Reportagem do GLOBO sustenta condenação

DIMITRIUS DANTAS

TIAGO DANTAS

13/07/2017

 

 

Ex-presidente caiu em contradição quando tentava explicar sua relação com o imóvel

Na sentença em que condenou o ex-presidente Lula, o juiz Sergio Moro destacou duas reportagens de O GLOBO que ligaram o expresidente Lula ao tríplex no Guarujá como provas relevantes na condenação do petista. Em 2010, o GLOBO revelou que o apartamento no condomínio Solaris pertencia ao ex-presidente. Na época, a informação foi confirmada pela própria assessoria do então presidente: “Procurada, a Presidência confirmou que Lula continua proprietário do imóvel”, diz a reportagem.

Para Moro, a ligação de Lula com o tríplex e a resposta da Presidência são provas “bastante relevantes”, uma vez que Lula não era investigado à época.

“Não havia, por evidente, como a jornalista em 2010 ou 2011 antever que, no final de 2014, ou seja, três anos depois, a questão envolvendo o ex-presidente e o apartamento tríplex seria revestida de polêmica e daria causa a uma investigação criminal”, escreveu Moro.

No interrogatório, Lula se contradisse ao explicar a revelação do tríplex. O petista contou a Moro que só soube do apartamento em 2005, na ocasião da aquisição da cota por Marisa Letícia, e em 2013, três anos após a publicação da reportagem.

— Eu ouvi falar desse apartamento em 2005, quando comprei (a cota). E fui voltar a ouvir falar do apartamento em 2013, ou seja, há um interregno de discutir este apartamento da minha parte de 2005 a 2013 — afirmou Lula, questionado, então, por Moro.

 

LULA: INVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

— Consta do processo uma matéria do jornal O GLOBO, de 10 de março de 2010, na qual se afirmava naquela época, abro aspas: “A família Lula da Silva deverá ocupar a cobertura tríplex com vista para o mar”. Relativamente a esse prédio em Guarujá, o senhor saberia me explicar como a jornalista em 2010 poderia afirmar que a cobertura tríplex seria do ex-presidente? — perguntou o juiz na ocasião.

Lula respondeu que se tratava de uma invenção do Ministério Público. Moro lembrou o ex-presidente de que não havia investigação sobre o tema à época.

— Sei lá quando, fazer ilação se faz em qualquer momento — respondeu Lula.

Na sentença, Moro considerou que, no seu interrogatório, Lula falhou em apresentar esclarecimentos concretos quando confrontado com as contradições entre as suas declarações e o que constava nos documentos — entre eles, as reportagens publicadas pelo GLOBO em 2010 e 2014. “A única explicação disponível para as inconsistências e a ausência de esclarecimentos concretos é que, infelizmente, o ex-presidente faltou com a verdade dos fatos em seus depoimentos acerca do apartamento 164-A, triplex, no Guarujá”, escreveu o juiz.

O globo, n.30656 , 13/07/2017. PAÍS, p. 19