Duque: Palocci ‘gerenciava’ a propina

Luiz Vassalo/ Valmar Hupsel Filho/ Ricardo Brandt 

06/05/2017

 

 

Dinheiro, diz ex-diretor, vinha de contratos de sondas para o pré-sal; ex-ministro nega

 

 

No depoimento que deu ao juiz federal Sérgio Moro, o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque disse que o ex-ministro Antonio Palocci “gerenciava” as propinas que seriam destinadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Duque, o dinheiro vinha de contratos para a construção de sondas de exploração do pré-sal e foi negociado pelo ex-gerente da estatal Pedro Barusco.

Os acertos teriam sido feitos em 2012 e, conforme o ex-diretor, tiveram a participação do então tesoureiro do PT João Vaccari Neto. “Os dois terços do partido, Vaccari me informou que iriam para o Partido dos Trabalhadores, para José Dirceu (ex-ministro) e para Lula. Sendo que a parte do Lula seria gerenciada por Palocci. Ele (Vaccari) afirmou isso para mim e eu conversei com o Barusco.

Eu disse: ‘Olha, Barusco, você não está lidando com peixe pequeno. Está lidando com peixe graúdo’. Todos os estaleiros se comprometeram com Barusco para pagar”, relatou Duque.

Vaccari, de acordo com o exdiretor da Petrobrás, tratava sobre valores com o “doutor Antonio”, “porque Lula havia encarregado Palocci para cuidar do assunto”. Duque disse ainda que o então tesoureiro não concordou com a divisão da propina proposta por Barusco.

“Ele (Barusco) propôs uma divisão de 0,5% para a ‘Casa’ e metade para o partido”, afirmou o ex-diretor. “Casa” era uma referência aos dirigentes da Petrobrás.

“Vaccari diz: ‘Olha, a posição é de um terço para a ‘Casa’ e dois terços para o partido’. Aí o Barusco disse que era injusto e reclamou. Eu intervim: ‘Calma, você pode ser tirado daí e ficar com zero, melhor não reclamar’.

Ficou certo um terço para a ‘Casa’ e dois terços para o PT.” ‘Italiano’. O relato de Duque vai ao encontro do que disseram delatores da Odebrecht sobre a participação de Palocci no esquema na Petrobrás. Segundo Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, Palocci era o “Italiano” na planilha do Setor de Operações Estruturadas, o “departamento de propina” da empresa. / LUIZ VASSALLO, VALMAR HUPSEL FILHO e RICARDO BRANDT

 

DEPOIMENTO

"Ficou claro para mim que ele (Lula) conhecia tudo.”

 

"Eu tive, após a saída da Petrobrás, três encontros com Lula, um em 2012, um em 2013 e o último em 2014. No encontro de 2012, para mim ficou muito evidente, fiquei surpreendido com o conhecimento que ele tinha sobre esse projeto de sondas.”

 

"Eu conversei com o (ex-tesoureiro do PT João) Vaccari, que eu queria agradecer pelo período que eu passei na Petrobrás. Ele (Lula) começou a fazer algumas perguntas sobre a questão das sondas, uma delas porque não tinha sido aprovado ainda. ‘Presidente, eu não sei responder, eu estou fora da empresa’.”

 

"Aí teve um segundo encontro que, da mesma maneira, ele (Lula) fez perguntas sobre sondas, porque não estava recebendo até então, em 2013. Perguntou se eu sabia por que as empresas não estavam pagando, eu não soube responder, ‘também não acompanho isso’.”

 

"(O terceiro encontro com Lula, em 2014,) foi no aeroporto de Congonhas, no hangar da TAM. Eu tenho passagem.”

 

"Nessas três vezes ficou claro, muito claro para mim, que ele tinha pleno conhecimento de tudo, tinha o comando.”

 

"‘Vaccari é da criação do PT, salvo engano. Vaccari foi apresentado como homem do presidente Lula, que iria cuidar dos interesses das empresas que atuavam junto à Petrobrás, interesses do presidente Lula, interesses políticos.”

 

"Os dois terços do partido, Vaccari me informou que iriam para o Partido dos Trabalhadores, para José Dirceu e para Lula. Sendo que a parte do Lula seria gerenciada por (Antonio) Palocci.”

 

"Ele (Lula) me pergunta se eu tinha uma conta na Suíça com recebimentos da (multinacional) SBM.”

 

"Eu falei não, não tenho dinheiro da SBM nenhum, nunca recebi dinheiro da SBM. Aí ele vira pra mim, fala assim ‘olha, e das sondas tem alguma coisa?’ E tinha né, (mas) eu falei não, também não tem.”

 

"Se for fazer uma comparação com o teatro, da situação que a gente vive, sou um ator, tenho papel de destaque nessa peça, mas não sou nem o diretor, nem o protagonista dessa história.”

Renato Duque

EX-DIRETOR DE SERVIÇOS DA PETROBRÁS

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45126, 06/05/2017. Política, p. A5.