O amigo de Aécio que irritou tucanos na Câmara

Júnia Gama

14/07/2017

 

 

Deputado mineiro contrariou maioria dos colegas de bancada e relatou parecer pró-Temer na CCJ

 

Amigo “desde sempre” do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) irritou tucanos ao aceitar ser o relator do voto contrário à denúncia contra o presidente Michel Temer, sem antes consultar a bancada. Deputados favoráveis à aceitação da denúncia no partido — que hoje são majoritários — se queixaram de que a posição de Abi-Ackel causa constrangimento e não representa o movimento do PSDB de descolamento do governo.

Filho de Ibrahim AbiAckel, ministro da Justiça durante o governo militar de João Figueiredo, Paulo frequentou a alta sociedade mineira desde cedo, onde conheceu Aécio Neves, cujos pais eram amigos dos seus. Aos 54 anos, o advogado Paulo Abi-Ackel está em seu terceiro mandato como deputado federal. Seu cargo de maior relevância na Câmara foi como líder da minoria, em 2011. Presidiu o PSDB de Minas em 2009 e, em 2016, quis se candidatar à prefeitura de Belo Horizonte, mas não conseguiu o apoio da legenda. Ganhou o apelido “Diamante” nas planilhas da Odebrecht, acusado de ter recebido repasses para propor emendas de interesse da empreiteira. Na ocasião, disse que a denúncia era inverídica e que as doações recebidas em campanhas foram informadas e aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral.

Logo que os tucanos ficaram sabendo que Abi-Ackel seria o relator, houve reação. O secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), tentou demovê-lo da ideia. O líder da legenda, Ricardo Trípoli (SP), que já se manifestou pelo desembarque do governo, demonstrou contrariedade com a escolha. Ele ressalta que, apesar de o PSDB ter liberado a bancada, a sinalização é ruim.

— Como a maioria da bancada votou contra, ele poderia votar pela não admissibilidade, mas relatar é um passo à frente — disse Trípoli.

Para Silvio Torres, Abi-Ackel tomou uma posição individual, sem considerar o partido. Para o Planalto, o convite do presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), foi visto como um gesto de aproximação, depois de ter ficado isolado no PMDB. Para alguns tucanos, Pacheco faz acenos de olho nas eleições para o governo de Minas Gerais.

— Temos ministros no governo, parlamentares que apoiam o governo. Não tem cabimento vir alguém querer botar limite. Sou radicalmente contra essa denúncia, por muitas razões técnicas, não políticas. Não aceitaria que ninguém me tolhesse — defendeu-se Abi-Ackel. (Colaborou Leticia Fernandes)

O globo, n.30657 , 14/07/2017. PAÍS, p. 4