Título: Emergentes já sofrem
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 26/12/2011, Economia, p. 9
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, fez um alerta também para os países emergentes, afirmando que eles já estão sendo afetados pelas turbulências da Zona do Euro. Ao citar Brasil, China e Rússia, ela foi categórica: "Esses países, que tinham sido os motores da economia mundial antes da crise, vão sofrer com a instabilidade", disse, em entrevista publicada ontem pelo diário francês Journal du Dimanche.
Análises sombrias sobre os efeitos do imbróglio europeu na economia global têm sido cada vez mais frequentes. Uma das mais pessimistas é a do Banco Itaú, que prevê uma queda de 1,1% do Produto Interno Bruto (soma da produção de riquezas) dos 17 países da Zona do Euro em 2012. Essa forte retração, segundo o banco, terá impacto considerável sobre a economia brasileira, que, depois de crescer 7,5% em 2010, terá uma expansão de apenas 2,8% neste ano e de 3,5% em 2012.
Em relatório divulgado na semana passada, a instituição lembra que o país estagnou no terceiro trimestre. "A economia está desacelerando e deverá continuar nesse ritmo. As exportações, por enquanto, não foram afetadas pela queda na atividade econômica global. Abaixo desse cenário nebuloso, a demanda doméstica não deve responder rapidamente aos estímulos do governo", alerta o chamado "Livro Laranja", assinado pelo economista-chefe da instituição, Ilan Goldfajn.
A estimativa do Itaú para a Zona do Euro é bem pior que a da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que espera que o bloco ainda cresça 0,4% no próximo ano. Para o banco, em 2012 o PIB global deve avançar 2,7%, o dos Estados Unidos, 1,5% e o da China, 7,8%, bem abaixo do patamar dos últimos anos.
Goldfajn lembra que a redução do crescimento da China, que absorve 16,5% das exportações brasileiras, terá um impacto importante nos preços das commodities, já que as cotações dessas mercadorias (minérios e produtos agrícolas negociados no mercado global) caem 5,3% a cada queda de 1% no PIB chinês. O estudo observa ainda que as condições de crédito estão se deteriorando, principalmente lá fora.