Título: 600 mil novos consumidores
Autor: Borba, Julia
Fonte: Correio Braziliense, 26/12/2011, Cidades, p. 17

Com a ascensão socioeconômica da classe C, dentro de 10 anos o DF terá 2,2 milhões de pessoas aptas a comprar. Sete shoppings irão se instalar em cidades afastadas do Plano Piloto, onde as lojas de rua serão cada vez mais segmentadasNotíciaGráfico

O comércio brasiliense deve manter um forte ritmo de crescimento ao longo dos próximos 10 anos, tanto no varejo quanto no atacado. Impulsionado pela alta renda dos brasilienses, o setor continuará atraindo investimentos, principalmente de empresas voltadas para os segmentos de luxo. A previsão é de que o Distrito Federal, que já possui um shopping para cada grupo de 100 mil habitantes, ganhe pelo menos mais sete centros de compras, espalhados por regiões administrativas mais distantes do Plano Piloto. Nas entrequadras, ganharão cada vez mais espaço as ruas temáticas, como as já existentes ruas das farmácias, das elétricas e da moda.

A tendência é que o comércio se aproxime dos diferentes públicos, principalmente devido à ascensão da classe C. A expectativa é que o público consumidor, hoje de 1,6 milhão de pessoas, chegue a 2,2 milhões em 2020, um crescimento de 37,5%. Com trânsito caótico e vida corrida, o consumidor dará mais atenção às lojas mais próximas de sua casa ou de seu trabalho. A expansão do comércio deve ajudar o DF a reduzir sua taxa de desemprego, atualmente em 11,9%. De acordo com previsão do Sindicato do Comércio Varejista do DF, haverá um crescimento de 20% no total de empregados no setor, com a criação de 16 mil vagas. O crescimento do total de lojas deve ser mais tímido, girando em torno de 10%.

Para o professor de administração da UnB Jorge Pinho, os indícios de que a concepção inicial para o comércio da cidade não atende mais às necessidades da população estão claros. Tanto que, aos poucos, as tradicionais entrequadras comerciais estão sendo moldadas à maneira brasiliense de viver. Por isso, nos próximos anos, a adaptação para o novo modelo de disposição das lojas deve ficar ainda mais evidente. "Se imaginava, de início, que uma rua atenderia toda a superquadra. As lojas, voltadas para os edifícios, teriam os serviços básicos dispostos lado a lado. Mas, com o crescimento da população e do próprio comércio, não é possível servir apenas a um local específico", justifica.

Na rede Além da migração natural de determinados setores para áreas específicas da cidade, tomando ruas completas e também centros comerciais, outra transformação do segmento deve ocorrer pelo meio eletrônico, que hoje já cresce, em média, de 30% a 40% ao ano. O hábito de comprar pela internet estará cada vez mais enraizado na população, facilitado pelo acesso à internet dos aparelhos móveis, como celulares e tablets. No Distrito Federal, mais da metade dos domicílios têm acesso à web (52,9%), o maior percentual do país. Além disso, quase um milhão de brasilienses já acessam a rede mundial por meio de celulares ou tablets.

O diretor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Câmara-e.net), Gerson Rolim, aposta em crescimento do setor. "É um segmento multimilionário, alavancado pelas tecnologias da informação. Temos uma previsão de 40 milhões de conexões fixas no Brasil em 2018 e 120 milhões na móvel. Hoje, temos 15 milhões de fixas e 3 milhões na móvel", afirma.

Tudo isso monta um cenário positivo para o universo virtual, que, segundo o especialista, não compete com as lojas de rua. "Chamamos isso de cruzamento de canais. Quando a estratégia das empresas é benfeita, os meios para o acesso do consumidor são ampliados e convergem. Ou seja, dispor de catálogos, telefone, loja física e virtual só ajuda a aumentar as vendas. Não há rivais", diz Rolim.

Nos próximos 10 anos, novas ferramentas de fidelização do clientes também ganharão espaço, de forma a deixar o relacionamento mais fácil. "As lojas terão cadastro de itens adquiridos anteriormente, quem é esse cliente, onde ele está, quais são os possíveis interesses. Tendo isso, fica mais fácil levar para cada pessoa o que ela procura, sem perda de tempo, de maneira assertiva", ressalta o diretor da Câmara-e.net.

Clóvis Lacerda é supervisor de vendas de uma rede de calçados que nasceu em Brasília há 13 anos. Ele acompanhou as mudanças no comércio da cidade e no poder de renda do público-alvo, que são as classes C, D e E. "Começamos então a nos espalhar pelo país. Estamos em três estados, temos 60 lojas e pretendemos dobrar de tamanho até 2022", diz. Para ele, o principal desafio será justamente se adaptar às novas demandas do público virtual. "Os nossos clientes estão ganhando mais dinheiro, estão tendo cada vez mais acesso à internet. Estamos discutindo como chegar até essas pessoas."

A companhia, que de início comprava os sapatos prontos e revendia, começou a intensificar também a produção própria. "A maior parte dos produtos chegam do Sul, do Nordeste e do estado de São Paulo. O que nós queremos é que a produção da loja acompanhe o nosso crescimento e ganhe mais espaço, amplie a indústria em Brasília, contratando mais funcionários, gerando mais emprego", afirma.

Palavra de especialista Crescimento para todo lado

"Imaginar Brasília daqui a 10 anos significa vislumbrar um comércio que se espalha por áreas que hoje estão em desenvolvimento, como o Noroeste ou as regiões administrativas mais distantes e cada vez mais populosas. As empresas seguem o fluxo populacional. A previsão é de que tenhamos, em 10 anos, 20% a mais de lojas. São aproximadamente 48 mil hoje em dia. Na mesma proporção crescerá o número de vagas para os trabalhadores, que hoje ultrapassam 80 mil no comércio. Claro que temos de levar em conta o boom das vendas on-line, que de alguma forma podem impactar negativamente o comércio físico. Mas não há como imaginar que essas vendas virtuais impedirão um crescimento no faturamento, por exemplo. Temos mais de 1,6 milhão de pessoas consumindo no DF, teremos algo em torno de 2,2 milhões em 10 anos, sendo que o poder de compra, principalmente das classes mais baixas, é ascendente. Shoppings de porte pequeno a grande somam mais de 27 hoje e teremos pelo menos 34 no futuro, construídos também fora do centro e nos mantendo como a cidade com maior número de shoppings por habitante no país."

Antônio Augusto de Moraes, Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista- DF)