Produção industrial cai 1,8% em março

Daniela Amorim

04/05/2017

 

 

Nos primeiros três meses do ano, porém, avanço de 0,6% em relação ao mesmo período de 2016 interrompe sequência de 11 trimestres de queda

 

 

 

Apesar das expectativas de recuperação, a indústria brasileira voltou a amargar perdas em março. A produção encolheu 1,8% em relação a fevereiro, segundo a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os números do primeiro trimestre, entretanto, reforçaram a expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) enfim saia do negativo, embora ainda mostrem que o setor está mais para uma situação de acomodação do que em franca retomada, avaliam economistas.

O mau desempenho de março não impediu que a produção avançasse 0,7% no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses do ano passado. Na comparação com o mesmo trimestre de 2016, a alta foi de 0,6%. “A melhora do ambiente macroeconômico, com a redução da taxa básica de juros, melhora na percepção de riscos e retomada da confiança, tende a induzir uma recuperação dos setores industriais mais sensíveis à retomada do ciclo econômico”, avaliou Thiago Xavier, analista da Tendências Consultoria Integrada, que prevê crescimento de 2,4% na produção industrial este ano.

O crescimento de 0,6% no primeiro trimestre interrompeu a sequência de 11 trimestres consecutivos de quedas. Mas o movimento não altera o comportamento negativo da indústria neste início de 2017, afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. “O primeiro trimestre de 2017 tem dois dias úteis a mais do que o primeiro trimestre de 2016. E tem a base de comparação depreciada”, disse.

O pesquisador lembrou que a indústria tinha recuado 11,5% no primeiro trimestre de 2016 ante o mesmo período de 2015. O crescimento de 1,1% em março ante o mesmo mês do ano anterior também foi impulsionado por um dia útil a mais e uma base de comparação fraca. Em março de 2016, a produção caiu 11,4% ante março de 2015. Eliminando o efeito sazonal e o impacto de um dia útil a mais em março deste ano, a produção teria recuado 1,2% em vez de avançar 1,1%, calculou Macedo.

Como consequência, a indústria brasileira está operando 20,8% abaixo do pico registrado em junho de 2013. A produção retornou ao patamar de dezembro de 2008, época da crise financeira internacional. A retração na passagem de fevereiro para março atingiu todas as categorias de uso. O recuo nos bens de consumo duráveis chegou a 8,5%, puxado pela redução na fabricação de automóveis e de eletrodomésticos.

O declínio corrige um pouco o excesso de otimismo em relação à atividade, opinou o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira. “Não há nada que mostre que a economia está em processo firme de retomada. Apenas a produção de alguns setores parou de cair e se estabilizou.”

Na avaliação do economista-chefe da Gradual Investimentos, Andre Perfeito, o resultado indica a persistência do processo de desaceleração econômica. “Vemos que a desaceleração é persistente não apenas na produção industrial, mas também na arrecadação e no próprio desempenho econômico”, disse. “A variação negativa se soma a outras evidências, como desemprego e até inflação.”

Os fatores conjunturais que explicavam um menor dinamismo da indústria e da economia não se dissiparam, acrescentou André Macedo - a deterioração do mercado de trabalho e o endividamento ainda elevado das famílias atrapalham a retomada da produção, diz. / COLABORARAM MARIA REGINA SILVA E CAIO RINALDI

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45124, 04/05/2017. Economia, p. B6.