Retomada da confiança na economia foi a aposta do primeiro ano de Temer

Alexa Salomão

12/05/2017

 

 

Para economistas, governo conseguiu vitória ao melhorar as expectativas para a recuperação econômica e encaminhar as reformas

 

 

Ano de encarar a dura realidade do Brasil. Para economistas e analistas do mercado financeiro, assim foram os primeiros 12 meses do governo de Michel Temer na gestão da economia. Há consenso de que, considerando o ponto de partida, o País está muito melhor.

A maior vitória, consideram, ocorreu no terreno das expectativas. O Brasil recuperou a confiança, patrimônio essencial para a saúde financeira de qualquer nação. A regeneração das finanças públicas e a saída da recessão, porém, não seguiram na mesma velocidade. Em parte porque a herança do governo anterior era mais pesada do que se supunha, mas também como resultado de estratégias adotadas pelo atual governo, avaliam os economistas.

“Todo presidente da República precisa entender o seu mandato, pois, sobre cada um, recai uma expectativa diferente. Temer deveria mudar, em curto espaço de tempo, a estrutura da política econômica e estabilizar a bolha que estourou na economia: nisso, ele foi um sucesso”, diz o economistas Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A estabilização aparece na reversão dos chamados indicadores de “alta frequência”, sensíveis ao humor do mercado. O risco país – que, quanto mais baixo, melhor – é o principal exemplo da virada.

Despencou. Estava encostando em 500 pontos, quando teve início o processo de impeachment.

Ontem, fechou em 205 pontos.

Para Mendonça de Barros e outros economistas, a melhora nas expectativas foi fruto da habilidade na montagem de um tripé.

“O mérito de Temer foi escolher uma equipe econômica de qualidade e credibilidade; estabilizar a queda no vácuo em que vínhamos – estabilizar, ainda não deu para reverter coisas como o aumento do desemprego; e criar a confiança no futuro, a partir do resgate da agenda de reformas. O resto são questões de segunda ordem”, diz ele.

 

Ajustes. “Questões de segunda ordem”, porém, começam a preocupar parte dos especialistas. Uma delas é a opção pelo ajuste de longo prazo, via reformas, como a da Previdência, sem que fossem feitas ações de curto prazo para tirar a economia do marasmo ou estancar a deterioração das contas públicas.

Nisso, o governo teria perdido oportunidades.

Expectativas melhores são vistas como trunfos duplos. Ao mostrarem que o mercado financeiro tem confiança no futuro do País, permitem que os governos tenham espaço para serem mais ativos no presente, define a economista Mônica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington.

“Se a expectativa melhora, o Banco Central pode ser agressivo no corte de juros e o governo, acabar com desonerações. Não vimos nada disso, mesmo com a recessão derrubando a inflação e a arrecadação”, diz ela. Segundo Mônica, colocar todas as fichas nas reformas, na expectativa, é uma estratégia arriscada. “Expectativas otimistas não derrubam o desemprego, não mudam o que empresários sentem na pele, numa recessão”, diz Mônica.

Do lado das contas públicas, incomoda o fato de o governo ter concedido reajuste de salários a servidores, elevando o gasto, e não ter feito a faxina no Estado, como o prometido, cortando gasto. O economista Alberto Ramos, diretor do Grupo de Pesquisas Econômicas para América Latina do banco americano Goldman Sachs, resume o que está na cabeça de muitos.

Ele lembra que, nos últimos 15 anos, o gasto primário cresceu 6,5%, em termos reais, por ano – o dobro do Produto Interno Bruto (PIB). “Depois de 15 anos de uma expansão gigante do setor público e do gasto, não há nada o que cortar? Todo gasto está bem focalizado? É eficiente? Eu entendo a dificuldade política de cortar, porque alguém vai perder e chiar, mas meu papel como analista é identificar problemas, e não entendo porque não cortaram”, diz.

Consolida-se também uma certa frustração com a demora na recuperação. Apenas no primeiro trimestre de 2017, surgiram chances reais de recuperação, graças ao espetacular desempenho do agronegócio, diz Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Questão de realismo, diz ela, que monitora o PIB: “O mercado teve uma visão otimista, mas nós preferimos ser conservadores, cientes de que a recessão é profunda. O saldo do ano, porem, é positivo até nessa recuperação lenta: é recuperação, e não consigo imaginar quão piores estaríamos sem as mudanças”.

 

Reunião

Temer se reúne hoje com ministros para fazer um balanço do seu primeiro ano de governo.

 

UM ANO DE TEMER

Desde que assumiu a Presidência, em 12 de maio de 2016, Temer tem colecionado vitórias e percalços

 

Mai/2016

Dia 12

Primeiro discurso

Em seu primeiro discurso após tomar posse como presidente em exercício, Michel Temer diz que é urgente pacificar a nação, unificar o Brasil e fazer um governo de salvação nacional. “Não podemos mais falar de crise.”

