J&F recusa acordo de R$ 11 bi com MPF

Josette Goulart

20/05/2017

 

 

Proposta dos procuradores venceu ontem às 23h59min. Empresa ofereceu R$ 1,4 bi

O grupo J&F não aceitou os termos do acordo de leniência proposto pelo Ministério Público Federal (MPF), que havia condicionado o negócio ao pagamento de uma multa de R$ 11,17 bilhões, que corresponde a quase 6% do faturamento do grupo, em dez anos. A proposta venceu ontem às 23h59 e, segundo o MPF, não houve acordo.

Agora pode ser aberta uma nova rodada de negociações em outras bases e em termos piores do que a proposta expirada. Se não fechar acordo, as investigações seguem normalmente e, em caso de ações judiciais, a empresa arcará com as consequências.

Segundo informou o MPF, os representantes da J&F haviam oferecido pagar somente R$ 1 bilhão, que equivaleria a 0,51% do faturamento. Às 21 horas de ontem, a empresa fez uma nova proposta, de R$ 1,4 bilhão. Os procuradores recusaram de pronto. Fontes próximas à empresa entendem que a ideia seria fechar pela metade do valor proposto pelo MPF.

O acordo de leniência corre em paralelo com o de delação. Se os termos propostos pelo MPF tivessem sido aceitos, seria a maior multa da história mundial paga por uma empresa por atos de corrupção a apenas um governo. O maior acordo foi o do grupo Odebrecht, que incluiu a Braskem, fechado no ano passado. A Odebrecht se comprometeu a pagar cerca de R$ 8 bilhões, em 23 anos, somente para o governo brasileiro. Outros R$ 3,5 bilhões foram destinados a acordos com autoridades americanas e suíças, além de US$ 185 milhões fechados com a República Dominicana.

O grupo J&F também terá de negociar uma multa a ser paga para o Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA, segundo advogados especializados no assunto. A empresa já está em tratativas com o DoJ. Pela lei anticorrupção americana, pessoas ou empresas que têm qualquer tipo de negócio nos EUA estão sujeitas à lei. A JBS tem forte atuação no país, que representa cerca de metade do faturamento no processamento de carnes.

Em carta aberta enviada ontem à imprensa pelo presidente da J&F Investimentos, Joesley Batista, o empresário assumiu os erros, mas fez questão de afirmar que os negócios fora do Brasil seguiram preceitos éticos. Segundo alguns advogados, é uma forma de tentar evitar qualquer tipo de investigação em outros países onde atua. A JBS tem unidades espalhadas pelo mundo.

A estratégia do grupo J&F foi feita tomando como base a experiência vivida pela Odebrecht. Segundo fontes próximas à empresa, seria um exemplo a não ser seguido. Porém, mais do que o acordo de leniência da Odebrecht, os executivos do grupo J&F estudaram as delações dos 77 executivos da empresa. Joesley não queria parar na prisão como Marcelo Odebrecht.

A estratégia foi traçada por Joesley e pelo vice-presidente Jurídico, Francisco de Assis. Eles conseguiram, assim, a imunidade dos delatores, continuar atuando nas empresas e o pagamento de uma multa de R$ 250 milhões.

Nas primeiras investigações que vieram a público, no entanto, o grupo J&F parecia inicialmente seguir o que fez a Odebrecht: negar. Com a operação Greenfield, a empresa chegou a fazer uma investigação interna na Eldorado Celulose, conduzida pelo próprio Joesley. Os resultados apresentados pela Veirano Advogados diziam que não se poderia afirmar que havia irregularidades, nem mesmo nos contratos que a Eldorado tinha com Lúcio Funaro, acusado de cobrar propina para liberar empréstimo no FI-FGTS.

O resultado foi contestado pelo conselheiro da Funcef, fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, na empresa, Max Pantoja, que entregou as suspeitas ao MPF. Joesley chegou a, publicamente, colocar suspeitas sobre a atitude de Pantoja. Agora, na delação, o próprio Joesley relata que os contratos com Funaro pagos pela Eldorado eram referentes a notas frias.

- Valores

6% do faturamento do grupo J&F representaria a multa exigida pelo MPF para leniência

R$ 8 bi foram pagos pela Odebrecht em acordo semelhante no Brasil

REAÇÕES

Sílvio Santos

Apresentador e empresário

“Eu não estava mais pensando em política, mas, depois que o Luciano Huck se candidatou, eu fiquei muito chateado e eu acho que vou me candidatar”

Joaquim Barbosa

Ex-ministro do STF

“Não há outra saída: os brasileiros devem se mobilizar, ir para as ruas e reivindicar com força: a renúncia imediata de Michel Temer”

Wagner Moura

Ator

“Agora é ‘diretas já’. É o momento de a gente escolher. A concretização do golpe seria a gente ter um presidente escolhido por este Congresso que está aí”

Márcio Garcia

Ator

“Que vergonha para todos nós. Acho que neste momento não há um único brasileiro orgulhoso. Não existe um eleitor neste País que não esteja decepcionado com o seu candidato”

Janaína Paschoal

Jurista

“Naquele momento, pensei nos netos (quando pediu o impeachment da Dilma); neste, penso no avô. Não consigo parar de refletir sobre a decepção de Tancredo”

Roberto Jefferson

Ex-deputado

“Não tem nenhum crime, o presidente não pediu para ninguém para fazer nada. Você ouve a gravação, duas, três, quatro, cinco vezes e vê nitidamente que é uma trapaça. Uma trapaça que tem, a meu ver, o objetivo de lucrar no mercado financeiro. Foi um ataque especulativo ao Tesouro nacional, à moeda nacional”

Marcelo Tas

Apresentador

“O momento não é de comemorar a desgraça. Que a indignação nos estimule a ‘restartar’ o Brasil com tranquilidade e sem salvadores da Pátria”

 

O Estado de São Paulo, n. 45140, 20/05/2017. Política, p. A13