Prisões da Lava Jato dividem ministros do STF

Beatriz Bulla Rafael Moraes Moura

05/05/2017

 

 

Plenário. Tendência da maioria dos ministros é acompanhar o relator da operação na Corte, Edson Fachin, no julgamento do pedido de liberdade do ex-ministro Antonio Palocci

 

 

 

A discussão sobre as prisões preventivas da Operação Lava Jato deve dividir o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) e provocar um julgamento acirrado. Segundo o Estado apurou, porém, o entendimento pela manutenção das detenções, defendida pelo relator dos casos na Corte, ministro Edson Fachin, tem maior chance de prevalecer entre os 11 ministros.

Além do ministro Celso de Mello, que votou nesta semana contra a revogação da prisão do ex-ministro José Dirceu na Segunda Turma do Supremo, a presidente da Corte, Cármen Lúcia, e os ministros Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Rosa Weber devem acompanhar o relator.

Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, favoráveis ao habeas corpus a Dirceu, devem ser acompanhados por Marco Aurélio Mello.

Fachin decidiu levar ao plenário a análise do mérito do habeas corpus do ex-ministro Antonio Palocci após sofrer sucessivas derrotas na Segunda Turma, formada por cinco ministros.

A ideia de estender a discussão aos demais surgiu para dar respaldo maior às decisões que envolvem a Lava Jato.

Ouvidos reservadamente, porém, ministros avaliam que será difícil fixar uma tese que valha para todos os habeas corpus relativos à investigação. Isso porque o plenário vai julgar o caso concreto sobre Palocci e, na esfera criminal, “cada caso é um caso”. Por isso, fontes próximas a Fachin consideram que ele pode voltar a recorrer ao plenário em futuras decisões importantes da Lava Jato.

 

Prudência. Integrante da Primeira Turma do Supremo, considerada mais rigorosa em relação ao acolhimento de habeas corpus, Fux disse considerar “prudente” a decisão de levar o tema ao plenário do tribunal. Segundo ele, no entanto, o caso deve ser retirado da Segunda Turma se houver tendência a fixar uma tese, o que daria segurança jurídica às demais decisões.

“Se o plenário entender que casos emblemáticos, de mais repercussão perante o cenário que se está vivendo, devem ser julgados pelo plenário, nós vamos nos curvar a esta realidade.

A divisão (para as Turmas da Corte) ocorreu porque nós vimos no mensalão que ficava difícil o plenário julgar só uma operação”, disse Fux.

 

Clima. O julgamento no plenário do habeas corpus de Antonio Palocci – ainda sem data para ocorrer – causou alguma tensão nos bastidores do Supremo.

A decisão de Fachin não foi bem recebida por alguns ministros.

Outros integrantes da Corte se sentiram desconfortáveis com as críticas contundentes feitas por Gilmar Mendes à atuação dos procuradores que integram a força-tarefa da Operação Lava Jato. A maioria dos ministros preferiu evitar declarações públicas ontem.

Durante o julgamento de um caso no plenário da Corte ontem, o ministro Marco Aurélio Mello disse sentir saudade de integrar a Segunda Turma, “especialmente na área penal, tendo em conta a situação hoje da Primeira Turma”.

Alexandre de Moraes, que assumiu a cadeira do ministro Teori Zavascki (morto em acidente aéreo em janeiro deste ano), respondeu: “Eu, como novato, fiquei magoado agora, ministro Marco Aurélio”. Em tom de brincadeira, Ricardo Lewandowski deu a solução: “Nós providenciaremos a sexta cadeira para você na Segunda Turma, ministro Marco Aurélio”.

 

PARA LEMBRAR

 

‘Alongadas prisões’

Em fevereiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes criticou a condução da Lava Jato na primeira instância.

“Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que se determinam em Curitiba. Temos que nos posicionar sobre esse tema”, disse.

 

Prisões revogadas

Na semana passada, a Segunda Turma do STF revogou as prisões do empresário José Carlos Bumlai e do ex-tesoureiro do PP João Cláudio Genu, ambos condenados em primeira instância na Lava Jato pelo juiz federal Sérgio Moro. O relator Edson Fachin foi voto vencido.

