Título: Espanha aperta o cinto
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 31/12/2011, Economia, p. 10
Número dois do governo, a ministra Soraya Santamaría diz que "a situação é extraordinária"
Madri — O novo governo espanhol, do conservador Mariano Rajoy, anunciou ontem um pacote de medidas de rigor fiscal no valor de 8,9 bilhões de euros (US$ 11,53 bilhões) para combater o deficit público, que deve ficar próximo a 8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011. Entre as medidas, haverá elevação temporária de impostos, sobretudo para grandes fortunas, e a manutenção do congelamento dos salários dos funcionários públicos. O governo também proibiu a abertura de vagas para servidores. Recursos de ministérios também serão reduzidos. O objetivo é tirar a Espanha da linha de tiro que se abateu sobre a Europa.
"O primeiro dos pedidos adotados pelo conselho de ministros é um acordo de não disponibilidade (do gasto) no valor de 8,9 bilhões de euros", afirmou a vice-primeira-ministra e porta-voz, Soraya Sáenz de Santamaría. Número dois do governo, atrás da qual Rajoy preferiu se esconder para evitar ser o portador de más notícias, Soraya explicou que o deficit público será superior aos 6% anunciados pelo governo anterior, do socialista José Luis Zapatero, porque houve "desvio" de cálculo no rombo orçamentário espanhol, que se mostrou muito maior que o esperado. "Estamos diante de uma situação extraordinária e imprevista", o que exige fortes medidas de rigor, disse ela.
Entre as medidas, o congelamento do salário dos funcionários públicos se tornará a primeira queda de braço a ser enfrentada pelo governo de Rajoy. "Os funcionários públicos voltam a ser os bodes expiatórios para aliviar as contas deficitárias do Estado", disse o sindicato União Geral de Trabalhadores (UGT). Em 2010, ainda na gestão de Zapatero, a remuneração dos servidores já havia sido reduzida em 5%. O novo governo decidiu que a única exceção para contratações em toda a administração pública será nos serviços básicos de educação, saúde e forças de segurança.
Rajoy já havia anunciado que seu governo aplicará grandes cortes orçamentários para reduzir o deficit a 4,4% do PIB em 2012. Esses valores seriam de 16,5 bilhões de euros (US$ 21,34 bilhões) se o saldo negativo de 2011 permanecesse na casa dos 6%. Mas, mas se fosse maior, como ocorreu, a previsão era de que seriam aumentados em 10 bilhões de euros para cada ponto percentual adicional. O governo também anunciou que a alta de impostos sobre a renda será progressiva, de 0,75 a 7 pontos percentuais, conforme o salário. Assim, uma família que ganhe 400 mil euros brutos anuais pagará 20 mil euros a mais por ano em impostos.
Maior perda acumulada No último pregão do ano na Europa, as ações das empresas do continente subiram de forma generalizada ontem, mas fecharam 2011 com a maior queda acumulada desde que as tensões com a crise da dívida na Zona do Euro contaminaram o setor financeiro e ameaçaram a frágil recuperação econômica do bloco. O FTSEurofirst 300, principal indicador das bolsas europeias, fechou o dia com alta de 0,87%. Os mercados da Grã-Bretanha e da Alemanha encerraram mais cedo por conta do feriado de ano-novo. Em Londres, o pregão atingiu alta de 0,1%. Frankfurt subiu 0,85% e Paris avançou 1,03%. Madri, estimulada pelo pacote de cortes de gastos do governo, teve alta de 0,92%. Do outro lado do Atlântico, a Bolsa de Nova York caiu 0,57%. No Brasil, não houve pregão na Bolsa de São Paulo.