Mônica diz que pagou ‘sósia’ e cabeleireiro

Rafael Moraes Moura / Breno Pires / Beatriz Bulla / Fábio Fabrini

12/05/2017

 

 

Em delação ao Ministério Público Federal, mulher de João Santana afirma que pagamentos eram feitos com ‘valores recebidos por fora’

 

 

 

A presidente cassada Dilma Rousseff ficou “furiosa” com a retirada do ar da página “Dilma Bolada” durante a campanha eleitoral de 2014, disse a empresária Mônica Moura ao Ministério Público Federal.

Segundo a delatora, a petista pediu que o problema fosse resolvido por meio de pagamento ao publicitário Jeferson Monteiro, responsável pelo perfil. Monteiro teria recebido R$ 400 mil para retomar a atividade da sósia da então presidente nas redes sociais.

Em julho de 2014, o publicitário desativou o perfil, que tinha cerca de 1,5 milhão de seguidores na época. As postagens foram retomadas seis dias depois.

Conforme anexo da delação de Mônica, Dilma não gostou da retirada da página “Dilma Bolada” do ar e exigiu que o problema fosse “imediatamente” resolvido pela Pólis Propaganda e Marketing, empresa de Mônica e de seu marido, o ex-marqueteiro do PT João Santana. A delatora contou ao Ministério Público Federal que ligou para Monteiro e ficou acertado que o problema seria resolvido.

“Mônica Moura utilizou parte dos pagamentos que recebia por fora em espécie (propina) e realizou o pagamento de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) ao publicitário em espécie, que reativou a página no dia 29 de julho do mesmo ano”, diz o anexo da delação da mulher de Santana.

A delatora disse ainda que, depois, comentou com o então tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva, que estava fazendo isso como um ato de boa vontade, pois o contrato da Pólis “não previa esse tipo de responsabilidade”.

Em despacho encaminhado ao ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que outros R$ 200 mil teriam sido pagos pela empresária Daniele Fonteles, da agência Pepper.

 

Kamura. Outro fato narrado por Mônica trata de um suposto pedido de Dilma para que o casal de marqueteiros também arcasse com os custos de seu cabeleireiro e de sua camareira, mesmo após o encerramento da campanha à reeleição. Mônica teria pago “diversas vezes” o cabeleireiro Celso Kamura, que atendeu a petista entre 2010 e 2014. O pagamento teria sido feito em dinheiro vivo entregue no escritório do cabeleireiro em São Paulo, “utilizando os valores recebidos por fora”.

De acordo com a delatora, a diária de Kamura – incluindo o deslocamento ao Palácio da Alvorada e serviços de cabelo e maquiagem – girava em torno de R$ 1,5 mil. O valor total desembolsado ao cabeleireiro teria chegado a R$ 40 mil.

 

Passagens. A mulher de Santana entregou ao Ministério Público Federal uma série de passagens aéreas emitidas em nome de Kamura. “Trabalhei para a produtora dela, sim, nas campanhas, era remunerado. Quem pagava, sinceramente eu não sei, porque não era eu quem recebia.

Qual o problema?”, disse o cabeleireiro ao Estado. “Eu nunca recebi, eu mesmo nunca peguei esse dinheiro.” Procurado pela reportagem, Jeferson Monteiro informou que não falaria. Em seu perfil pessoal no Facebook, o publicitário ironizou as acusações. “Alguém, por gentileza, me avisa onde que tenho que retirar a quantia porque estou com o aluguel atrasado e o telefone cortado.

Obrigado!”, escreveu.

Em nota, Dilma afirmou que “João Santana e Mônica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores”. Disse ainda que “acredita na Justiça e que a verdade será restabelecida”.

 

Redes sociais. Dilma durante encontro com o publicitário Jeferson Monteiro, responsável pelo perfil ‘Dilma Bolada’

 

Serviços prestados

“Trabalhei para a produtora dela, sim, nas campanhas. Quem pagava, eu não sei.”

Celso Kamura

CABELEIREIRO

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Negociação com Delcídio foi em sauna, diz Santana

Fábio Fabrini / Rafael Moraes Moura

12/05/2017

 

 

O marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, a empresária Mônica Moura, afirmaram em delação premiada que o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) exigiu que parte dos pagamentos pela sua campanha ao Senado, em 2002, fosse feita via caixa 2, por meio de depósito no exterior.

Conforme anexo da colaboração do casal, a negociação foi feita em reunião dentro da sauna da casa do ex-congressista, em Campo Grande. Na época, ele era secretário de Estado em Mato Grosso. “João Santana foi convidado, de forma inusitada, a conversar dentro da sauna, pois claramente Delcídio visava a preservar informações quanto a valores e forma de pagamento”, diz o documento.

O suposto caixa 2 não consta do acordo de delação firmado por Delcídio com a Lava Jato.

Procurado pelo Estado, o advogado do senador cassado, Antônio Figueiredo Basto, disse que seu cliente não reconhece os fatos relatados pelo casal como verdadeiros. Por esse motivo, segundo ele, o episódio não foi tratado na colaboração.

Delcídio foi preso no fim de 2015, após ter sido gravado numa conversa com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, em suposta tentativa de atrapalhar a Lava Jato. Ele foi solto depois de confessar ilícitos.

Santana e Mônica disseram que o marketing da campanha de Delcídio foi orçado em R$ 4 milhões. Metade via caixa 2. 

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Fachin manda investigação sobre campanhas de Dilma e Lula a Moro

Breno Pires / Rafael Moraes Moura / Beatriz Bulla / Fábio Fabrini

12/05/2017

 

 

Depoimentos do casal de marqueteiros serão enviados à Justiça Federal em 5 Estados, além de cortes superiores

 

 

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o envio de trechos das delações de João Santana e Mônica Moura que tratam do uso de caixa 2 nas campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, ao juiz federal Sérgio Moro.

Além da Justiça Federal no Paraná – que receberá metade –, os pedidos de investigação feitos pela Procuradoria-Geral da República serão enviados a outros quatro Estados e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Alguns casos ficarão com no próprio Supremo.

Sem contar os estrangeiros, 16 políticos brasileiros são citados em 21 petições – a 22.ª não teve o conteúdo divulgado.

A Justiça Federal no Rio Grande do Norte, Sergipe, Mato Grosso do Sul e São Paulo receberão um caso cada uma.

Outro caso que Fachin enviou a Curitiba envolve a campanha do atual deputado federal Patrus Ananias (PT-MG) à prefeitura de Belo Horizonte em 2012, apesar de ele ter cargo com prerrogativa de foro no Supremo.

Como a campanha de Patrus também tem menções ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), Fachin autorizou o envio de informações ao STJ.

 

Foro privilegiado. Há, além de Patrus, cinco políticos com prerrogativa de foro no Supremo envolvidos em possíveis crimes, de acordo com a PGR. São os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Gleisi Hoffmann (PTPR) e Marta Suplicy (PMDBSP) e os deputados Zeca do PT (SP) e Vander Loubet (PT-MS).

No caso destes dois últimos, a PGR ainda não informou se pedirá um novo inquérito ou se acrescentará os fatos narrados e documentos em investigações que já existem contra os dois deputados.

Os indícios de pagamento ilícitos relacionados à campanha de 2008 de Gleisi à prefeitura de Curitiba, por já haver investigação semelhante, serão juntados ao inquérito específico que tramita no Supremo. 

 

Petições

16 políticos brasileiros são citados em 21 petições da Procuradoria-Geral da República; Justiça Federal no Paraná receberá 11 delas

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45132, 12/05/2017. Política, p. A6.