Lula vai a Curitiba em avião de ex-ministro

Fabio Serapião e Nicolas Shores
11/05/2017

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Curitiba na manhã desta quarta-feira a bordo de um jatinho. A aeronave, um Cessna Aircraft prefixo PR BIR, é do ex-ministro Walfrido Mares Guia.

Ex-titular de Relações Institucionais e Turismo, entre 2003 e 2007, Mares Guia é empresário do setor de educação e de saúde. É dono da Kroton, uma das maiores empresas do País no setor educacional.

Segundo o site da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), a aeronave está em nome da Samos Participações, empresa que tem o ex-ministro como sócio.

Empresas que oferecem serviço de táxi aéreo em jatos no Aeroporto de Congonhas cobram entre R$ 15 mil e R$ 20 mil pelo trajeto de ida e volta até o Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, de acordo com levantamento feito pelo Estado.

Se tivessem viajado em um voo comercial, Lula e sua comitiva teriam pago, em média, R$ 1.100 por pessoa pelos trajetos de ida e volta, caso as passagens tenham sido compradas ao menos uma semana antes.

Não é a primeira vez que Mares Guia empresta uma aeronave ao ex-presidente. No ano passado, ao menos um deslocamento de Lula para Brasília foi feito em outro avião do empresário.

Mensalão mineiro. Em 2007, enquanto era ministro de Lula, Mares Guia foi acusado de participar do escândalo que ficou conhecido como mensalão mineiro, que envolvia a arrecadação irregular para a campanha ao governo de Minas do tucano Eduardo Azeredo.

A denúncia contra Mares Guia foi recebida, em 2009, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Após o STF decidir que apenas réus com foro privilegiado responderiam às acusações na Corte, o caso foi encaminhado para a Justiça de Minas. Na capital mineira, a juíza Neide da Silva Martins, da 9.ª Vara Criminal de Belo Horizonte, entendeu que as acusações de peculato e formação de quadrilha prescreveram em 2012, quando Mares Guia completou 70 anos. O ex-ministro sempre negou envolvimento no caso.

Procurado para tratar do empréstimo da aeronave, Mares Guia afirmou, por meio de nota, que não usaria o avião na quarta-feira e o colocou à disposição do ex-presidente.

A assessoria de Lula foi procurada, mas não respondeu até a conclusão desta edição.

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Cidade tem dia marcado por manifestações a favor de petista

Daniel Weterman, Ricardo Brandt, Ricardo Galhardo, Valmar Hupsel Filho e Julio Cesar Lima

11/05/2017

 

 

Desde o início da semana, 130 ônibus chegaram à capital paranaense; Lula se juntou ao ato após o depoimento

Apesar do clima de apreensão e de algumas ocorrências pontuais, as manifestações a favor e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva transcorreram ontem com tranquilidade na capital paranaense.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, 130 ônibus chegaram a Curitiba para acompanhar o depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, o que somaria um total de 7 mil pessoas.

O número de policiais envolvidos na operação foi de 1,7 mil.

Os apoiadores de Lula começaram o dia com uma marcha pela cidade, recepcionaram o petista no aeroporto Afonso Penna e se aglomeraram em frente ao prédio da Justiça Federal, palco do depoimento.

Após o fim da audiência, Lula se juntou aos manifestantes em um ato político realizado na Praça Santos Andrade, um dos cartões postais da cidade, que fica em frente Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O petista subiu ao palco ao lado ex-presidente Dilma Rousseff.

Ambos foram ovacionados pelos militantes, que gritaram “Fora Temer”, em referência ao presidente Michel Temer que assumiu o cargo após o impeachment de Dilma.

No início da tarde, a chegada de Lula à sede da Justiça Federal onde prestou depoimento foi calculada para ter ares de apoteose. O ex-presidente desceu do carro e percorreu, literalmente nos braços do povo, cerca de 50 metros até chegar à barreira de policiais que cercava o local. Após passar pelo bloqueio, o petista acenou para os apoiadores e entrou em um carro para ser conduzido ao encontro com Moro.

Assim que a audiência teve início, os manifestantes pró-Lula se deslocaram até a Praça Santos Andrade. Nem mesmo a fina chuva e o frio de 14.º C desmobilizaram os cerca de 5 mil militantes que passaram a tarde ao relento à espera do petista.

Deputados, senadores e governadores do PT e de outras legendas de esquerda também passaram o dia em Curitiba para dar apoio ao ex-presidente.

