Tucanos condicionam apoio a governo federal

Raymundo Costa

20/05/2017

 

 

Muito embora tenha reparos à conduta do presidente Michel Temer, o PSDB vai manter o apoio do partido ao governo, mas tem uma condição: Temer precisa recompor a base aliada e provar que tem condições de aprovar as reformas econômicas. "Precisamos preservar a política que pode tirar o país do lamaçal", disse ao Valor um dos vice-presidentes do PSDB, o ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman. "Enquanto não tivermos a garantia dessa transição, não podemos simplesmente dizer tchau e ir embora".

Goldman refere-se a um grupo de deputados que defende o desembarque imediato do governo Temer. "Se não conseguirmos recuperar a base, teremos que fazer que o Michel [Temer] entenda isso - o mais importante é preservar a continuidade das reformas". O ministro Bruno Araújo (Cidades), chegou a anunciar que sairia, pressionado por questões locais da política de Pernambuco, mas voltou atrás. Aloysio Nunes Ferreira (Itamaraty), desde o início apoiou a permanência do PSDB no governo.

As delações do empresário Joesley Batista que atingiram o presidente Temer ricochetearam no PSDB e feriram de morte opresidente do partido, senador Aécio Neves (MG). Na quarta e quinta-feiras, os tucanos reuniram-se em Brasília para discutir os dois assuntos. Os tucanos reprovaram a decisão de Temer de receber um empresário, tarde da noite, no Palácio do Jaburu, sem uma agenda ou ao menos a companhia de um ministro.

Quem não estava em Brasília foi consultado pelo telefone, por mais de uma vez, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Estrela ascendente no partido, o prefeito João Doria ficou ao largo das consultas. Em entrevista anteontem ao jornal "Estado de S.Paulo", Doria sugeriu que o PSDB "não tome decisões no calor do momento".

A primeira demanda resolvida pelo PSDB foi a escolha de um novo presidente para substituir Aécio. A bancada da Câmara tentou emplacar o nome do deputado Carlos Sampaio, que foi demovido por Aécio, seu aliado internamente, e pelo próprio Tasso Jereissati (PSDB-CE), o escolhido. Tasso primeiro ficará interinamente; ao fim de um ano deve ser efetivado no cargo.

A eleição de Tasso juntou todos os caciques do PSDB: Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin e o próprio Aécio, que a princípio resistiu à saída, mas depois concordou que ela era inevitável. A bancada de senadores e os governadores estaduais também fecharam com Tasso.

O ex-governador do Ceará, dublê de político e empresário bem sucedido, não é visto como um político tradicional, figura em baixa na opinião pública. Também não pesa contra ele nenhuma denúncia. Os tucanos o consideram uma opção que representa o PSDB e sua origem social-democrata - ou seja, é uma alternativa ao prefeito João Doria, cuja candidatura presidencial aos poucos vem se impondo dentro do partido.

Já não há dúvidas no PSDB que Doria, se precisar, vai atropelar todos os caciques tucanos para ser o candidato em 2018, a exemplo do que fez na eleição municipal de 2016. A diferença é que, à época, contou com o apoio de Alckmin e da máquina do governo paulista. Alckmin já se deu conta de que a criatura quer devorar o criador e já antecipou lances de sua própria candidatura.

Na cúpula, Alckmin ainda é um nome cotado, mas duvida-se que sobreviva ao desgaste das denúncias na Lava-Jato e à fadiga de material de seu governo. A opção, portanto, seria Tasso e não Doria. Se não sair pelo PSDB, os tucanos acreditam que Doria pousa em outra legenda. Ele estaria se preparando para ser candidato a presidente em 2018, de qualquer forma.

Na crise atual do governo, Tasso passa a ser agora o principal interlocutor do PSDB. A opinião geral da cúpula partidária é que qualquer saída deve contar com a participação de Michel Temer, do PMDB e dos demais partidos que integram a base de apoio - somente isso permitiria a continuidade das reformas.

O PSDB evita pronunciar a palavra "renúncia", até para ser elegante com Michel Temer. Mas vai cobrar do presidente, se sentir que ele não tem mais condições de liderar as reformas na economia que justificaram o impeachment de Dilma Rousseff e sua posse no Palácio do Planalto.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4259, 20/05/2017. Política, p. A8.