E se Dilma tivesse vencido a batalha do impeachment?

Alberto Bombig

15/05/2017

 

 

 

Dilma Rousseff está reunida com seus auxiliares de confiança, vários deles citados na lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo. O tema é o pronunciamento que a presidente fará para marcar o aniversário de um ano da vitória no processo de impeachment, ocorrida em 12 maio de 2016, quando o Senado barrou o afastamento dela.

O titular da Fazenda, Nelson Barbosa, tenta falar, mas é contido por Dilma. “Vou retomar a promessa de reformar a Previdência, vou culpar a Lava Jato e o cenário internacional pela crise econômica. Quem sabe o pessoal se acalma e a gente escapa de outro panelaço”, diz ela.

Jaques Wagner, enquanto sacode nervosamente seu Rolex, lembra que é preciso uma menção elogiosa ao PMDB, afinal, passado o impeachment, o partido retomou seus cargos no governo e Renan Calheiros virou ministro.

Nesse instante entra na sala José Eduardo Cardozo, com semblante carregado. “Presidenta”, diz ele, “o Fachin acaba de liberar o conteúdo das delações do João Santana e da Mônica Moura e, segundo me informaram, ela falou de uma história de um e-mail secreto… É melhor cancelar a comemoração”, aconselha.

Começam a pipocar as primeiras notícias: Dilma tratou de pagamentos ilegais dentro do Alvorada, diz Mônica Moura; Dilma tinha e-mail secreto para avisar marqueteiros sobre Lava Jato, afirmam delatores; Dilma sugeriu que casal transferisse contas da Suíça para Cingapura.

“A oposição já nos acusa de crime, o povo toma de novo as ruas, informações dão conta de que a Procuradoria-Geral prepara uma denúncia, o relatório do TSE pedirá a cassação da chapa e o PMDB recolhe assinaturas para outro impeachment”, diz Cardozo.

“Já sei, convoquem artistas e intelectuais para dizerem que sou honesta, liguem para a Dilma Bolada e mandem ela fazer uma piada com os golpistas”, ordena Dilma.

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Odebrecht vai depor sobre Peru e México 

Jamil Chade

15/05/2017

 

 

MPF ouvirá nesta semana ex-presidente de construtora baiana e também Léo Pinheiro para ajudar em investigações na América Latina

Após as delações do ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht e do ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, Léo Pinheiro, sobre os esquemas de corrupção ligado às construtoras no Brasil, os empresários começam a ser questionados também sobre esquemas de corrupção na América Latina.

O Ministério Público Federal atenderá nesta segunda-feira, 15, a um pedido de cooperação do Peru e colherá depoimentos dos executivos sobre o envolvimento de suas empresas no sistema político em Lima. Na quinta-feira, Marcelo voltará a ser ouvido, em um acordo de cooperação com o México.

A medida inaugura, na avaliação de procuradores estrangeiros, uma fase inédita de cooperação intensa entre Brasil e países vizinhos sobre o papel das construtoras brasileiras nos sistemas políticos da região.

A Odebrecht, que reconheceu o pagamento de subornos milionários a políticos e funcionários em troca de licitação de obras, desembolsou no Peru US$ 29 milhões em propinas entre 2005 e 2014. O caso coloca sob investigação os governos de Alejandro Toledo, que está foragido da Justiça, além de Alan García e Ollanta Humala.

Ex-presidente da maior construtora do Brasil, Marcelo já revelou, em delação premiada à Operação Lava Jato, que o Setor de Operações Estruturadas – departamento da propinas – do grupo pagou US$ 3 milhões para a campanha eleitoral que elegeu, em 2010, Humala presidente do Peru.

O líder do Partido Nacionalista Peruano contou com assessoria do marqueteiro do PT João Santana, preso e delator na Lava Jato. De acordo com a delação de Marcelo, o pagamento à campanha de Humala foi intermediado pelo ex-ministro Antônio Palocci, também preso preventivamente por decisão do juiz federal Sérgio Moro.

Em recente entrevista, o atual presidente do Peru, Pedro Paulo Kuczynski, admitiu que a economia nacional deve sofrer grande impacto em razão da paralisação de projetos da Odebrecht no país. Segundo ele, as obras serão vendidas ou licitadas novamente.

Em relação ao México, Marcelo voltará a ser ouvido para dar mais informações sobre trechos de sua delação. Em depoimento, um nome revelado foi o de Emilio Lozoya, que teria recebido US$ 5 milhões quando era presidente da Pemex, a estatal do petróleo do México, como contrapartida a benefícios indevidos obtidos pela Odebrecht.

Falsos contratos. Pinheiro deve ser questionado sobre as informações prestadas nas delações de Roberto Trombeta em 2015, contador do caixa 2 da OAS, em que ele relatou a movimentação de dinheiro ilegal da empreiteira no Peru.

Trombeta disse ter lavado R$ 14,6 milhões para a OAS no Peru e também no Equador, abrindo empresas offshores e fazendo falsos contratos. O ex-funcionário contou que o caminho usado foi uma empresa no Chile, que emitiu um contrato de US$ 6,1 milhões por “serviços fictícios de consultoria técnica”.