‘Pixuleco’. Em outro ponto da cidade – o Museu de Arte Moderna Oscar Niemeyer – cerca de 200 manifestantes protestaram contra o ex-presidente. Vestidos de verde e amarelo, ergueram um “pixuleco”, boneco inflável com 20 metros de altura no formato do ex-presidente em uma roupa de presidiário.

A pedagoga e artista plástica Vânia Dalmaz, uma dos coordenadores do Movimento Mais Brasil, disse que o dia é histórico e que esperava uma punição para Lula e todos os políticos denunciados pela Operação Lava Jato. “É uma data muito importante.

Essa audiência envolve um ex-chefe da Nação, o que mostra que podemos mudar este País e o juiz Sergio Moro deu início a isso”, disse.

Até o início da noite de ontem, a Polícia Militar do Paraná não havia registrado nenhuma ocorrência ou problemas maiores nos atos que ocorreram pela cidade. De acordo com o porta-voz da PM na operação montada para o depoimento, tenente Rafael Bittencourt, o caso mais grave foi a denúncia da explosão de rojões no acampamento do Movimento Sem Terra (MST), na região central, pela madrugada.

Segundo os militantes, os fogos destruíram quatro barracas e deixou duas pessoas feridas.

Uma das vítimas chegou a ser hospitalizada, após uma bomba ter estourado próximo à sua cabeça.

Outra, uma garota, teve ferimento nos olhos por causa da pólvora.

Para o coordenador da Frente Brasil Popular, Raimundo Bonfim, um dos organizadores das manifestações em apoio a Lula em Curitiba, o ataque ao acampamento se tratou de um “ato fascista”. “É um ato fascista contra um movimento que é pacífico. Depois nós é que somos os baderneiros”, disse. / DANIEL WETERMAN, RICARDO BRANDT, RICARDO GALHARDO, VALMAR HUPSEL FILHO e JULIO CESAR LIMA

1. Manifestantes participam de ato político na Praça Santos Andrade, em Curitiba;

2. Apoiadores do ex-presidente montaram um palco durante manifestação;

3. Grupo contra o ex-presidente protesta no Museu Oscar Niemeyer

Folha de pagamento

Deputados que foram ontem a Curitiba acompanhar o depoimento de Lula terão o dia de trabalho descontado. A medida foi anunciada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

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A culpa foi de Marisa

Eliane Cantanhêde

11/05/2017

 

 

Como estava escrito nas estrelas, o ex-presidente Lula disse que não pagou pelo triplex, não estava interessado nele, não poderia nem ir à praia (“só às segundas-feiras e nas Quartas-feiras de Cinzas”), “Dona Marisa” não gostava mesmo de praia e, afinal, o apartamento era pequeno e cheio de defeitos. Ah! E Lula não sabia de nada do que ocorria na Petrobrás nem no PT.

Então, quem sabia alguma coisa? Lula jogou o apartamento no colo da mulher dele, que já morreu e agora está no centro da Lava Jato. Marisa Letícia é quem estava interessada no triplex (para investimento?) e Lula só soube depois que ela tinha ido lá com o filho, mesmo depois da desistência da compra. Essas mulheres...

Moro não se intimidou e fez perguntas curtas, diretas, respaldadas por agendas, datas, fatos. Lula, ao contrário, parecia inseguro, sem a fluência e as sacadas típicas dele. Recorreu o tempo todo a “não sei”, “não lembro”, não tinha obrigação de saber que Renato Duque “operava” para o PT na Petrobrás e que Pedro Barusco roubava tanto que pôde devolver US$ 100 milhões à justiça.

O depoimento foi, tecnicamente, sobre o triplex, mas ele é só uma das materializações das relações promíscuas entre o ex-presidente e as empreiteiras. Por isso, Moro fez várias perguntas sobre Duque, Barusco e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Mais do que o triplex, o que complica Lula é o encontro com Duque num hangar em São Paulo. O que um ex-presidente queria com um ex-diretor da Petrobrás? E por que pediu a mediação de Vaccari, que nem era do governo nem da Petrobrás? Segundo Duque, Lula foi pedir para anular provas. Mas Lula disse que só queria saber se era verdade que Duque tinha contas milionárias no exterior. Ficou claro que, como não poderia negar o encontro, Lula adocicou a verdade. Adivinha com qual versão a Justiça trabalha?

 

O Estado de São Paulo, n. 45131, 11/05/2017. Política, p. A8