Cunha comprou voto para presidir Câmara, diz Joesley

Ricardo Brandt, Fabio Fabrini, Fábio Serapião e Beatriz Bulla

20/05/2017

 

 

‘Ele saiu comprando um monte de deputado’, disse Joesley Batista em delação; empresa deu R$ 30 milhões. Defesa de peemedebista nega

O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) cobrou R$ 30 milhões de propinas na disputa pela presidência da Câmara, em 2015, e R$ 20 milhões para aprovar um projeto de lei. É o que afirma o empresário Joesley Batista, dono da JBS, em sua delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato. “Foram R$ 30 milhões, nós demos R$ 30 (milhões)”, afirmou Joesley.

“Ele saiu comprando um monte de deputado Brasil afora.

Para isso que serviam esses R$ 30 milhões.” Cunha, que está preso em Curitiba, é um dos pivôs do escândalo que encurralou o presidente Michel Temer após a delação do dono da JBS. O deputado cassado seria beneficiário de uma mesada de R$ 500 mil por semana ao longo de 20 anos em troca de seu silêncio.

No depoimento da delação, o empresário disse à Procuradoria- Geral da República (PGR) que informou o presidente Temer, em reunião no Palácio do Jaburu, que pagamentos a Cunha haviam cessado e que ainda dava R$ 400 mil de mensalidade ao corretor Lúcio Bolonha Funaro, também preso, apontado como operador do peemedebista e do empresário em esquemas de corrupção.

O objetivo dessa mesada, explicou Joesley, era garantir o silêncio tanto de Funaro quanto de Cunha. “Temer disse que era importante continuar”, contou de trecho do depoimento. Joesley classificou ainda Cunha como um político “incisivo” e “bom de briga”.

Na delação de Joesley, no anexo que trata do tema “Eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados”, o empresário explicou como foram pagos os valores: “R$ 10,9 milhões – várias notas fiscais emitidas contra a JBS entre 2 de setembro de 2014 e 2 de outubro de 2014; R$ 12 milhões – pagos em dinheiro entregue em várias praças; R$ 5,6 milhões – através de doações oficiais ao PMDB Nacional e vários correligionários de Cunha”, registrou o anexo.

O presidente Temer negou ter dado aval aos pagamentos pelo silêncio de Cunha. Sobre as novas acusações, a defesa de Cunha negou que o ex-deputado tenha recebido qualquer valor do empresário. O advogado de Funaro afirmou que ainda está tomando conhecimento da integralidade do material relacionado à delação.

Cunha foi eleito presidente da Câmara no primeiro turno, em 2015, derrotando o candidato do governo Dilma Rousseff, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), por 267 votos a 136.

O empresário disse que Cunha cobrava propinas sempre justificando a necessidade de pagar terceiros. “Eu preciso comprar outros deputados, em tese o dinheiro era sempre para uma terceira pessoa.”

Saldo. O dono da JBS disse à Lava Jato ter pago R$ 5 milhões de “saldo de propina” a Cunha, depois de preso. O empresário relatou que, além dos R$ 30 milhões da eleição da Câmara, devia R$ 20 milhões ao peemedebista, referentes à atuação dele na tramitação de projeto de lei que desonerou a cadeia produtiva do frango.

Joesley afirmou que seu grupo empresarial pagou “nos últimos anos” R$ 400 milhões em propina a políticos e servidores públicos. A lista, segundo ele, inclui senadores, deputados e presidentes da República.

O delator contou que o levantamento dos valores foi feito por meio de uma investigação interna em seu grupo empresarial, que ele próprio determinou, antevendo que seria chamado a dar explicações sobre movimentações ao Ministério Público Federal (MPF).

A JBS é alvo de ao menos cinco operações policiais que avaliam fraudes contra a administração pública, lavagem de dinheiro e corrupção. O empresário contou que seu grupo empresarial está envolvido em crimes há “10, 15 anos”.

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Empresário relata R$ 20 milhões a Kassab em 7 anos de ‘mesada’

Valmar Hupsel Filho

20/05/2017

 

 

Em delação premiada, Wesley Batista disse que a JBS pagou R$ 350 mil por mês ao ministro desde 2009 até este ano

O empresário Wesley Batista, um dos sócios do frigorífico JBS, disse que a empresa fez pagamentos de propinas mensais ao ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), entre o fim de 2009 e início deste ano. Os pagamentos somam R$ 20 milhões, uma média de R$ 3 milhões por ano, disse.

