De visual novo, Eike depõe à Justiça

 ANDRÉ DE SOUZA E JULIANA CASTRO

18/07/2017

 

 

Empresário presta depoimento por videoconferência à Justiça Federal do Distrito Federal em ação que tem Cunha e Funaro como réus

 O empresário Eike Batista reapareceu em público ontem pela primeira vez, desde que passou para a prisão domiciliar, em abril deste ano. Eike foi ouvido no Rio, por videoconferência, como testemunha de defesa do operador Lúcio Funaro em um processo que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal e que tem também como réu o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

 

Totalmente careca, o dono do grupo X mudou o visual de quando deixou o Complexo Penitenciário de Gericinó. Ele teve que raspar os cabelos quando foi preso, em janeiro deste ano, na Operação Eficiência, mas ao deixar a prisão o cabelo já tinha crescido nas laterais e na parte de trás da cabeça.

No depoimento, a defesa do empresário destacou que ele está prestando informações à Justiça, mas evitou falar da negociação para um acordo de colaboração premiada.

— Na verdade, Eike Batista vem prestando informações com vista ao auxílio da Justiça, mas essa informação neste momento não pode ser prestada — disse Fernando Martins, advogado do empresário, após o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, questionar se ele tinha algum acordo de colaboração homologado.

O juiz insistiu em saber se havia um acordo homologado. — Não, senhor — disse o advogado. Eike tem preparado anexos para propor um acordo de delação premiada em que citaria o ex-presidente Lula e o ex-governador Sérgio Cabral. O empresário também deve mencionar políticos com foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal. Por isso, o acordo tem que ser negociado com a Procuradoria-Geral da República.

Eike foi convocado como testemunha de defesa por Lúcio Funaro, apontado como operador de Cunha. O processo que tramita na Justiça Federal de Brasília apura desvios no Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica. O empresário afirmou que já teve encontros com o ex-presidente da Caixa Jorge Hereda. Questionado se conseguiu liberação de recursos do FI-FGTS após conversas com Hereda, sem precisar recorrer à intermediação de Cunha, Eike, por orientação do advogado, não respondeu. Indagado se conhecia o ex-presidente da Câmara, o empresário disse:

— Lembro de um voo em que estava um executivo do grupo que perguntou se podia dar carona. Ele embarcou no avião, sentou nas poltronas de trás. É o que conheço de Eduardo Cunha — afirmou Eike, concluindo: — Não frequento a vida dele e nem ele a minha.

Além de Cunha e Funaro, também são réus o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, o empresário Alexandre Margotto, e o ex-ministro Henrique Alves. Cunha, Funaro e Alves estão presos. Margotto e Cleto firmaram acordos de delação premiada. Questionado se conhecia os dois delatores e Funaro, Eike respondeu que não. Em sua delação, Margotto afirmou que Eike pagou propina para conseguir liberação de recursos do FI-FGTS, numa negociação que envolveu Funaro, que era seu sócio, e Cunha.

O globo, n.30661 , 18/07/2017. PAÍS, p. 6