Investimento direto é 4,5 vezes o déficit

Eduardo Campos e Alex Ribeiro

24/05/2017

 

 

Os dados do setor externo divulgados ontem reforçam a mensagem dada nos últimos dias pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, de que o balanço de pagamentos está em posição confortável. O Brasil registrou em abril superávit em transações correntes de US$ 1,153 bilhão, após resultado também superavitário de US$ 1,337 bilhão em março. E para o mês de maio a projeção é de novo número positivo, da ordem de US$ 1,5 bilhão. E, apesar de mostrar déficit de quase US$ 20 bilhões em 12 meses, o volume de investimentos diretos continuou firme e já soma quase 4,5 vezes esse montante no mesmo período.

Segundo Ilan, as contas externas estão entre os amortecedores robustos que deixam o país menos vulnerável a choques internos, como a nova crise política, e externos. Nos últimos dois anos, o Brasil passou por um dos mais acentuados ajustes externos da história, reduzindo um déficit em transações correntes de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em abril de 2015, patamar relacionado a crises no balanço de pagamento, para o atual 1% do PIB.

No acumulado do ano até abril, o déficit externo é de US$ 3,5 bilhões, melhor resultado desde 2007, último ano no qual o país registrou superávit em transações correntes. Em 12 meses, o déficit é de US$ 19,845 bilhões, ou 1,06% do produto. O resultado é puxado pelo bom desempenho da balança comercial, que apresenta superávit de US$ 20,554 bilhões no ano, melhor quadrimestre da série. Em 12 meses, o superávit da balança é de US$ 53,2 bilhões.

Além do déficit pequeno, não há preocupação com as fontes de financiamento. O Investimento Direto no País (IDP) cobre o déficit em 4,5 vezes, somando US$ 84,691 bilhões em 12 meses até abril, ou 4,5% do PIB. No mês passado, o IDP somou US$ 5,577 bilhões, e para maio o BC projeta novos ingressos de US$ 2,8 bilhões. A queda de volume não está relacionada com a recente piora de ambiente político, pois as decisões que envolvem IDP têm planejamento prévio.

Segundo o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Fernando Rocha, a expectativa é que os fluxos de investimento direto continuem robustos, mais do que suficientes para o financiamento do déficit em conta corrente.

Durante o período de impeachment da presidente Dilma Rousseff o IDP se manteve acima dos 4% do PIB, contrariando algumas expectativas de queda e sinalizando que esses investimentos olham para além das incertezas políticas, "comprando" uma história de desenvolvimento de país no longo prazo.

Rocha também atualizou os dados sobre o movimento de câmbio na semana passada, mais especificamente nos dias posteriores à divulgação das delações dos controladores da JBS. Apesar da grande volatilidade, não houve fuga de capitais do país. Na quinta-feira, primeiro dia de pregão após o novo escândalo político, o fluxo cambial foi positivo em US$ 2,338 bilhões, sendo US$ 1,266 bilhão na conta comercial e US$ 1,072 bilhão na financeira. Na sexta-feira, dia 19, o fluxo cambial foi positivo em USS 1,124 bilhão, sendo US$ 282 milhões na conta comercial e US$ 842 na financeira. Os dados confirmam as conversas das mesas de operação de que exportadores teriam aproveitado o salto na cotação do dólar para internalizar recursos a preços maiores.

Agora em maio, até o dia 19, o fluxo cambial estava positivo em US$ 486 milhões, reflexo de ingresso de US$ 3,489 bilhões na conta comercial e saída de US$ 3,003 bilhões na conta financeira.

Rocha também repetiu a mensagem de que o BC atua para manter o bom funcionamento do mercado. Com mais de US$ 370 bilhões em reservas e espaço para atuação via swaps cambiais, como tem feito nos últimos dias, o BC dá proteção a quem precisa de hedge cambial e também saída para quem tem compromissos externos a acertar. O volume de reservas e os diferentes instrumentos de atuação mitigam o risco de conversão do real, um dos fatores primordiais para investidores externos, independentemente do prazo de suas aplicações.

De volta aos dados de abril, os investimentos em carteira foram positivos em US$ 4,373 bilhões, sendo que os ingressos para renda fixa negociada no Brasil responderam por US$ 4,351 bilhões. Já o mercado de ações mostrou perda de US$ 505 milhões. As parciais do BC já sugeriam essa retomada do mercado de títulos. Mas agora em maio, o movimento já voltou a ser de saída. Até o dia 19, o mercado de títulos perdeu US$ 2,450 bilhões, enquanto as ações tinham recebido US$ 184 milhões.

Os dados do BC também não mostram dificuldade de acesso das empresas ao mercado externo. Em abril a taxa de rolagem dos compromissos ficou em 89%, rolagens abaixo de 100% mostram que as novas captações não foram suficientes para cobrir todos os pagamentos. Mas em maio, até o dia 19 essa taxa estava em 160%. Olhando os dados, os bancos ampliam posição em captações acima de um ano, depois de um movimento de liquidação de operações longas em 2016. Já os demais setores da economia mostram redução dos compromissos externos tanto de curto quanto de longo prazo.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4261, 24/05/2017. Brasil, p. A3.