 

Dia 23

Primeira baixa

Uma  semana e meia após ser nomeado ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB) anuncia a saída do cargo. Em gravação tornada pública, ele fala em “pacto” para barrar a Lava Jato ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

 

Dia 15

Jun

Pedido de doação ilegal

Machado diz, em delação premiada, que recebeu pedido de Temer para financiar campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de SP em 2012. O valor acertado entre ambos foi de R$ 1,5 mi, segundo o delator. O presidente nega.

 

Nov

Dia 25

6ª baixa na Esplanada

O então ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, pede demissão – ele é acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de tê-lo pressionado para liberar obra de empreendimento imobiliário no centro histórico de Salvador. Geddel é o sexto ministro a deixar o governo desde que Temer assumiu a Presidência da República, em maio. Antes dele, caíram Jucá, Fabiano Silveira (Transparência), Fábio Medina Osório (AGU), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Marcelo Calero (Cultura).

 

DEZ

Dia 10

Citado por delator

O ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho diz, em anexo entregue ao Ministério Público Federal, que Temer pediu “apoio financeiro” para campanhas do PMDB em 2014 a Marcelo Odebrecht. O presidente nega.

 

Fev/2017

Dia 13

Regra para demissões

Após ser criticado por nomear Moreira Franco ministro- chefe da Secretaria- Geral, concedendo foro privilegiado ao auxiliar, Temer diz que ministros citados na Lava Jato só serão demitidos quando virarem réus em processos.

 

Mar

Dia 31

Terceirização

O presidente Michel Temer sanciona o projeto de lei que regulamenta a terceirização irrestrita, aprovado pela Câmara dos Deputados.

Desemprego

O desemprego no País alcança o recorde de 13,547 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro, segundo dados do IBGE. A taxa, de 13,2%, é a mais alta já registrada.

Queda na aprovação

Avaliação negativa do governo aumenta de 46% em dezembro para 55% em março, segundo pesquisa Ibope.

 

Abr

Dia 11

Ministros alvo da Lava Jato

O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, determina a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Temer, com base nas delações dos 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht.

 

Dia 26

Reforma trabalhista

O projeto de reforma trabalhista é aprovado no plenário da Câmara dos Deputados por 296 votos a favor e 177 contra. Foram 14 horas de sessão até o resultado, recebido com alívio no Palácio do Planalto.

 

Dia 28

Greve geral

Centrais sindicais convocam greve geral em protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência. Em São Paulo, manifestantes se reúnem no Largo da Batata e seguem até a casa do presidente, no Alto de Pinheiros.

 

 

Mai

Dia 1º

Protestos
As principais centrais sindicais do País voltam às ruas e usam o Dia do Trabalho para criticar as reformas propostas pelo governo do presidente Michel Temer. Também se dizem dispostas a organizar nova greve geral.

 

Dia 4

Previdência

A comissão especial da Câmara aprova texto da reforma da Previdência. Após mais de oito horas de discussão, em sessão tumultuada, o governo consegue o placar que esperava: 23 votos a favor e 14 contra.

 

Dia 10

Inflação

O IBGE divulga o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, que fica em 0,14%, o menor resultado para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. A inflação acumulada em 12 meses é de 4,08%, o menor patamar em dez anos e, portanto, abaixo do centro da meta do Banco Central (4,5%).

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Com Meirelles, crise estanca e reformas avançam

Adriana Fernandes

12/05/2017

 

 

No jogo da linguagem do poder em Brasília, uma das máximas que vale para os ministros da Fazenda é a de que eles não podem mostrar que saíram derrotados em debates dentro e fora da Esplanada dos Ministérios.

Completando um ano no comando da economia, depois de assumir a pasta em meio à mais longa recessão do País, Henrique Meirelles tem tido a habilidade de transformar derrotas – ou meia derrotas – em vitórias.

Escolhido pelo presidente Michel Temer para tirar as contas públicas do buraco e garantir a recuperação econômica, o expresidente do Banco Central do governo Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu implementar uma política de ajuste fiscal gradual, mas que vai manter déficits robustos até 2018.

Apesar disso, Meirelles obteve a confiança dos agentes econômicos e investidores para implementar o seu plano. O ministro sabe. “Eu diria que a primeira vitória foi a reversão das expectativas”, diz o ministro. A sua lista é seguida pela queda da inflação e a retomada do crescimento. “Já está acontecendo. Estamos com resultado positivo no primeiro trimestre”, afirma.

Se o crescimento não veio no ritmo esperado, o governo completa agora um ano com a atividade econômica em recuperação, as metas fiscais sendo alcançadas, inflação e juros em queda e o teto do gasto aprovado pelo Congresso.

Apesar das incertezas que ainda rondam a votação, a reforma da Previdência avança na Câmara e caminha para a principal batalha: a votação no plenário, prevista para o final do mês.

O gradualismo fiscal de Meirelles também vem sustentando a decisão de Temer de não aumentar impostos. Quando sinalizou que isso poderia acontecer, viveu um dos momentos mais tensos à frente da pasta. “O que é isso, ministro?”, questionou a Fiesp em uma propaganda.