As afirmações foram feitas na delação premiada que o empresário firmou com a Procuradoria- Geral da República (PGR).

Wesley disse que o valor pago era um “overprice” (ou seja, um pagamento “por fora”) de contratos que Kassab tinha com o frigorífico Bertin, herdados quando a JBS adquiriu a fábrica, no fim de 2009.

Segundo o empresário, eram dois contratos com Kassab, um legal, de aluguel de caminhões e com efetiva execução do trabalho, e o segundo seria um “complemento”.

“A JBS comprou Bertin no final de 2009 e ficou pagando o contrato de aluguel desses caminhões, mais um adicional de R$ 350 mil (por mês), que era propina, em que pese a JBS nunca teve nenhum negócio específico com Kassab”, constou de anexo da delação.

Questionado se o assunto foi discutido entre representantes da JBS e Kassab, Wesley afirmou que foram “várias vezes”.

Em nota, o ministro negou todas as acusações. “Cumpre esclarecer que o ministro detém participação societária em empresa prestadora de serviços que opera dentro de estrita legalidade.

Não houve qualquer recebimento de recursos pessoais pelo ministro, o que ficará devidamente comprovado”, informou nota do ministério.

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MBL e Vem Pra Rua recuam e cancelam ato contra Temer

Gilberto Amendola e Valmar Hupsel Filho

20/05/2017

 

 

Já os grupos ligados aos movimentos sociais, aos sindicatos e ao PT mantêm manifestação amanhã na Paulista

Os movimentos que apoiaram o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff decidiram não organizar o ato pela renúncia do presidente Michel Temer que aconteceria amanhã.

Na última sexta-feira, o Vem Pra Rua e o MBL haviam divulgado uma manifestação nacional pela saída de Temer. No dia seguinte, após a divulgação dos áudios envolvendo o presidente da República e o dono da JBS, Joesley Batista, eles alegaram “falta de segurança” e “denúncias inconclusivas” como razões para cancelar a mobilização.

Já os grupos que atuaram contra o impeachment de Dilma e são ligados aos movimentos sociais, sindicatos, e ao PT mantiveram o ato de domingo.

“Nós sempre realizamos manifestações de acordo com a Polícia. Mas, dessa vez, a polícia disse que não garantiria o mesmo nível de segurança”, disse o coordenador do Vem Pra Rua, Rogério Chequer. A alegação é que com a realização da Virada Cultural neste fim de semana, o policiamento ficaria diluído e não seria possível contar com o mesmo efetivo de policiais na Avenida Paulista. Chequer afirmou que com o cancelamento do ato em São Paulo, o grupo preferiu segurar as manifestações também em outras cidades.

“Somos favoráveis à renúncia do presidente e a prisão de todos os políticos envolvidos em corrupção. Em breve, marcaremos um novo ato”.

Já o MBL, em sua página na internet, divulgou uma série de posts em que ironiza a força dos áudios e das denúncias contra Temer. Para o grupo, o que foi divulgado até o momento é “inconclusivo” e “sensacionalista”.

O MBL vai aguardar os próximos desdobramentos para definir se marca novo ato.

Esquerda. O Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular, grupos que defenderam a permanência da presidente cassada Dilma Rousseff, mantiveram o ato para amanhã, às 15h, na Avenida Paulista. A manifestação vai pedir a renúncia ou o impeachment do presidente Temer e a realização de eleições diretas.

Além disso, vão marcar posição contra as reformas da Previdência e Trabalhista).

Sobre a desistência do Vem Pra Rua e do MBL, o coordenador da Frente Brasil Popular, Raimundo Bonfim, disse que “o combate contra a corrupção desses grupos é seletivo”. Para ele, “quando a Dilma foi afastada, MBL e Vem Pra Rua saíram das ruas”, disse Bonfim.

No twitter, o líder do MTST, Guilherme Boulos, espera tomar a Avenida Paulista e outras capitais com o grito de ‘Fora Temer’ e ‘Diretas já’. “Já era um governo ilegítimo que agora perde sua base política”, fala. Sobre os movimentos que desistiram das manifestações, ele diz. “O estranho era eles pedindo a renúncia do Temer.” COLABOROU PEDRO VENCESLAU

 

O Estado de São Paulo, n. 45140, 20/05/2017. Política, p. A12