Obituário - Marco Aurélio Garcia. Fundador do PT

21/07/2017

 

 

Assessor para Assuntos Internacionais nos governos Lula e Dilma, atuou na redefinição do Itamaraty, privilegiando a integração com economias emergentes

 

Assessor para Assuntos Internacionais da Presidência nos governos Lula e Dilma, aos 76 anos. Considerado um dos principais ideólogos do PT, Marco Aurélio Garcia participou dos primeiros encontros do partido, no Colégio Sion, em São Paulo, e foi um dos fundadores da legenda. Trinta e sete anos depois, estava no ato de solidariedade ao ex-presidente Lula, semana passada, após a condenação do expresidente na Lava-Jato.

O professor aposentado da Unicamp coordenou os programas de governo de Lula em 1994, 1998 e 2006, e o de Dilma, em 2010. Como secretário de Relações Internacionais do PT na década de 1990, ajudou a fundar o Foro de São Paulo, organização que reúne movimentos de esquerda na América Latina. Teve papel proeminente durante o mandato de Lula, quando ocupou o cargo de assessor da Presidência para Assuntos Internacionais. Ao lado do chanceler Celso Amorim e do diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, formou o trio que redefiniu a atuação do Itamaraty, privilegiando a integração do Brasil com países da América Latina, África e economias emergentes. Marco Aurélio também foi assessor especial de Dilma Rousseff.

Em 2008, foi centro de um escândalo ao ser flagrado, em seu gabinete, fazendo um gesto obsceno após a informação de que o avião da TAM, que não freou e bateu em um prédio após pousar em Congonhas, tinha um defeito técnico. Ele comemorava a informação sobre o defeito, já que as primeiras notícias culpavam o governo pela tragédia. O acidente causou a morte de 199 pessoas.

Na juventude, foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) antes de ser exilado pela ditadura militar. Viveu a década de 1970 na França e no Chile. Retornou ao país em 1979 para fundar o PT.

Dentro do partido, era alinhado à corrente majoritária e mais moderada. Desde a fundação, defendia que o PT se afastasse da dicotomia entre o comunismo e a social-democracia. Para explicar seu pensamento, lembrava de uma tirada do ex-presidente Lula que, no início de sua carreira política, perguntado se era comunista ou social-democrata, respondeu que era “torneiro mecânico”.

Em março deste ano, no entanto, lamentou que as mudanças feitas pelo partido quando ocupou a Presidência não afetaram o modelo institucional do país. “Não mudou e não fizemos o suficiente para mudá-lo”, disse, em entrevista ao site do PT.

— Hoje é um dia triste porque morreu um grande companheiro, um intelectual que me acompanhou no últimos 30 anos por este mundo afora — disse Lula.

A ex-presidente Dilma Rousseff se referiu a Marco Aurélio como “amigo querido”, e o PT, em nota, disse que ele fará falta para o partido e para o Brasil.

Marco Aurélio morreu ontem, aos 76 anos, vítima de um infarto. O corpo dele foi encontrado em casa, por parentes, por volta do meio-dia. Ele será velado hoje no saguão principal da Assembleia Legislativa de São Paulo.

O globo, n.30664 , 21/07/2017. PAÍS, p. 08