Cobrado por tucanos por medidas menos impopulares, anunciou um pacote de estímulo ao crescimento. O Banco Central, que estava sendo acusado de atrasar a retomada, começou a acelerar a queda dos juros.

O alívio tomou conta do governo.

Além das reformas, agora, novas batalhas estão sendo travadas e renovadas. A principal delas será a retomada do emprego, esperada para o último trimestre do ano.

 

Rombo

Pelos cálculos do Ministério da Fazenda, o déficit fiscal acumulado até o final do governo, em 2018, terá chegado a R$ 422 bilhões

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Diante de desafios, governo procura marca para a gestão

Vera Rosa

12/05/2017

 

 

Com apoio no Congresso, mas baixa popularidade, Temer encomenda novos programas

 

 

Sustentado por uma aliança de 14 partidos, o presidente Michel Temer completa hoje um ano no governo, à procura de uma marca para sua gestão.

Com apoio no Congresso, mas anemia nas pesquisas que medem a popularidade, Temer enfrenta o desafio de atravessar as investigações da Lava Jato sem perder os principais nomes da equipe, além de reduzir o desemprego e de reformar a Previdência.

Avalista de uma agenda polêmica, que tem como prioridade mudanças na aposentadoria e na lei trabalhista, o presidente encomendou programas para dar uma cara mais social ao governo.

Desde o impeachment de Dilma Rousseff, Temer tenta convencer a população de que está no rumo certo para debelar a crise.

A estratégia inclui o PMDB, que promove pesquisas para detectar as aflições da sociedade e traçar o perfil ideal de um candidato ao Palácio do Planalto, em 2018.

“Todos os partidos tradicionais terão grande perda nas próximas eleições”, disse ao Estado o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Para ele, apesar das dificuldades, Temer conseguiu recuperar a confiança do mercado. “Pegamos a maior crise econômica da história. Logo que o desemprego estiver em queda, a partir do terceiro trimestre, haverá o reconhecimento do acerto do governo.”

 

Delações. Padilha é um dos oito ministros que aparecem nas delações da Odebrecht. Comanda a articulação política e os principais programas passam por seu crivo. Quando o assunto é Lava Jato, porém, ele adota o silêncio.

Pela linha de corte estabelecida por Temer, ministros denunciados pelo Ministério Público serão afastados e, se virarem réus, demitidos. A saída foi planejada levando em conta a tradicional morosidade da Justiça.

Na atual composição da equipe, 20 dos 28 titulares vieram do Legislativo. Apesar de ter maioria no Congresso, o Planalto teme novas traições e orientou os partidos aliados a enquadrarem suas bancadas, fechando questão a favor da reforma da Previdência. A lista deverá ser puxada pelo PMDB, mesmo com a contrariedade do líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL). “É possível fazer a atualização de leis sem que haja imposição do capitalismo selvagem”, disse ele. “Nós caminhamos para uma convulsão social e queremos novas eleições”, afirmou a líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR).

Os protestos, porém, não abalam o governo. Se antes o processo no Tribunal Superior Eleitoral que pede a cassação da chapa Dilma-Temer era motivo de preocupação, hoje não parece mais representar ameaça ao presidente.

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Sob nova direção, Petrobrás ensaia recuperação

Fernanda Nunes

12/05/2017

 

 

Petroleira mais endividada no mundo todo, a Petrobrás reduziu em mais de US$ 100 bilhões seu compromisso financeiro no primeiro ano do governo de Michel Temer. A empresa também encolheu ao vender US$ 13,6 bilhões dos ativos ao longo de 2016.

Os ajustes promovidos pelo presidente da companhia, Pedro Parente, são elogiados por especialistas, que reclamam, no entanto, da falta de previsibilidade do que será a empresa após a crise.

Em carta aos acionistas, Parente disse que a Petrobrás já ultrapassou o pior momento da sua história, em que o barril do petróleo despencou e a credibilidade foi abalada pela Lava Jato. A empresa, segundo ele, hoje está “em franca recuperação”.

Ontem, em balanço divulgado, a Petrobrás registrou lucro de R$ 4,449 bilhões no primeiro trimestre deste ano.

Esses resultados foram alcançados, em parte, com arrocho de investimentos e gastos internos. No programa de demissão voluntária, cerca de 10 mil profissionais deixaram a empresa, que chegou ao fim de 2016 com 68,8 mil empregados.

O último ano da estatal também foi marcado pela reformulação da política de preços dos combustíveis, que, desde outubro, são revistos mensalmente, alinhado ao mercado internacional.

Sob o governo Temer, a Petrobrás também deixou de responder obrigatoriamente pela operação do pré-sal.

O Congresso alterou a Lei de Partilha, que determinava que a estatal deveria ter participação mínima de 30% em toda área de pré-sal

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45132, 12/05/2017. Política, p. A10/11.