PF combate assassinatos de agentes penitenciários

RENATA MARIZ

20/07/2017

 

 

Operação prende 4 pessoas supostamente ligadas à facção criminosa

Em operação deflagrada ontem para desarticular os planos do Primeiro Comando da Capital (PCC) de matar servidores de penitenciárias federais, a Polícia Federal (PF) cumpriu 12 de 14 mandados expedidos. A ação ocorreu em São Paulo, Rio de Janeiro e Mossoró (RN). Além de buscas e apreensões, quatro pessoas foram presas. Elas são acusadas de auxiliar a facção criminosa em execuções já consumadas.

O GLOBO revelou em junho que o PCC ordenou a morte de oito agentes. A mensagem emitida pela facção era para assassinar dois funcionários de cada uma das quatro penitenciárias federais existentes, como retaliação ao regime disciplinar mais rigoroso aplicado nos estabelecimentos. Em menos de dez meses, três agentes foram executados. Dois deles morreram nos últimos três meses com sinais claros de execução, conforme mostrou a reportagem.

As investigações da PF começaram por conta de uma dessas mortes. Henri Charle Gama e Silva foi assassinado em abril deste ano, por volta das 16h, em frente a um bar que costumava frequentar em Mossoró, onde morava e trabalhava na penitenciária federal localizada no município distante cerca de 270 km de Natal.

A PF descobriu que o plano para matar Henri começara a ser traçado dois anos antes, mas os membros do PCC adiaram o assassinato após identificarem que setores de inteligência federal haviam rastreado o grupo. Durante o período, contaram com o auxílio de uma mulher que trabalhava como doméstica na casa do agente penitenciário e teria dado informações à facção sobre a rotina da família.

Essa mulher, moradora de Mossoró, e a irmã dela, que vive em São Paulo, foram presas na operação de ontem. A PF desconfia que a detida em São Paulo é o elo com o PCC, por meio do marido, que seria membro do grupo criminoso e está preso numa cadeia do interior de São Paulo.

 

EXECUÇÃO COMANDADA DE SÃO PAULO

Henri estava num bairro afastado do centro, onde não havia câmeras, quando foi atingido pelos disparos. A PF conseguiu obter imagens mais distantes do local do crime que mostram o veículo em fuga. O carro usado no homicídio é um automóvel clonado do Rio de Janeiro. Aos poucos, vieram à tona conexões com a morte de outra servidora, Melissa de Almeida Araújo, assassinada em maio em Cascavel, no Paraná.

Além do Rio de Janeiro, as investigações, que começaram em Mossoró, chegaram a São Paulo. O delegado Samuel Elânio de Oliveira Júnior, chefe da Delegacia da PF em Mossoró, disse ao GLOBO que, segundo a apuração, a elaboração das mortes de servidores federais começa em São Paulo, berço do PCC e onde estão presos alguns dos líderes da facção.

—A gente acredita que até o executor, no caso do agente Henri, tenha vindo de São Paulo, mas ainda precisamos ouvir os presos para fechar algumas linhas de investigação. Por enquanto, chegamos às pessoas que possivelmente auxiliaram, como membros da facção ou como parceiros externos, nas mortes — afirmou Oliveira Júnior.

Segundo o delegado, os agentes penitenciários federais continuam correndo risco, apesar da operação de ontem. Ele lembra que o plano do PCC era matar dois de cada presídio federal. Há unidades em Catanduvas (PR), Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO). No caso de Henri, por exemplo, já havia informações de perigo, segundo Oliveira Júnior:

— Ele adotou medidas de cautela no trajeto do presídio até em casa, mas, provavelmente, não nos momentos de lazer, quando os criminosos aproveitaram a oportunidade. Tudo indica que a ajuda da mulher que prestava serviços domésticos na casa dele também tenha auxiliado o grupo a consumar o plano.

Antes de Henri e Melissa, outro agente penitenciário federal, Alex Belarmino Almeida Silva, foi assassinado em setembro do ano passado no Paraná, a mando do PCC, segundo as investigações. As três mortes são apontadas como o início do plano da facção. O homicídio mais recente, de Melissa, que trabalhava como psicóloga na unidade de Catanduvas, levou o Ministério da Justiça a suspender as visitas no sistema penitenciário federal.

O globo, n.30663 , dd/mm/2015. PAÍS, p. 6