Temer faz ofensiva para evitar desmanche da base

22/05/2017

 

 

A DELAÇÃO DA JBS / PSDB e DEM atendem a pedido do Planalto para esperar decisão do Supremo sobre suspensão de inquérito; governo tenta manter agenda de votações para ganhar fôlego

Depois de Michel Temer investir na estratégia de desqualificar o empresário Joesley Batista e pedir ao Supremo Tribunal Federal a suspensão do inquérito contra ele com base na delação do dono da JBS, o presidente e seus principais ministros fizeram ontem um esforço concentrado para evitar o desmanche da base aliada. Principais sócios da coalizão governista, PSDB e DEM atenderam a apelos do Planalto e decidiram esperar a decisão do STF para anunciar se rompem ou não com a gestão Temer.

A reunião marcada no sábado à noite pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que assumiu o comando da legenda, foi desmarcada na manhã de ontem, com a ajuda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A defesa de Temer pede a suspensão do inquérito até que seja verificada a integridade do áudio da conversa entre o presidente e Joesley, gravado e entregue pelo empresário à Procuradoria-Geral da República. A Polícia Federal começou a realizar na noite de ontem a perícia na gravação.

À noite, Temer reuniu 23 deputados federais, seis senadores e 17 dos 28 ministros no Palácio da Alvorada para discutir a crise política.

Tasso e o presidente do DEM, Agripino Maia (RN), compareceram.

No início da tarde, diante de informações de que o jantar convocado pelo presidente seria esvaziado, seus interlocutores dispararam telefonemas para garantir quórum. Os relatos que têm chegado ao núcleo duro do governo não são otimistas. Há pressão de diretórios estaduais pelo desembarque.

Até o momento, PSB – sétima maior bancada na Câmara, com 35 deputados – e Podemos (antigo PTN) já anunciaram o rompimento com o Planalto. Na ofensiva para conter a saída de parlamentares aliados, o governo também busca manter a agenda de votações no Congresso e indicar que a pauta das reformas, principalmente a trabalhista e a da Previdência, será retomada.

Apesar da alta temperatura da crise política, movimentos ligados à esquerda fizeram atos esvaziados ontem pelo País. As manifestações nas ruas a favor da renúncia e de eleições diretas não chegaram a ter dimensão que abalasse ainda mais o Planalto.

___________________________________________________________________________________________

PSDB e DEM vão esperar o Supremo 

Vera Rosa e Marcelo de Moraes 

22/05/2017

 

 

As cúpulas do PSDB e do DEM resolveram dar mais um prazo para Michel Temer e agora aguardam o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido de suspensão do inquérito contra o presidente, na quartafeira, para decidir se mantêm ou retiram o apoio ao governo.

Nos bastidores, os dois partidos já avaliam uma saída alternativa para a crise política, com a construção de um nome de consenso para substituir Temer, caso a situação fique insustentável e haja eleição indireta.

O problema é que ainda não há acordo sobre quem seria o “salvador” da Pátria. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), havia marcado uma reunião para ontem, em Brasília, com dirigentes e líderes de seu partido e também do DEM e do PPS para discutir a agonia de Temer após a delação da JBS. Ministros entraram em campo, porém, para pedir que o encontro fosse adiado.

À noite, Tasso e o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), compareceram a um encontro com Temer, que recebeu ministros, líderes e dirigentes de partidos, no Palácio da Alvorada.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou para Temer no sábado e lhe prestou solidariedade. Dois dias após ter publicado texto nas redes sociais no qual disse que os envolvidos na delação da JBS “terão o dever moral de facilitar a solução, ainda que com gestos de renúncia”, se suas defesas não forem convincentes, FHC disse ao presidente ter sido mal interpretado.

O PSDB e o DEM são hoje os pilares da coalizão, depois do PMDB. A preocupação maior no governo, porém, é com a legenda tucana. O Planalto passou as últimas 48 horas monitorando o comportamento do partido e se movimentando para impedilo de deixar a base de sustentação de Temer. A avaliação é de que, se isso ocorrer, será o fim da gestão peemedebista.

Dirigentes tucanos asseguraram a Temer que não tomarão decisão precipitada, mas admitiram que a pressão para o desembarque, principalmente da ala jovem – os chamados “cabeças pretas” –, é muito forte. Internamente, os tucanos ainda se queixam de que não sabem como administrar o impacto da crise sobre o agora senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).

Impasse. A direção do PSDB do Rio divulgou ontem nota pedindo a renúncia ou o impeachment de Temer e a saída dos quatro ministros tucanos do governo.

A seção fluminense do partido, no entanto, só tem um deputado federal – Otávio Leite, presidente da legenda no Estado – e nenhum senador.

“Qualquer solução fora da Constituição não seria solução, e sim um problema. O Brasil pede que todos os fatos sejam apurados com rigor”, disse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um dos pré-candidatos do PSDB ao Planalto. “Estamos ouvindo as bases e a decisão sobre permanecer ou não no governo será tomada pela Executiva, em conjunto com as bancadas e os governadores”, emendou o deputado Sílvio Torres (SP), secretário- geral da legenda.

Ao Estado, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse não ter informações sobre ameaça de debandada no PSDB e no DEM. “Os dois partidos estão firmes e fortes na base do governo”, afirmou ele.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) precisou fazer ontem, porém, uma operação “segura base” para pedir apoio a Temer. “Conclamamos os aliados para continuarmos acelerando as reformas. A cereja do bolo é a Previdência e tem de ser perseguida, mas, se não chegar, paciência. Ficará para a próxima gestão”, disse.

Na prática, as conversas sobre a possível substituição de Temer estão sendo feitas com cautela.

Se ele renunciar, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumirá o cargo por 30 dias. Depois desse prazo é realizada eleição indireta pelo Congresso.

Reunião. Temer no Palácio da Alvorada, onde recebeu ontem ministros e líderes da base

 

O Estado de São Paulo, n. 45142, 22/05/2017. Política, p. A4