 

Habeas corpus

Na mesma sessão que soltou Bumlai e Genu, a maioria dos ministros da Segunda Turma decidiu dar seguimento à tramitação do habeas corpus apresentado pela defesa de José Dirceu, preso desde agosto de 2015. Nesta semana, o ex-ministro teve a prisão revogada   Crítica A decisão de soltar Dirceu foi criticada em Curitiba, base da força-tarefa da Lava Jato. “O que está acontecendo é a destruição lenta de uma investigação séria. Acreditam que a população não está mais atenta”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.

_____________________________________________________________________________________________________________

Detenções interromperam carreiras criminosas, diz Moro

Julia Affonso/ Ricardo Brandt/ Luiz Vassallo/ Fausto Macedo

05/05/2017

 

 

Ao autorizar nova fase da Lava Jato, juiz federal respondeu a críticas sobre prisões preventivas decretadas por ele

 

 

 

Ao mandar abrir a 40.ª fase da Lava Jato, deflagrada ontem, o juiz Sérgio Moro rechaçou as críticas às prisões preventivas no âmbito da operação. Para o magistrado, a custódia por tempo indeterminado foi “essencial” para barrar o que ele chamou de “carreiras criminosas”.

Em fevereiro, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, questionou a condução da Lava Jato na primeira instância. “Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que se determinam em Curitiba” disse. Desde a semana passada, o Supremo revogou as prisões de quatro alvos da Lava Jato e de desdobramentos da operação: o ex-ministro José Dirceu, o pecuarista José Carlos Bumlai, o ex-assessor do PP João Cláudio Genu e o empresário Eike Batista.

Na decisão sobre a mais recente etapa da Lava Jato, ao falar de prisões preventivas, Moro citou os ex-diretores da Petrobrás Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços), o doleiro Alberto Youssef e o lobista apontado como operador de propina Fernando Soares, o Fernando Baiano.

Mencionou, ainda, o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o “departamento de propinas” da empreiteira.

 

‘Essencial’. “Em que pesem as críticas genéricas às prisões preventivas decretadas na Operação Lava Jato, cumpre reiterar que atualmente há somente sete presos provisórios sem julgamento, e que a medida, embora drástica, foi essencial para interromper a carreira criminosa de Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Alberto Youssef, Fernando Soares, entre outros”, escreveu o magistrado.

A medida, segundo Moro, também interrompeu “a atividade do cartel das empreiteiras e o pagamento sistemático pelas maiores empreiteiras do Brasil de propinas a agentes públicos, incluindo o desmantelamento do departamento de propinas de uma delas”.

Ainda de acordo com o juiz, “a prisão preventiva, embora excepcional, pode ser utilizada, quando presente, em cognição sumária, boa prova de autoria e de materialidade de crimes graves, e a medida for essencial à interrupção da prática profissional de crimes e assim proteger a sociedade e outros indivíduos de novos delitos”.

Operação Asfixia. A fase 40 da Lava Jato cumpriu mandados de prisão temporária, buscas e apreensão e condução coercitiva.

O foco são três ex-gerentes da Petrobrás, suspeitos de receberem mais de R$ 100 milhões em propinas de empreiteiras, além de operadores financeiros que utilizaram empresas de fachada para intermediar os repasses ilícitos (mais informações na pág. A6).

Ao decretar as prisões da Asfixia, Moro apontou, “além do risco à ordem pública, presente igualmente risco à investigação ou a instrução”. “Considerando que os crimes em apuração teriam sido praticados em segredo, com contas secretas no exterior, fora do controle das autoridades brasileiras, não é viável substituir a prisão preventiva por medidas cautelares.” / JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT, LUIZ VASSALLO e FAUSTO MACEDO

 

Sigilo da secretária

O juiz Sérgio Moro mandou quebrar o sigilo telefônico de Rita de Cássia dos Santos, que foi secretária de Antonio Palocci. Segundo a Lava Jato, ela intermediava contatos com a Odebrecht.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45125, 05/05/2017. Política, p. A4.