A SENTENÇA DE LULA

13/07/2017

 

 

Moro condena petista a 9 anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro

 

Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se ontem o primeiro ex-presidente da República condenado por corrupção no período democrático. O juiz Sergio Moro condenou o petista a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter recebido um tríplex da OAS no Guarujá, em troca de benefícios do governo à empreiteira. Mas o juiz decidiu não decretar a prisão de Lula por “prudência”. Ele avaliou que isso provocaria um “trauma”.

 

Moro acusou o ex-presidente de adotar “táticas de intimidação” contra ele, delegados e procuradores. Além da pena de prisão, o petista vai ter de pagar multa de R$ 669,7 mil e não poderá exercer cargo público por 19 anos, se a sentença vier a ser confirmada nos tribunais superiores. O petista, no entanto, não está impedido de disputar eleições, o que só ocorrerá se a condenação for mantida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A perspectiva de que seja barrado pela Lei da Ficha Limpa aumenta ainda mais a incerteza sobre a disputa de 2018.

A defesa de Lula afirmou que a condenação “ataca” a democracia, e a decisão de Moro tem conotação política e envergonha o Brasil. O ex-presidente, que chegou a fazer um longo e irritado pronunciamento quando foi levado para uma condução coercitiva, em março, desta vez não se pronunciou. Seus aliados, como a ex-presidente Dilma Rousseff, saíram em sua defesa. A condenação teve enorme impacto na política e na economia e também ampla repercussão na imprensa internacional. O dólar caiu 1,4% e fechou em R$ 3,20, menor cotação desde maio.

O Palácio do Planalto recebeu a notícia com sentimento dúbio: por um lado, de alívio, por tirar momentaneamente o foco das denúncias contra Michel Temer; de outro, de apreensão, por “abrir a porteira” para a condenação de outros políticos. Ao contrário do que apregoavam o presidente e seus aliados, não houve grandes protestos pelo país. O maior deles, na Avenida Paulista, em São Paulo, reuniu apenas 300 pessoas. Em Curitiba, um número ainda menor de manifestantes foi à sede da Justiça Federal demonstrar apoio ao juiz Moro.

O globo, n.30656 , 13/07/2017. PAÍS, p. 3