uma série de atos na capital paranaense; petistas afirmam que ex-presidente deve evitar confronto político com juiz

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será ouvido hoje, em Curitiba, pelo juiz federal Sérgio Moro como réu no processo em que é acusado de receber propina por meio de um triplex no Guarujá, no litoral de São Paulo. Ontem, o juiz Nivaldo Brunoni, do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), rejeitou pedido da defesa do petista para suspender a ação penal e adiar o interrogatório.

A audiência será a primeira vez em que Lula e Moro ficarão frente a frente desde o início da Lava Jato, e ocorrerá em meio a um clima de tensão. Ao menos 20 ônibus com manifestantes a favor do petista desembarcaram na capital paranaense na véspera do depoimento. Há também a expectativa de manifestações contra Lula (mais informações nesta página).

A presidente cassada Dilma Rousseff é aguardada em Curitiba para acompanhar o depoimento.

Os grupos a favor do expresidente prepararam uma série de atos na cidade e contam com a presença de Lula na Boca Maldita, local que costuma reunir eventos políticos no centro da cidade, após o encontro com Moro. Até ontem, porém, a participação do petista era descartada por advogados, que diziam não querer dar margem a acusações de que o ex-presidente transformou o depoimento em um evento político.

A equipe de Lula, inclusive, manteve sigilo sobre os horários e locais por onde o ex-presidente vai passar. O petista só chegará a Curitiba hoje pela manhã, poucas horas antes do início do depoimento, marcado para as 14 horas na sede da Justiça Federal no Paraná.

TRF-4. Além de ter o pedido de adiamento negado, a defesa do ex-presidente não conseguiu autorização da Justiça para que advogados gravassem em vídeo a audiência. “Até hoje, nunca transitou por este tribunal inusitado pedido”, afirmou o juiz Brunoni, do TRF-4, autor também desta decisão.

A exemplo do depoimento de outros réus e testemunhas nos processos que tramitam na 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, da qual Moro é responsável, a gravação em vídeo da audiência com Lula deverá ser divulgada apenas horas após seu encerramento.

Para evitar vazamentos durante o depoimento, Moro proibiu a entrada de celulares na sala de audiência. Além de Moro e Lula, advogados, procuradores, policiais federais e um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) poderão estar presentes no interrogatório.

Ontem ainda, a defesa do expresidente recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra as decisões do TRF-4.

Em habeas corpus, os advogados do petista pediram, além de autorização para gravar o depoimento de forma independente e o adiamento, o impedimento de Moro na ação.

Estratégia. Nesta ação, Lula é acusado de ter recebido R$ 3,7 milhões em propinas da OAS, que, em troca, teria fechado três contratos com a Petrobrás. A defesa do petista afirma que o ex-presidente não é proprietário e nunca utilizou o triplex.

Segundo os advogados, a mulher de Lula, Marisa Letícia, morta em fevereiro, adquiriu uma cota do empreendimento antes de sua conclusão, mas não exerceu a opção de compra após a OAS assumir o imóvel.

Dirigentes e parlamentares petistas reunidos ontem em Curitiba disseram que o ex-presidente deve se concentrar em questões técnicas do processo, evitando a disputa política durante o depoimento. Segundo eles, o confronto político não interessa a Lula, pois a Lava Jato não tem provas de que o ex-presidente seja o dono oculto do apartamento no Guarujá. / COLABORARAM FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO e LUIZ VASSALLO

Manifestação. Apoiadores do ex-presidente Lula fizeram caminhada ontem em Curitiba

AUDIÊNCIA

● Interrogatório do ex-presidente Lula está marcado para hoje, às 14h, em Curitiba; petista será ouvido pelo juiz Sérgio Moro sobre caso do triplex no Guarujá (SP)

Triplex no Guarujá

Segundo investigação, o ex-presidente recebeu vantagens indevidas da OAS por meio do imóvel e do armazenamento de bens do acervo presidencial. Procuradoria denunciou Lula, que virou réu

O QUE DIZ A DENÚNCIA

Lula recebeu, de forma direta, em benefício pessoal, valores oriundos do “caixa geral de propinas da OAS com o PT”. Petista nega

DESPESAS PAGAS PELA OAS

R$ 3,7 milhões

R$ 1,3 milhão

ARMAZENAMENTO DE BENS DO ACERVO PRESIDENCIAL, MANTIDOS PELA GRANERO DE 2011 A 2016

R$ 1,1 milhão

DIFERENÇA ENTRE O VALOR QUE LULA DIZ TER PAGO À BANCOOP POR UM APARTAMENTO NO GUARUJÁ E O IMÓVEL EFETIVAMENTE ENTREGUE (TRIPLEX)

R$ 926 mil

BENFEITORIAS PAGAS PELA OAS NO TRIPLEX

R$ 351 mil

EXECUÇÃO DE UM PROJETO DE COZINHA E OUTROS MÓVEIS NO APARTAMENTO

CRIMES

● Corrupção passiva

● Lavagem de dinheiro

A OAS, cujo ex-presidente Léo Pinheiro é próximo de Lula, firmou contratos com o governo federal que somaram:

R$ 7 bilhões

68% SÃO RELATIVOS A NEGÓCIOS COM A PETROBRÁS

Lula é réu em outras quatro ações penais

Operação Lava Jato

Acusação cita propina paga pela Odebrecht no valor de R$ 75 milhões em contratos da Petrobrás que incluiu terreno para o Instituto Lula e outro imóvel. Lula nega participação no esquema

Obstrução da Justiça

Lula é acusado de participar de trama para tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, que fez delação. Ex-presidente diz que não há provas para as acusações

Operação Janus

Ex-presidente Lula é acusado de atuar no BNDES por interesses da Odebrecht em negócios na Angola. A defesa do petista afirma que ele jamais interferiu em operações de financiamentos do banco

Operação Zelotes

Petista é acusado de receber R$ 2,5 milhões de lobistas em caso relativo à prorrogação de incentivos fiscais a montadoras de veículos e à compra de caças suecos pelo Brasil. Defesa nega.

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Polícia apreende facões; grupo fala em ato pacífico

Ricardo Galhardo, Ricardo Brandt e Valmar Hupsel Filho

10/05/2017

 

 

Facas, enxadas e outras possíveis armas brancas foram apreendidas ontem com manifestantes que começaram a chegar a Curitiba para acompanhar o depoimento que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestará hoje ao juiz Sérgio Moro.

A informação foi antecipada pela Coluna do Estadão.

Para o secretário estadual de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita de Oliveira, o material não é “condizente com manifestações pacíficas”.

Ele afirmou que, apesar de haver a expectativa de confronto entra manifestantes a favor e contra Lula, “a polícia está pronta para dar o apoio que for necessário, para garantir uma manifestação democrática”.

Integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST), porém, afirmaram que os objetos apreendidos seriam usados pelos militantes para cozinhar e na montagem das barracas. “Isso é uma manipulação da polícia.

São ferramentas para fazer a comida e armar os abrigos”, disse o coordenador do MST do Paraná, Roberto Baggio.

Cerca de 4 mil militantes, segundo o MST, estão concentrados no pátio dos rodoferroviários, no centro de Curitiba, para uma vigília em apoio ao ex-presidente.

No local foram montadas barracas, além de cozinhas comunitárias. Ontem, o juiz Friedmann Anderson Wendpap, da 1.ª Vara Federal de Curitiba, mandou desocupar a área a pedido da ALL, uma das donas do terreno.

 

O Estado de São Paulo, n. 45130, 10/05/2017. Política, p. A4