Ministro da Saúde diz que foi mal interpretado em frase sobre médicos

EDUARDO BARRETTO

21/07/2017

 

 

Para Ricardo Barros, figura de linguagem foi divulgada de forma equivocada

Uma semana depois de atacar médicos que “fingem que trabalham”, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, recuou. Ele disse que usou uma “figura de linguagem” e culpou a imprensa pela interpretação. Em nova cerimônia no Palácio do Planalto para anunciar realocação de recursos da pasta, Barros disse que se referia só a médicos faltosos da atenção básica:

— Pegaram só a parte que fala da exigência do cumprimento de horário, em que eu usei uma figura de linguagem.

Ele também fez um autoelogio: seria o ministro mais acessível para entidades.

— Ninguém mais do que eu faz diálogo com a categoria médica. Nenhum outro ministro é tão acessível para todas as outras categorias como eu — disse.

Ricardo Barros negou que tenha errado no comentário sobre os médicos e atribuiu a controvérsia à imprensa.

— A polêmica atende a vários interesses, menos ao da Saúde. Aos médicos, de modo geral, a quem não me referi, não comprem essa fala como qualquer ofensa. Eu diria que o erro foi da forma como a imprensa divulgou a fala. Só um veículo, na verdade, colocou a frase única — tentou remendar. Na semana passada, ao falar do sistema de biometria para controle de ponto em hospitais públicos, Barros declarou: — O grande problema nosso da Saúde qual é hoje? Nós temos uma pirâmide, 40 mil UBSs (Unidades Básicas de Saúde) na base, só que nós não conseguimos fazer com que o médico fique as quatro horas na unidade de saúde. Então, a pessoa, quando tem problema, em vez de ela ir para a unidade de saúde do lado da casa dela, ela já vai direto para o hospital, porque lá ela sabe que vai estar o médico. E isso desestrutura tudo e custa muito mais caro. Então, a biometria vai nos servir para isso. Para que todos cumpram seu horário de trabalho. E aí, muito sinceramente, do jeito que o senhor (presidente Michel Temer) sabe que eu sou, eu sou uma pessoa pragmática e clara. Vamos parar de fingir que pagamos médico, e o médico vai parar de fingir que trabalha. Tá certo? — disse o ministro.

— Quando o município implanta a biometria, metade dos médicos se desliga, tem às vezes cinco, quatro empregos, quatro vínculos empregatícios. Não dá conta de melhorar. Mas como ele ganha pouquinho, ele acha que ele trabalha pouquinho também, e tá tudo certo. Esse faz de conta não ajuda a Saúde. Nós vamos ter de pagar um salário justo para os médicos e exigir que eles estejam lá à disposição da população — acrescentou Ricardo Barros.

O globo, n.30664 , 21/07/2017. PAÍS, p. 3