Valmar Hupsel Filho, Alexa Salomão e Daniel Bramatti
28/05/2017
Entre as centenas de políticos envolvidos nos processos da Operação Lava Jato há uma “elite” de 42 nomes que apareceram nas duas maiores delações reveladas pela Justiça até agora: as da Odebrecht e da JBS. Na lista dos citados por sócios e executivos tanto da empreiteira quanto do conglomerado do setor de carnes estão o presidente Michel Temer e seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de ministros, ex-ministros, governadores e ex-governadores, entre outros.
Os integrantes desse clube de elite teriam recebido, em conjunto, cerca de R$ 1,2 bilhão em propinas e contribuições oficiais de campanha, segundo os depoimentos dos delatores.
O dinheiro teria sido usado pelas empresas para comprar influência ou como contrapartida por benesses recebidas do setor público.
No ranking dos valores recebidos, quem se destaca é o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, mencionado nas duas delações como intermediário de doações em caixa 2 para campanhas eleitorais do PT e influente para intermediar operações com fundos de pensão e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Os depoimentos em que Mantega é citado o relacionam a quase R$ 450 milhões em repasses.
Nessa conta estão incluídos os US$ 150 milhões – convertidos em reais pela cotação da época – que o ex-ministro teria operado em nome de Lula e Dilma em contas no exterior, de acordo com o relato de Joesley Batista, um dos donos da JBS.
O nome de Mantega também apareceu envolvido em supostos crimes no relato de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da maior empreiteira do País. Segundo ele, o ex-ministro “azeitou” um esquema para garantir que a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, aprovasse a compra de uma torre comercial e shopping center em São Paulo da Odebrecht Realizações.
O negócio foi fechado em 2012. Em resposta, Mantega disse que a delação de Odebrecht é uma peça de ficção.
Rio e Minas. O segundo nome de maior destaque nas delações, em termos de valores implicados, é o do ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB). Ele teria recebido cerca de R$ 125 milhões, sendo R$ 98 milhões da Odebrecht.
A seguir, com cerca de R$ 96 milhões associados a seu nome, aparece o tucano Aécio Neves, senador afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em razão das investigações sobre a JBS, ex-governador de Minas e ex-candidato a presidente.
Com base nos depoimentos dos executivos da Odebrecht, foram abertos cinco inquéritos no STF para investigá-lo – o que o tornou recordista em investigações ao lado do senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Na delação da JBS, Aécio é citado em pagamentos de propina disfarçados em operações imobiliárias e de compra de espaço publicitário. O tucano também aparece em uma gravação, feita por Joesley, na qual pediu R$ 2 milhões para pagar sua defesa em processos da Lava Jato. Ao acertar os detalhes de quem buscaria o dinheiro, o senador afirma: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”.
A seguir, indica um primo para fazer a coleta dos recursos.
Atual ocupante da cadeira presidencial, Temer é o personagem de maior peso político a aparecer nas delações. Dois episódios citados nas duas delações tiveram como palco o Palácio do Jaburu, residência oficial dos vice-presidentes. O primeiro foi um jantar no qual Marcelo Odebrecht teria acertado apoio financeiro ao PMDB nas eleições de 2014. O segundo, em março deste ano, foi o diálogo entre Temer e Joesley, gravado pelo empresário, e que mergulhou o governo em sua maior crise.
O CLUBE DOS DELATADOS
● Veja quem são os 42 políticos citados nas duas maiores delações da Operação Lava Jato
84*
APENAS NA JBS
PT
13
Dilma Rousseff
EX-PRESIDENTE
Alexandre Padilha
EX-MINISTRO
Antonio Palocci
EX-MINISTRO
Luiz Inácio Lula da Silva
EX-PRESIDENTE
Guido Mantega
EX-MINISTRO
Fernando Pimentel
GOVERNADOR
Edinho Silva
PREFEITO
Guilherme Lacerda
EX-PRESIDENTE DA FUNCEF
Gleisi Hoffmann
SENADORA
Zeca do PT
EX-GOVERNADOR
Valdemir Garreta
EX-SECRETÁRIO MUNICIPAL
Paulo Ferreira
EX-TESOUREIRO
Marta Suplicy
SENADORA**
DELATADOS PELAS DUAS EMPRESAS
42
Eunício Oliveira
SENADOR
Eduardo Cunha
EX-DEPUTADO
Michel Temer
PRESIDENTE
Eduardo Braga
SENADOR
Jader Barbalho
SENADOR
Henrique Eduardo Alves
EX-MINISTRO
Geddel Vieira Lima
EX-MINISTRO
Vital do Rêgo
EX-SENADOR E ATUAL MINISTRO DO TCU
Valdir Raupp
SENADOR
Sérgio Cabral
EX-GOVERNADOR
Renan Calheiros
SENADOR
PSDB
4
Beto Richa
GOVERNADOR
Aécio Neves
SENADOR
José Serra
SENADOR
Bruno Araújo
MINISTRO
PSD
4
Gilberto Kassab
MINISTRO
Fábio Faria
DEPUTADO
Raimundo Colombo
GOVERNADOR
Marcos Montes
DEPUTADO
445
APENAS NA ODEBRECHT
PSB
Fernando Bezerra
SENADOR
Eduardo Campos
EX-GOVERNADOR
Paulo Câmara
GOVERNADOR
PDT
Carlos Lupi
EX-MINISTRO
Luiz Fernando Emediato
EX-ASSESSOR DE MINISTÉRIO
1
SD
Paulinho da Força
DEPUTADO
1
PRB
Marcos Pereira
MINISTRO
1
PP
Ciro Nogueira
SENADOR
1
Orlando Silva
DEPUTADO PC do B
1
Onyx Lorenzoni
DEPUTADO DEM
O Estado de São Paulo, n. 45148, 28/05/2017. Política, p. A8