Segundo o depoimento de Trombeta, a empresa transferiu esses recursos à espanhola DSC Workshop Obras Construcciones e Promociones SL, que recebeu US$ 5.996.250.

O dinheiro teria ainda transitado pela conta de uma empresa holandesa até chegar à conta de outra empresa, a Kingsfield. De acordo com Trombeta, a Kingsfield tinha conta no Banco de Andorra (BPA), onde recebeu o total de US$ 5.760.250.

Ligação. Marcelo Odebrecht reconheceu ter pagado US$ 3 milhões para a campanha de Humala, ex-presidente do Peru

PONTOS-CHAVE

O alcance da construtora fora do Brasil

Pelo mundo

A Odebrecht distribuiu propinas de R$ 2,6 bilhões em 12 países da América do Sul, América Central e África, segundo o Departamento de Justiça dos EUA.

Países

Investigação aponta propina da empreiteira por obras na Argentina, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru e Venezuela.

Peru e México

A Odebrecht, diz o órgão dos EUA, pagou R$ 130 milhões a agentes públicos dos países na época em que venceu licitações para construir gasodutos.

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Delator, ex-gerente da Petrobrás terá de devolver R$ 90 milhões

Josette Goulart

15/05/2017
 
 
Pedro Barusco relatou propinas na Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a compra de sondas da qual foi diretor

O ex-diretor da Sete Brasil Pedro Barusco terá de devolver todo o dinheiro que obteve de propinas de contratos com estaleiros e também o que recebeu de bônus como dirigente da empresa. A decisão foi tomada na sexta-feira pela juíza Maria da Penha Nobre Mauro, da 5.ª Vara Empresarial do Rio. A estimativa é de que os valores a serem devolvidos, atualizados, girem em torno de R$ 90 milhões.

Em sua sentença, a juíza rejeitou os pedidos dos advogados de Barusco, alegando um ponto decisivo: “há confissão”, disse. Barusco fez um acordo de delação premiada em que relatou o esquema de propinas na Sete Brasil, criada para gerenciar a compra de sondas para o pré-sal. Segundo Barusco, os cinco estaleiros contratados e que forneceriam as 28 sondas para a empresa pagaram propinas.

No próprio processo que corre na Justiça do Rio, Barusco confessou o recebimento das propinas. Com isso, não haveria sentido em produzir qualquer nova prova ou chamar testemunhas ou mesmo inserir o Ministério Público Federal na causa, segundo a juíza.

Barusco também tentou alegar que já devolveu todo o dinheiro à Petrobrás, no âmbito do acordo de delação com o MPF. O ex-diretor da Sete havia sido anteriormente diretor da Petrobrás. Mas a juíza foi taxativa em dizer que esse será um problema entre ele e a Petrobrás e que a parte que foi obtida enquanto funcionário da Sete terá de ser devolvida à Sete.

A causa foi patrocinada pelo escritório de Sérgio Bermudes, contratado pela Sete Brasil. O processo tem por base um dispositivo da Lei das S.A.s que determina que o executivo é obrigado a devolver à companhia todo o benefício que recebeu em função do cargo. “Não são só os mimos, as dádivas”, disse a juíza, entendendo que também as propinas foram obtidas pelo cargo que ocupava na empresa.

Bônus. Além disso, ficou determinado que Barusco devolva cerca de R$ 2 milhões, a serem corrigidos pela Selic, que foram pagos a título de bonificação pela sua saída da Sete. Na época, o sucesso da empresa era atribuído a Barusco, João Ferraz e Eduardo Musa, todos ex-Petrobrás que implementaram o modelo de negócio da companhia. Ferraz e Musa também estão sendo processados pela Sete.

Segundo as delações, o valor total de propinas pagas pelos estaleiros chegaria a US$ 224 milhões, para fazer frente aos 28 contratos de cerca de US$ 800 milhões cada um. Os estaleiros eram o Enseada, da Odebrecht e UTC; EAS, da Camargo Corrêa; Rio Grande, da Engevix; e os estrangeiros Jurong e BrasFels. Só para Barusco teriam sido pagos US$ 24 milhões. O valor a ser ressarcido à Sete, no entanto, precisa ser apurado na liquidação do processo judicial. Ainda cabe recurso e o advogado de Barusco, Antonio Figueiredo, não quis comentar.

A Sete Brasil está em recuperação judicial. Seus sócios BTG Pactual, os fundos de pensão Petros e Funcef e os bancos Santander e Bradesco já jogaram integralmente os R$ 8 bilhões investidos a prejuízo, assim como os credores - entre eles, todos os grandes bancos, que emprestaram R$ 12 bilhões à companhia.

‘Há confissão’. Barusco admitiu propinas em delação; juíza rejeitou pedidos de advogados

 

O Estado de São Paulo, n. 45135, 15/05/2017. Política, p. A6