STF afasta Aécio; irmã do senador é presa

Breno Pires, Fábio Fabrini, Fábio Serapião, Fausto Macedo, Julia Affonso, Rafael Moraes Moura e Leonardo Augusto 

19/05/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Tucano foi alvo de operação derivada de delação premiada de empresários da JBS

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi afastado ontem de suas funções parlamentares por decisão do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele também foi alvo de um pedido de prisão feito pelo procurador- geral da República, Rodrigo Janot, negado posteriormente por Fachin. As medidas contra o senador ocorreram no âmbito da Operação Patmos, da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República.

A irmã de Aécio, Andrea Neves, e o primo, Frederico Pacheco de Medeiros, foram presos preventivamente.

Os pedidos de prisão e de busca e apreensão foram feitos com base na delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS, e de outros empresários do grupo. Joesley gravou uma conversa com Aécio na qual o tucano pede R$ 2 milhões.

O valor, conforme a investigação, foi entregue em espécie ao primo do parlamentar mineiro, que repassou os montantes a um assessor do senador Zezé Perrella (PMDB-MG). Posteriormente o dinheiro foi entregue a uma empresa do filho de Perrella em Belo Horizonte. Segundo as investigações, Andrea, que também é assessora de Aécio, foi quem articulou o encontro entre o irmão e Joesley.

Alvos. A Operação Patmos cumpriu 41 mandados de busca e apreensão e 8 de prisão preventiva em 5 estados e no Distrito Federal. Segundo a PF, resultou também na apreensão de R$ 2 milhões. O nome da operação é uma referência a ilha grega onde o apóstolo João teria recebido mensagens do apocalipse.

Entre os detidos estão o assessor de Perrella, Mendherson Souza Lima, encarregado de entregar o dinheiro em Minas Gerais, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que destinou o dinheiro a Cunha, e o procurador da República Ângelo Goulart Villela (mais informações nesta página).

Cunha e Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB, que já estão presos, também foram alvo. Rocha Loures e o exdeputado estadual Gustavo Perrella (SD) tiveram buscas e apreensões em seus endereços.

Andrea foi presa em um condomínio em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.

O apartamento dela, em Copacabana, também foi alvo de busca e apreensão, bem como o apartamento de Aécio, em Ipanema, de onde policiais e funcionários do Ministério Público Federal saíram com um malote e uma mochila. O gabinete e a casa do tucano em Brasília também passaram por buscas. O mineiro estava no imóvel localizado no Lago Sul.

Ao afastar Aécio da função parlamentar ou “de qualquer outra função pública”, Fachin impôs duas medidas cautelares ao tucano: a proibição de contatar qualquer outro investigado ou réu no conjunto de fatos revelados na delação da JBS e a proibição de se ausentar do País, devendo entregar seu passaporte.

No documento encaminhado ao Supremo em que pediu a deflagração da Patmos, Janot, por sua vez, afirma que “alguns políticos continuam usando estrutura partidária e o cargo para crimes em prejuízo do Estado e da sociedade” e, apesar da Operação Lava Jato, uma “espiral de condutas reprováveis continua em marcha com a mesma ou maior intensidade e desfaçatez”. 

Busca. Aécio Neves ontem em sua casa, no Lago Sul, em Brasília, onde a PF cumpriu mandatos de busca e apreensão

Presa. Andréa foi levada ontem para presídio em BH

Apreensão. PF apreendeu cerca de R$ 2 mi na operação

Prejuízo

“Alguns políticos continuam usando estrutura partidária e o cargo para crimes em prejuízo do Estado e da sociedade”

Rodrigo Janot

PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

‘PATMOS’

● A Polícia Federal cumpriu ontem mandados judiciais, autorizados pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo; operação mira em citados na delação da JBS

LOCAIS

BUSCAS

PRISÕES

PREVENTIVAS

Minas Gerais

17

3

Paraná

2

1

Rio de Janeiro

3

São Paulo

7

1

Maranhão

1

Distrito Federal

12

2

ORDENS JUDICIAIS -  49

MANDADOS DE BUSCA E APREENSÃO – 41

Principais alvos de buscas

Aécio Neves

(PSDB-MG), SENADOR AFASTADO

LOCAIS DE BUSCA E APREENSÃO

● Gabinete no Senado

● Apartamento em Belo Horizonte

● Apartamento no Rio

● Propriedade em Cláudio (MG)

O STF afastou ontem Aécio do mandato de senador. O tucano teria solicitado R$ 2 milhões a Joesley Batista, dono da JBS

Zezé Perrella

SENADOR (PMDB-MG)

Gustavo Perrella

FILHO DE ZEZÉ

Rocha Loures*

DEPUTADO (PMDB-PR)

João Baptista Lima Filho

EX-ASSESSOR DE TEMER

Altair Alves

LIGADO A EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ)

 

8 MANDADOS DE PRISÃO PREVENTIVA

Principais alvos de prisão preventiva

Andrea Neves

IRMÃ DE  AÉCIO

Frederico Pacheco de Medeiros

O “FRED”, PRIMO DE AÉCIO

Mendherson Souza Lima

ASSESSOR PARLAMENTAR DE ZEZÉ PERRELLA

Ângelo Goulart Villela

PROCURADOR DA REPÚBLICA, ATUA NO TSE

Roberta Funaro

IRMÃ DO OPERADOR LÚCIO FUNARO

*O STF também autorizou o afastamento do parlamentar

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Prisão de procurador tem ‘gosto amargo’, afirma Rodrigo Janot

19/05/2017

 

 

Ângelo Goulart é suspeito de negociar propina para vazar para a JBS investigações feitas por força-tarefa do MP

O procurador da República Ângelo Goulart foi preso na Operação Patmos, sob suspeita de negociar propina para vazar informações de investigações feitas pela força-tarefa da Operação Greenfield sobre a JBS. De acordo com a delação do acionista do grupo Joesley Batista, o esquema envolveria o pagamento de R$ 50 mil mensais.

Em junho, Goulart defendeu vigorosamente na Câmara o “10 Medidas contra a Corrupção”, projeto dos sonhos da força- tarefa da Lava Jato. Ainda ontem o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, assinou a exoneração dele da função eleitoral e revogou a designação na Greenfield. Janot ainda afirmou em nota a seus pares que essa prisão “tem gosto amargo” para a instituição.

A Associação Nacional dos Procuradores da República também afastou Goulart de sua diretoria. Para a entidade, a prisão dele demonstra que qualquer investigação do Ministério Público é impessoal e respeitadora do estado de direito.

O caso. O procurador teria tido encontros com representantes da JBS sem comunicar aos colegas. Conforme as colaborações, em uma ocasião teria ligado para um dos investigadores da força-tarefa, na presença de integrantes do grupo empresarial, e colocado no viva-voz. Ele também teria tirado uma cópia do diálogo de procuradores sobre o caso e gravado reunião na qual a força-tarefa tratava de uma possível colaboração do empresário Mário Celso Lopes, parceiro de negócios da J&F, holding que controla a JBS. O Estado não localizou representantes de Goulart. O gabinete dele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi alvo de busca e apreensão. 

 

O Estado de São Paulo, n. 45139, 19/05/2017. Política, p. A10