Desemprego é maior no Nordeste, mas perda de vagas é generalizada

Camilla Veras Mota e Robson Sales

19/05/2017

 

 

O mercado de trabalho continuou se deteriorando em todo o país no primeiro trimestre deste ano. Ainda que a piora seja disseminada, contudo, a intensidade varia entre as regiões. O Nordeste, por exemplo, manteve o ritmo forte de corte de vagas e reduziu o nível de emprego em 4,9% sobre o mesmo trimestre de 2016, aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Já o Sudeste, penalizado no início da crise pelo ritmo forte de demissões na indústria, arrefeceu o ajuste e registrou queda de 0,5%, na mesma comparação.

"A diferença de intensidade entre as regiões é significativa, mas o choque foi muito forte na ocupação", afirma o economista Fernando Duca, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Para ele, a estabilização do mercado de trabalho, esperada para o segundo semestre deste ano, pode ser postergada diante da atual crise política. Os investimentos, pondera, que ainda não davam sinais claros de melhora, devem se retrair diante do momento de incerteza.

Com eles, a perspectiva de novas contratações também tende a sumir do radar dos empresários. "Quando você tem uma crise como essa, em que não sabe quem vai ser o presidente amanhã, a tendência é de retração dos investimentos. Isso dificulta a retomada".

Os dados do primeiro trimestre ainda mostram que a pior situação é a do Nordeste, que tem "as piores taxas em praticamente qualquer critério". Entre o primeiro trimestre de 2014, antes do início da recessão, e o mesmo período de 2017, o nível da ocupação - a proporção de empregados dentro do total em idade para trabalhar - recuou de 51,6% para 45,8%. O número de desempregados nesse intervalo cresceu 75,1%, de 2,3 milhões para 4 milhões.

O quadro também é pior na região Norte, que acelerou o ritmo de corte de postos de trabalho. Entre janeiro e março, a ocupação recuou 4,2%, pior resultado da série. No quarto trimestre de 2016, a queda tinha sido de 3,5%, sempre na comparação com igual intervalo do ano anterior.

No Centro Oeste, o bom momento da agricultura não impediu que a ocupação recuasse 0,1% no período. Apesar do impacto positivo importante da supersafra na economia neste primeiro trimestre, o emprego no setor agrícola representa apenas 10% do total, ressalta Duca.

O Sudeste concentra 3,5 milhões dos 14,2 milhões de desempregados do país. A queda no total de ocupados nos primeiros três meses de 2017, entretanto, foi a menor em cinco trimestres, de 0,5%. Assim como nas demais regiões, o Sul experimentou aumento expressivo do desemprego, que saltou de 4,4% no primeiro trimestre de 2014 para 9,3% no mesmo período deste ano. A taxa, porém, continua sendo a menor do país.

Ajudado pela desaceleração da inflação, o rendimento médio real cresceu em todas as regiões. Subiu 4% no Nordeste, depois de recuar 3% na média em 2016, e 4,4% no Sul, após queda semelhante no ano passado. O comportamento mais benigno dos índices de preços aumenta o poder de compra dos salários, mas não necessariamente é boa notícia para o varejo. Com a queda forte no nível de emprego, a massa de rendimentos ainda encolhe no Nordeste e Norte, mantém-se relativamente estável no Sudeste e avança apenas no Centro Oeste e no Sul.

Os dados apresentados ontem pelo IBGE mostram ainda que o nível de subutilização da força de trabalho no país cresceu no primeiro trimestre. Na comparação com os últimos três meses de 2016, a taxa que soma o número de desempregados àqueles que trabalhavam menos horas do que gostariam ou que poderiam trabalhar, mas não estão no mercado avançou de 22,2% para 24,1%.

Ainda, uma em cada cinco desempregados procurava recolocação há pelo menos dois anos - 2,9 milhões, 20,4% do total. "Quando você tem uma crise que dura muito tempo, como essa que atravessamos, o tempo de permanência nessa fila acaba aumentando", diz o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4258, 19/05/2017. Brasil, p. A2.