Dilma pediu ‘paciência’ com caixa 2, diz Mônica

Rafael Moraes Moura

14/05/2017

 

 

 

 

Segundo delatora, ex-presidente deu resposta após ser cobrada por marqueteira de dívida de R$ 25 milhões relativa a acordo de campanha

 

 

 

A presidente cassada Dilma Rousseff pediu que Mônica Moura, mulher do ex-marqueteiro do PT João Santana, tivesse “paciência” com os atrasos nos pagamentos da Odebrecht, disse a empresária em delação ao Ministério Público Federal (MPF).

Segundo Mônica, a empreiteira não pagou R$ 25 milhões via caixa 2 que haviam sido acertados por serviços de marketing político prestados à campanha de Dilma à reeleição em 2014.

“Quando chegou o final de 2014, a campanha acabou, nós ganhamos (a eleição), a Lava Jato estava adiantada. E aí esses R$ 25 milhões nunca foram pagos, a Odebrecht já estava com medo, tinha confusão em torno disso”, disse Mônica ao MPF.

De acordo com a delatora, o assunto foi discutido com Dilma em vários encontros no Palácio da Alvorada em 2015. “Você precisa ter paciência”, disse Dilma à empresária, conforme depoimento.

“Essa campanha não nos deu um real de lucro”, afirmou Mônica.

O valor combinado para o marketing político de Santana foi de R$ 70 milhões na campanha de 2014. Outros R$ 35 milhões seriam pagos pela Odebrecht via caixa 2 – mas apenas R$ 10 milhões foram pagos, segundo a empresária.

 

Defesa. Em nota enviada à imprensa, a assessoria da presidente cassada disse que a petista “nunca negociou doações eleitorais ou ordenou quaisquer pagamentos ilegais a prestadores de serviços em suas campanhas, ou fora delas”. “São mentirosas e descabidas as narrativas dos delatores”, informou a assessoria de Dilma. A Odebrecht, por sua vez, informou que “está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua”.

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‘Todo mundo burro’

Rafael Moraes Moura

14/05/2017

 

 

Dilma Rousseff era uma presidente da República que não confiava em ninguém e achava todo mundo “burro”, disse a empresária Mônica Moura em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF). A delação premiada da mulher do ex-marqueteiro do PT João Santana relata detalhes da convivência da petista com o casal. Eles foram responsáveis pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014.

“A Dilma não confia em ninguém e tem um problema grave: ela não confia na capacidade de ninguém.

Ela acha que todo mundo é burro, é incapaz”, disse Mônica aos procuradores da Lava Jato.

“Ela se cercava de um monte de gente, não quero ser grosseira, mas de gente sem capacidade, porque é aquele tipo de pessoa que não confia nas pessoas: não se cerca de gente brilhante, porque tem medo de ser ofuscada, entendeu?”, relatou Mônica.

A relação de Dilma com Santana era diferente, frisou a empresária, já que a petista tinha confiança na capacidade do marqueteiro de “pensar”. Além de dar conselhos à então presidente, ele elaborava discursos em rede nacional de rádio e televisão – um palanque eletrônico usado com frequência para anunciar medidas de impacto – e batizava programas do governo petista.

“Ela recorria a ele sempre”, disse Mônica.

Segundo a empresária, o casal não cobrava pelo trabalho nos pronunciamentos, apenas repassando para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República os custos de produção com a equipe, luz e câmera. A logomarca criada por Santana ao governo Dilma foi um “presente”.

Sobre a primeira campanha de Dilma à Presidência, em 2010, a empresária reconheceu que foi uma eleição “dificílima”, já que se apostava na derrota da petista. “Era impossível, um poste realmente para eleger”, afirmou. 

 

‘Poste’. Para Mônica, eleger Dilma foi ‘difícil’

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45134, 14/05/2017. Política, p. A5.