Analistas estima aceleração do IPCA-15

Camilla Veras Mota

23/05/2017

 

 

O efeito benigno do desconto dado em abril nas contas de energia elétrica sobre a inflação vai ser parcialmente devolvido neste mês. A reversão aparecerá já na prévia do indicador oficial, o Índice Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que deve acelerar dos 0,14% registrados no fechamento do mês passado para 0,22%, conforme a média de 20 estimativas de consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data.

Mesmo com a pressão, a variação seria a menor para o mês desde o ano 2000, quando chegou a 0,09%. As projeções para o indicador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que será divulgado hoje, variam de 0,19% a 0,31%. No acumulado em 12 meses, a média das expectativas é de 3,75%, menor valor desde julho de 2007. Em abril, o IPCA-15 variou 0,21%.

Depois de cair 6,39% em abril, o item energia elétrica sofrerá deflação de 0,4% na prévia do IPCA, calcula o economista da Tendências Consultoria Marcio Milan. A diferença de quase seis pontos percentuais seria principal responsável pela alta de 0,28% do grupo habitação, que recuou 1,09% no dado fechado do mês passado. Em maio, a energia terá alta de 5,6%, diz Milan, levando o IPCA a 0,54%. Para a prévia, ele espera 0,31%.

Os grupos de saúde e cuidados pessoais e de vestuário também devem dar contribuição positiva à prévia, ainda que menor. No caso de vestuário, o aumento de preços é reflexo da chegada das coleções outono-inverno ao varejo e, diante do impacto negativo da recessão sobre o consumo, deve ficar abaixo da sazonalidade. "O comportamento desses preços tem sido bom até aqui".

O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, deve começar a perder fôlego, com a devolução do aumento dos preços de produtos in natura observado nos meses anteriores. A Tendência estima crescimento de 0,49%, ante 0,58% no IPCA fechado de abril.

Nos próximos meses, a categoria vai ser beneficiada pelas repetidas quedas no atacado dos preços de alimentos que vêm sendo mostradas pelos Índices Gerais de Preços (IGPs), acrescenta o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que projeta 0,2% para o IPCA-15 de maio.

Pra ele, o nível mais alto alcançado pelo dólar na semana passada - uma resposta à crise política - não deve pressionar a inflação no curto prazo.

A recessão, ele diz, reduziu a potência da transmissão da desvalorização cambial para os preços domésticos. "O 'pass through' hoje é muito baixo", afirma. No início do ano, ele calculava que o dólar a até R$ 3,35 não ameaçaria a meta de 4,5% estabelecida pelo Banco Central para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Por ora, já que a duração de cenário de instabilidade e seu impacto na atividade ainda são incertos, ele mantém a projeção para o ano em 3,77%.

Os economistas do banco Haitong Flavio Serrano e Jankiel Santos ressaltam que o nível do IPCA-15 acumulado nos 12 meses até maio, que eles estimam em 3,72%, já rodaria "em patamar bastante inferior à meta estipulada para este ano [4,5%] e reforçaria a perspectiva de continuidade do processo de queda da taxa básica de juros - a despeito da crise política - na próxima reunião do Copom", marcada para o dia 31.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4260, 23/05/2017. Brasil, p. A3.