Ex-procurador atua em banca contratada pela J&F

Vera Magalhães

21/05/2017

 

 

A DELAÇÃO DA JBS / Ex-braço direito de Janot, Marcelo Miller deixou MPF para trabalhar em escritório que negocia leniência um dia antes de gravação no Jaburu

 

 

O ex-procurador Marcelo Miller, um dos principais auxiliares de Rodrigo Janot no Grupo de Trabalho da Lava Jato até março deste ano, passou a atuar no escritório que negocia com a Procuradoria- Geral República os termos do acordo de leniência do grupo J&F, que fechou colaboração premiada na operação.

A decisão de Miller de deixar o Ministério Público Federal para migrar para a área privada, que pegou a todos no Ministério Público Federal de surpresa, veio a público em 6 de março, véspera da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer, gravada pelo empresário, no Palácio do Jaburu, que deu origem à delação.

Miller passou a atuar no escritório Trench, Rossi & Watanabe Advogados, do Rio de Janeiro, contratado pelo grupo J&F, que controla a JBS, para negociar a leniência, acordo na área cível complementar à delação.

O acordo de delação de Joesley e dos demais colaboradores da JBS é considerado inédito, seja pelo fato de ser a primeira vez que foi utilizado o instituto da ação controlada na Lava Jato, seja pelos termos vantajosos negociados pelos delatores – que não precisarão ficar presos, não usarão tornozeleira eletrônica, poderão continuar atuando nas empresas e teriam anistia nas demais investigações às quais respondem.

A leniência, inclusive os valores que serão pagos pela JBS no Brasil e no exterior, ainda está em negociação. A íntegra do acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não veio a público, apesar de o ministro Edson Fachin ter levantado o sigilo da delação da JBS.

Marcelo Miller era um dos mais duros auxiliares do Grupo de Trabalho de Janot, um núcleo de procuradores especialistas em direito penal recrutado pelo procurador-geral em 2013.

Ex-diplomata do Itamaraty e considerado um dos mais especializados membros do MPF em direito internacional e penal, Miller esteve à frente de delações como a do ex-diretor da Transpetro Sergio Machado e do ex-senador Delcídio Amaral.

Nos dois episódios foi usado o expediente que deflagrou a delação de Joesley: gravação feita sem o conhecimento de quem estava sendo gravado. No caso Delcídio, quem gravou foi Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró.

Sergio Machado gravou vários expoentes do PMDB e ofereceu as fitas à PGR.

A Procuradoria-Geral da República afirmou que Miller não participou da negociação da delação de Joesley, e que deixou o Grupo de Trabalho da Lava Jato ainda no fim de 2016, antes de se exonerar do Ministério Público.

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Janot solicita delegado para caso de Temer

Fausto Macedo e Julia Affonso

21/05/2017

 

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, solicitou ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que apenas o delegado Josélio Azevedo de Sousa tenha acesso ao inquérito aberto para investigar o presidente Michel Temer, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Janot alegou “sensibilidade” do caso para pedir um delegado exclusivo para a investigação.

Janot pediu um policial de sua confiança para investigar Temer alegando risco de vazamento de informações e de eventual influência política no inquérito. Na petição a Fachin, o procurador destacou que Aécio, “em articulação, dentre outros, com o presidente Michel Temer, tem buscado impedir que as investigações da Lava Jato avancem, seja por meio de medidas legislativas, seja por meio do controle de indicação de delegados de polícia que conduzirão os inquéritos”.

Josélio é um especialista em investigações sobre desvios de recursos públicos. Entre seus pares, ele é respeitado pelo rigor com que conduz inquéritos sobre corrupção.

O delegado tem uma visão crítica das relações entre empresas e doações eleitorais. “No Brasil a realidade é: o doador de campanha está pensando nas benesses que pode obter por intermédio daquela pessoa que está assumindo um cargo público”, disse o delegado em uma reunião da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla).

Josélio preside o inquéritomãe da Lava Jato no Supremo.

Ele mira políticos que integrariam organização criminosa instalada na Petrobrás .

No pedido a Fachin, o procurador argumentou. “Em razão da sensibilidade do presente feito, requer seja determinada a restrição de acesso ao presente inquérito ao Delegado de Polícia Federal Josélio Azevedo de Sousa, que coordena as investigações relacionadas à Lava Jato que tramitam no Supremo Tribunal Federal, bem como aos policiais por ele indicados, sendo vedado o compartilhamento de qualquer informação relacionada à presente investigação a outras pessoas, ainda que se tratem de superiores hierárquicos.” Temer será investigado por três crimes: corrupção passiva, obstrução à investigação de organização criminosa e participação em organização criminosa.

A investigação havia sido autorizada por Fachin no dia 2 de maio, mas estava sob sigilo até quinta-feira passada, quando foi levantado o segredo de Justiça.

 

Especialista

“A realidade é: o doador de campanha está pensando em benesses que pode obter por intermédio daquela pessoa que está assumindo um cargo público”

Josélio Azevedo de Sousa

DELEGADO

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45141, 21/05/2017. Política, p. A5.