Delatores citam propina a Temer, Lula e Dilma

20/05/2017

 

 

Empresário Joesley Batista afirma que nos últimos 7 anos fez repasses ilícitos ao presidente e abasteceu com um total de US$ 150 mi duas contas destinadas aos ex-presidentes petistas

A divulgação do conteúdo da delação premiada dos sócios e ex-diretores da JBS aprofundou a crise política e manteve a incerteza sobre a capacidade do presidente Michel Temer de resistir no cargo um dia depois de o peemedebista afirmar em pronunciamento que não vai renunciar ao mandato. Temer é citado diversas vezes pelos delatores como beneficiário de cerca de R$ 20 milhões em propinas. Ele será investigado no Supremo Tribunal Federal por suspeita de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça. No inquérito, a Procuradoria-Geral da República afirma que Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDBMG) atuaram para impedir o avanço da Lava Jato.

Janot ainda sustenta que o presidente deu aval ao pagamento de propina a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso, em conversa gravada com Joesley Batista. A defesa do presidente aponta a existência de adulterações e montagens no áudio.

Partidos aliados de primeira hora do presidente Michel Temer já repensam o futuro na base governista e buscam uma saída negociada com o Palácio do Planalto diante da perspectiva de agravamento da crise. Líderes de siglas como PSDB, PMDB e DEM pretendem bloquear qualquer iniciativa de realizar eleições diretas por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e articulam um nome consenso para uma eventual disputa via indireta. O nome mais cotado é o do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles – apontado como um fiador da continuidade das reformas.

Em um dos depoimentos que foram tornados públicos ontem, Joesley, dono do grupo JBS, disse que abasteceu duas contas para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para a presidente cassada Dilma Rousseff. O saldo chegou a US$ 150 milhões em 2014. Joesley afirmou que o ex-ministro da Fazenda dos governos do PT Guido Mantega operava as movimentações financeiras. O Estado confirmou que a conta estava em nome de offshores em um banco na Suíça.

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Presidente recebia pagamentos desde 2010, afirma Joesley Batista

Beatriz Bulla, Fabio Serapião, Fábio Fabrini e Leonencio Nossa

20/05/2017

 

 

Empresário relata na delação repasses a pedido do peemedebista; Temer diz que apenas recebeu valores legais

A delação dos executivos do grupo J&F (holding que inclui a JBS) implica o presidente da República, Michel Temer, em negociações de pagamentos feitas desde 2010. Segundo relatos de Joesley Bastista, dono do grupo, pagamentos a pedido do peemedebista superam R$ 6 milhões.

Outro executivo, o diretor Ricardo Saud, fala em repasses de mais R$ 15 milhões cuja distribuição foi definida por Temer, em 2014. Deste valor, R$ 1 milhão foi encaminhado ao amigo pessoal do presidente, o empresário e coronel da PM aposentado, João Baptista Lima Filho (mais informações nesta página).

Joesley disse aos procuradores que sempre recebeu “sinais claros” do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e de Temer de que era necessário fazer pagamentos ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao corretor Lúcio Funaro, presos pela Operação Lava Jato, para que estes ficassem “calmos” e não fizessem delação premiada.

Para negociar a delação, os empresários levaram gravações em áudio e documentos, como planilhas e anotações da empresa à Procuradoria-Geral da República (PGR). Na conversa gravada em março no Palácio do Jaburu, Temer disse que Cunha o “fustiga”. Joesley afirmou a procuradores que entendeu a fala como “recado de que pagasse”.

Saud também falou sobre pagamentos de propina para Cunha e Funaro. “O dinheiro do Eduardo Cunha tinha terminado e o Michel Temer sempre pedia para manter eles lá. O código era ‘tá dando alpiste pros passarinhos? Passarinhos estão tranquilos na gaiola?’”, disse o delator. Ele afirmou que, nessa conversa, Joesley avisou que estava “acabando o alpiste” e Temer teria dito que é “muito importante” manter.

Do presidente. Sobre os pagamentos ao presidente, o empresário disse que em 2010 o peemedebista solicitou R$ 3 milhões.

Destes, R$ 1 milhão foi repassado por meio de doação oficial e R$ 2 milhões foram para a empresa Pública Comunicação, do marqueteiro do peemedebista Elsinho Mouco. No mesmo ano, entre agosto e setembro, Temer solicitou e Joesley repassou R$ 240 mil em propina à empresa Ilha Produções.

Em 2012, Temer voltou a solicitar mais valores, segundo o delator. Dessa vez, o então vicepresidente pediu o repasse de R$ 3 milhões para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura.

Já em 2016, em meio ao impeachment de Dilma Rousseff, Joesley relatou que Temer o procurou novamente para uma reunião em sua casa na região dos Jardins, em São Paulo. Nesse encontro, narrou o delator, o presidente pediu propina no valor de R$ 300 mil para pagar despesa com marketing na internet.

Saud detalhou uma negociação de R$ 15 milhões com Temer, em pagamentos destinados a aliados e a um amigo pessoal do presidente. Ele disse que em 2014 acertou com o ex-ministro Guido Mantega pagamento a senadores do PMDB. Eram “propinas dissimuladas” aos “curingas” da sigla no Senado, para abafar uma rebelião interna que poderia prejudicar a campanha da presidente Dilma e a candidatura de Temer como vice.

O delator disse que Temer, ao saber do acordo feito sem sua autorização, ficou “indignado” e acabou recebendo outros R$ 15 milhões. O diretor disse que o então vice-presidente afirmou que “reassumiria o PMDB”. Em julho de 2014, Temer reassumiu a presidência do partido, após licença. O dinheiro, segundo Saud, saiu de um montante de R$ 300 milhões destinados para o PT – que autorizou o repasse.

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Executivos relatam pagamento de R$ 1 mi em dinheiro vivo a amigo

20/05/2017

 

 

Os delatores da JBS Florisvaldo de Oliveira e Ricardo Saud relataram em delação a entrega de R$ 1 milhão em espécie para João Baptista Lima Filho, amigo pessoal do presidente Michel Temer. O pagamento teria sido acordado com Saud e a entrega dos valores executada por Oliveira.

O pagamento, segundo Saud, era parte dos R$ 15 milhões que Joesley Batista havia se comprometido a pagar para Michel Temer na campanha de 2014. De acordo com Saud, o R$ 1 milhão foi colocado por Temer “no bolso”.

“Eu já vi o cara pegar o dinheiro da campanha e gastar na campanha. Agora, ganhar um dinheiro do PT e guardar para ele no bolso dele, eu acho muito difícil”, afirmou o delator, para quem “o Michel Temer fez uma coisa até muito deselegante”.

Oliveira contou que o endereço citado por Saud para a entrega era a sede da empresa do amigo de Temer, a Argeplan. A empresa faz parte de um consórcio que ganhou concorrência para executar serviços relacionados à Usina de Angra 3 – cujas obras são investigadas na Lava Jato.

Baptista Lima já foi assessor de Temer e frequenta a residência do presidente. Os dois se encontraram na casa do peemedebista em São Paulo, por exemplo, dias após a divulgação das delações da Odebrecht. / F.S., B.B. e F.F.

 

O Estado de São Paulo, n. 45140, 20/05/2017. Política, p. A4