Câmara já recebeu 8 pedidos de impeachment

Igor Gadelha e Daiene Cardoso

19/05/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Presidente da Casa, Rodrigo Maia, do DEM, afirma que ainda não leu as solicitações; parlamentares do PSDB são autores de uma das ações

A Câmara dos Deputados recebeu, até a noite de ontem, oito pedidos de impeachment do presidente Michel Temer. Além de parlamentares da oposição, um grupo de ao menos sete parlamentares do PSDB, considerado o principal aliado do governo, protocolou um desses pedidos. A ação foi articulada pelo deputado João Gualberto (BA).

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem ao Estado que ainda não tomou decisão sobre os pedidos.

“Não posso falar daquilo que não li”, disse.

Aliado de Temer e primeiro na linha sucessória da Presidência da República, Maia afirmou não ter interesse em dar andamento ao processo. Mas não quer avançar qualquer sinal nessa discussão. Embora líderes governistas tenham dito que ele vai rejeitar todos os pedidos, o deputado só deverá analisar os casos na próxima semana, quando a situação política de Temer já deverá estar mais definida.

Além do pedido de parlamentares do PSDB, a Mesa Diretora da Câmara também recebeu dois pedidos de impeachment protocolados pelo deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), um do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um do deputado João Henrique Caldas (PSB-AL), outro do deputado Diego Garcia (PHS-PR) e um do deputado estadual de Goiás Junio Alves Araújo (PRP). A oposição também protocolou um pedido em conjunto, com apoio do PSB, que é da base.

“Sem chance de abrir impeachment.

O Rodrigo é um cara comprometido com o País. Jamais trabalharia contra o Michel”, afirmou o deputado Beto Mansur (PRB-SP), que esteve com o presidente da Câmara ontem.

Até mesmo a oposição reconhece que Maia não deve acatar os pedidos. “Muito difícil”, afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que é próximo do parlamentar fluminense.

Maia não foi à Câmara ontem.

Passou o dia cercado de deputados na residência oficial, entre eles, Pauderney Avelino (DEM-AM), Efraim Filho (DEM-PB), Rubens Bueno (PPS-PR), Benito Gama (PTB-BA) e Jutahy Júnior (PSDB-BA).

Alguns ministros, como o da Educação, Mendonça Filho (DEM), também participaram de reuniões para discutir a situação do governo Temer.

As duas únicas vezes que o presidente da Câmara se ausentou foi quando foi chamado no Palácio do Planalto para conversar   com Temer. Maia esteve no local pela manhã e à tarde. Ele acompanhou o pronunciamento do presidente da República no Planalto e foi um dos aliados que aplaudiram Temer após o discurso. O parlamentar fluminense não se pronunciou publicamente sobre o assunto.

Áudios. A avaliação durante todo o dia era de que os áudios, quando divulgados, tornariam a situação do governo ainda mais grave. Nas conversas, deputados da base aliada diziam esperar que Temer renunciasse por “bom senso”. Eles avaliaram que a renúncia diminuiria a pressão sobre o presidente da Câmara pelo impeachment e poderia ser uma saída mais honrosa para Temer. Mesmo sem a renúncia, deputados já conversam sobre possíveis cenários para eleições direitas para presidente.

Na Câmara, já há um pedido de impeachment de Temer aberto por ordem do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão do ministro é de abril do ano passado. Desde então, a comissão especial que analisará esse primeiro pedido ainda não foi instalada na Casa. Isso porque líderes da base resistem a indicar nomes para o colegiado.

 

O Estado de São Paulo, n. 45139, 19/05/2017. Política, p. A7