Título: Irã planeja mais testes militares
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 07/01/2012, Mundo, p. 17

Guarda Revolucionária fará exercícios navais no Estreito de Ormuz, em fevereiro

O Estreito de Ormuz, porta de entrada do Golfo Pérsico, será palco de mais demonstrações do poderio militar do Irã e dos Estados Unidos. A Guarda Revolucionária iraniana anunciou, ontem, que fará novos exercícios navais na disputada região, no mês que vem. Na última quinta-feira, os norte-americanos já haviam comunicado a intenção de realizar atividades semelhantes, com a ajuda de Israel. A dupla arqui-inimiga do regime islâmico garantiu que as manobras já estavam previstas e que não têm relação com a tensão diplomática. Enquanto isso, do outro lado da Península Arábica, o Exército dos EUA libertou 13 iranianos que haviam sido sequestrados por piratas da Somália.

Ali Fadavi, comandante naval das forças de segurança do Irã, disse à agência de notícias Fars que as próximas exibições correspondem ao sétimo estágio de uma operação anual, batizada de O Grande Profeta. O militar não deu detalhes sobre o exercício, mas afirmou que ele será "diferente" dos realizados até agora. " A República Islâmica do Irã tem domínio completo da região e controla todos os movimentos que ocorrem nela", bradou Fadavi. A última atividade bélica coordenada pelos iranianos terminou na terça-feira, após 10 dias de testes com mísseis de médio alcance. No mesmo período, os EUA movimentaram um porta-aviões que estava no Golfo Pérsico, fazendo-o atravessar o Estreito de Ormuz — algo que provocou discursos inflamados dos iranianos.

Os testes militares e a guerra verbal entre Washington e Teerã já colocaram outros países da região em estado de alerta. Os mais preocupados são os aliados de Washington: o Barein, que hospeda a Quinta Frota da Marinha dos EUA; o Catar, onde está o comando central do exército; o Kuweit e os Emirados Árabes Unidos, ambos com tropas americanas em seu território. "O relógio está correndo, e nós, no Golfo, não temos controle sobre isso", afirmou à agência France-Presse o cientista político kuweitiano Sami Al-Faraj. "Nenhum Estado quer a guerra, mas todos estão se preparando para a possibilidade de que isso possa ocorrer", completou o analista militar Riad Kahwaji.

Mesmo com os temores de um conflito, especialistas creem que as exibições não passam de retórica. O Irã vive uma grave instabilidade interna — com disputa de poder entre o presidente Mahmud Ahmadinejad e o líder supremo Ali Khamenei — e as atividades seriam uma forma de mostrar a determinação do regime aos iranianos. "O Irã não deseja um conflito militar direto com os Estados Unidos, até porque seria derrotado. Mas espera aumentar as tensões no Golfo Pérsico e fazer disparar o preço do petróleo", disse ao Correio o analista Alireza Nader, da consultoria internacional Rand Corp.

Na quinta-feira, a "batalha naval" ganhou um componente inusitado. No Mar da Árabia, do outro lado da península, o exército norte-americano resgatou um barco de pesca iraniano que havia sido sequestrado por piratas da Somália. Treze homens foram libertados. "Nós fizemos o que temos de fazer nessa situação. Eu acho que isso envia uma mensagem importante para o mundo de que os EUA vão respeitar as normas internacionais e é exatamente o que fazemos aqui", declarou o secretário de Defesa, Leon Panetta, em uma entrevista à rede de TV CBS.

De olho nos latinos O presidente iraniano desembarga amanhã em Caracas para uma visita de cinco dias por países da América Latina — todos com boas relações com o regime islâmico. Depois da Venezuela, Ahmadinejad irá para Nicarágua, Cuba e Equador. A viagem faz parte de uma estratégia para a busca de apoio fora do Oriente Médio e da Ásia.