Primeira melhora

Míriam Leitão

29/07/2017

 

 

Primeira melhora, mas em ritmo ainda lento. O desemprego teve “a primeira queda estatisticamente significativa desde o último trimestre de 2014”, segundo o IBGE. A situação do mercado de trabalho continua dramática, mas o número veio melhor do que o esperado e confirma sinais já captados pelo Caged. A comemoração, no entanto, durou pouco porque em seguida o BC divulgou que a dívida pública é recorde e a crise fiscal permanece sem solução. Depois de atingir 14,2 milhões de brasileiros no primeiro trimestre, o número de desempregados caiu para 13,5 milhões no trimestre encerrado em junho. Foram 690 mil pessoas que conseguiram algum tipo de trabalho nesse período, agrande maiorias em carteira assinada ou por conta própria, o que mostra que a recuperação tem sido frágil, lenta e gerado vagas de baixa qualidade. Quando a comparação é feita com o mesmo período de 2016, o número é 16% maior, o que significa 1,6 milhão de brasileiros amais sem emprego. O grau de melhora se mede em negativos menores. Assim: o primeiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado, mostra uma alta de 2,8 pontos percentuais. Se a comparação for feita entre o segundo trimestre deste ano e o do ano passado, a alta é de 1,7 ponto percentual.

Em suma, há mais desempregados agora do que no ano passado, mas há menos do que no primeiro trimestre. Às vezes, o desemprego cai porque há tanto desânimo coma situação econômica que reduza procura de emprego. Não foi o que aconteceu desta vez. O total de pessoas trabalhando e procurando emprego, a população economicamente ativa, aumentou. Mesmo assim, o desemprego caiu. A Rosenberg Associados chamou atenção para isso no relatório que fez. Houve crescimento da taxa de participação no mercado de trabalho, ou seja, o número de pessoas dispostas a trabalhar, que foi a 61,7%, atingindo um pico na série histórica. Isso quer dizer que a queda do desemprego não foi causada pelo desalento, quando as pessoas simplesmente desistem de procurar trabalho. Ela considerou que isso é um “ótimo sinal de recuperação econômica”. Ontem foi o dia em que consultorias e bancos reviram para melhor as projeções de queda do desemprego. A Rosenberg revisou para de 12,8% para 12,2% sua estimativa para o final do ano. O economista Bruno Ottoni, especialista em mercado de trabalho na Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que a projeção de desemprego da entidade, hoje em 12,7%, também deve ser revista para baixo, após o dado divulgado ontem. Ele diz que os números dessazonalizados pela FGV apontam que o mercado de trabalho está melhorando pelo terceiro mês consecutivo. Desde março, a taxa de desemprego recuou de 13,3% para 12,9% nessa comparação. (...)

—O que me preocupa bastante é o crescimento do trabalho por conta própria, que é muito volátil. Depende apenas da decisão da pessoa. Se a queda do desemprego fosse puxada pelos sem carteira, seria melhor, porque pelo menos se veria a decisão do empregador de contratar primeiro de forma informal, para depois formalizar o vínculo — disse. Desde março, o emprego por conta própria aumentou em 400 mil, segundo Ottoni, o mesmo número que subiu os sem carteira. O que chama atenção nos dados do IBGE é o crescimento de 420 mil empregados no setor público, em plena crise fiscal. Já os empregos com carteira assinada ficaram praticamente estáveis. Trabalho por conta própria pode ser a pessoa que vira motorista de Uber, ambulante, ou qualquer outra atividade que depende apenas de si. Às vezes, pode ser a realização de um projeto que termina virando uma empresa, um negócio. Mas nestes tempos de recessão, e comas dificuldades de uma empresas e estabelecer, é mais raro. O out rodado de ontem da economia mostra como o país está em situação precária. A dívida pública continua subindo deforma acelerada e já atingiu 73% do PIB. E não há sinal de melhora alguma no horizonte coma sucessão de déficits primários que o país tem colecionado e a chance cada vez menor de o governo Temer conseguir aprovar qualquer reforma significativa na Previdência.

O globo, n.30672 , 29/07/2017. ECONOMIA, p.26