PAÍS CRIOU 67 MIL VAGAS FORMAIS NO 1º SEMESTRE

Em junho, foram abertos 9.821 postos com carteira assinada. Resultado foi impulsionado pela agropecuária

Por: BÁRBARA NASCIMENTO

 

BÁRBARA NASCIMENTO

-BRASÍLIA- Ancorado no desempenho da agricultura, o mercado de trabalho teve o terceiro mês consecutivo de resultado positivo. Em junho, foram criadas 9.821 vagas no país, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho. No mesmo mês no ano passado, o saldo havia sido negativo em 531.765 postos.

Os números foram positivos também no semestre e tiveram o melhor desempenho desde 2014. No acumulado do ano, com os ajustes sazonais, houve criação de 67.358 vagas, uma expansão de 0,18% no total de empregados com carteira assinada em relação ao final de 2016. Em 2014, foram abertas 588,6 mil vagas de janeiro a junho.

No Rio, no entanto, a recuperação ainda não chegou. O estado perdeu 5.689 postos no mês, e, no ano, o fechamento de vagas superou as admissões em 65.582.

O ministro Ronaldo Nogueira afirmou que espera resultados positivos nos próximos meses e disse que o governo tem expectativa de terminar o ano no azul na geração de empregos. Questionado sobre a ordem de grandeza desse número, ele usou um argumento esotérico para dizer que prefere não fazer previsões:

— Até os astrólogos e profetas às vezes erram as previsões. Eu quero dizer que estamos apostando em números positivos.

O especialista em mercado de trabalho Rodolfo Torelli discorda. Para ele, o país vai terminar o ano com um saldo negativo, ainda que pequeno, na geração de empregos. Ele lembrou que, geralmente, o mês de dezembro é responsável por uma perda grande de vagas. E que é improvável que os resultados dos próximos meses sejam suficientes para compensar esse movimento.

— O mês de dezembro é catastrófico. Há perda de, no mínimo, meio milhão de empregos, independentemente do ano. Não vamos gerar essa quantidade no resto do ano para compensar — pondera.

 

CICLO PRODUTIVO

No mês passado, foram 1.181.930 admissões e 1.172.109 desligamentos. O saldo positivo de junho foi impulsionado principalmente pela agropecuária. O setor criou 36.827 postos. A administração pública abriu 704 vagas. Nos demais setores considerados pelo Caged, houve mais desligamentos do que admissões. A construção civil e a indústria da transformação perderam 8.963 e 7.887 vagas, respectivamente. Serviços e comércio tiveram redução de 7.273 e 2.747 postos.

Com o mercado de trabalho ancorado ao desempenho da agricultura, o país pode ter problemas nos próximos meses. Isso porque a safra não tem o mesmo desempenho no segundo semestre, e a geração de empregos deve cair nesse segmento da economia. O coordenador-geral de estatísticas do Ministério do Trabalho, Mário Magalhães, explica que, de fato, o impacto do ciclo produtivo da agricultura no Sudeste e no Centro-Oeste se encerra até julho. Os números, segundo ele, devem arrefecer nos próximos dois meses, mas voltam a crescer no fim do ano, com um novo ciclo, dessa vez, no Nordeste, sobretudo com a canade-açúcar:

— Não é tão volumoso, mas, ao mesmo tempo, ajuda a segurar a criação de empregos.

 

FRUSTRAÇÃO

Torelli observou que junho é um dos melhores meses de impacto da agricultura no emprego. Para ele, esse fato deveria ter impulsionado os números mais para cima. Após dois meses de geração alta de novos postos (59,8 mil, em abril, e 34,2 mil, em maio), o mercado ficou frustrado com o número de junho.

— Foi o pior resultado positivo do ano. E deveria ser o melhor, porque junho é o melhor mês da agricultura — comenta Torelli.

No acumulado dos últimos 12 meses o saldo ainda é negativo, com redução de 749.060 postos. Nogueira destaca a evolução do salário médio real de quem está sendo contratado. A remuneração dos trabalhadores cresceu 3,52% para novas vagas no primeiro semestre, na comparação com 2016, indo para R$ 1.463,67.

No recorte geográfico, quatro regiões tiveram crescimento do nível de emprego em junho. Apenas o Sul teve redução de 14.620 vagas. O Sudeste foi a região com maior saldo positivo, com criação de 9.273 empregos. Entre os estados, houve resultados positivos em 18 deles, com destaque para Minas Gerais (+15.445) e Mato Grosso (+5.779).

O Rio teve o segundo pior desempenho negativo, atrás apenas do Rio Grande do Sul, com perda de 5.689 vagas. Se considerada a Região Metropolitana da capital, o saldo de vagas fechadas é ainda maior: sobe para 6.921. No interior, houve criação de 1.232 vagas. A queda no estado foi puxada, sobretudo, por conta de um recuo nos postos do setor de serviços. Esse segmento perdeu 3.693 vagas. A indústria da transformação e o comércio perderam 1.330 e 757 postos, respectivamente.