Senador escolhe seu sucessor no PSDB

Pedro Venceslau e Adriana Ferraz 

19/05/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Aécio Neves contraria bancada da Câmara e põe Tasso Jereissati (CE) no comando interino da sigla; agora tucano vai se dedicar à defesa

Mesmo afastado do Senado por decisão do Supremo Tribunal Federal e ocupado com sua defesa, o senador Aécio Neves atuou nos bastidores do PSDB para escolher seu sucessor na presidência da sigla, que será interinamente comandada pelo também senador Tasso Jereissati. Como se afastou em vez de renunciar, ele deixou aberta a possibilidade de voltar ao cargo. “Em razão das ações promovidas no dia de hoje contra mim e minha família, quero afirmar que, a partir de agora, minha única prioridade será preparar minha defesa e provar o absurdo dessas acusações e o equívoco dessas medidas”, afirmou o tucano em nota.

Até a revelação de que o dono do frigorífico JBS, Joesley Batista, entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma gravação do senador mineiro pedindo a ele R$ 2 milhões, para supostamente pagar sua defesa na Lava Jato, Aécio ainda comandava com mão de ferro a máquina partidária e as bancadas no Congresso, além de ser o principal interlocutor do partido com o Palácio do Planalto.

A partir de agora, dizem tucanos, o PSDB vai ter que reinventar sua dinâmica. Aliados do governador Geraldo Alckmin, por exemplo, já cobram mais “democracia interna” e falam abertamente que chegou a hora do paulista, que tenta se viabilizar como candidato à Presidência em 2018, ampliar seu espaço.

“São Paulo precisa tomar a frente e indicar o futuro presidente nacional. Vou brigar o máximo possível para São Paulo ser ouvido neste episódio todo. Não dá para assistirmos de camarote”, disse o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do PSDB paulista.

“Não podemos deixar esse caso do Aécio contaminar toda a legenda. Temos de promover agora uma ampla discussão interna para decidirmos os rumos do partido. A nova liderança deve representar mudança.

É hora de trocar. Defendo que a nova geração possa assumir o protagonismo do PSDB”, completou o deputado federal licenciado Floriano Pesaro, atual secretário de Desenvolvimento Social da gestão Alckmin.

Vice-presidente nacional do partido, o ex-governador Alberto Goldman chama de “besteirol” o argumento dos alckmistas.

“Não há prazo para Tasso Jereissati deixar a presidência do PSDB. Se Aécio sair em caráter definitivo, então eu, como mais velho, convoco a executiva, que então escolhe entre um dos oito vice-presidentes.” Além de Goldman e de Jereissati, também são vice-presidentes do PSDB os ministros das Cidades, Bruno Araújo; e das Relações Exteriores, Aloysio Nunes; o senador Flexa Ribeiro; e os deputados Giuseppe Vecci, Carlos Sampaio e Mariana Carvalho.

Apesar do discurso dos aliados, Alckmin deve ficar longe da agenda negativa de Brasília. Interlocutores do governador reforçam que ele sempre manteve uma “distância regulamentar” de Michel Temer e foi contra a ocupação de ministérios.

Divergências. Após uma reunião na manhã de ontem, a bancada do partido na Câmara apresentou o nome de Carlos Sampaio, de Campinas, no interior de São Paulo, para presidir a sigla. Antes de Aécio escolher Jereissati como sucessor, deputados chegaram a anunciar que Sampaio comandaria a legenda.

O desencontro escancarou as divergências entre as bancadas tucanas da Câmara (59 deputados eleitos e 47 em exercício) e do Senado (12 eleitos e 11 em exercício). Durante a reunião dos deputados, tucanos defenderam a renúncia “imediata” de Temer e a entrega de todos os cargos no governo. Como não houve consenso, o PSDB decidiu permanecer onde está. “Não vamos simplesmente sair do governo. O que nos interessa é manter as políticas implantadas”, disse Goldman.

Reservadamente, porém, tucanos já discutem o cenário de saída de Temer, o que acarretaria uma eleição indireta e um governo tampão. O PSDB, que é majoritariamente contra a opção de eleição direta, já fala em três opções: apoiar um nome de consenso do núcleo governista, sendo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), o mais cotado; lançar o senador Tasso Jereissati ou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No caso de eleição indireta, só os congressistas poderão votar.

SP 2018. Com Aécio afastado da cena política, o PSDB paulista se fortalece como principal força da legenda para as eleições de 2018, tendo como cabeça de chapa Alckmin ou o prefeito de São Paulo, João Doria. Ontem, os dois fizeram pronunciamentos breves nas redes sociais nos quais citam o momento do Brasil e pedem cautela. “Os fatos revelados são muito graves e exigem de todos serenidade e equilíbrio”, disse Doria.

Para Alckmin, o Brasil pede que todos os fatos sejam apurados. “Qualquer solução fora da Constituição não seria solução e sim um problema.” Doria e Alckmin chegaram a planejar uma entrevista conjunta, mas a suspenderam.

O governador ainda desmarcou uma agenda pública. / COLABORARAM JULIA LINDNER, ISABELA BONFIM e ERICH DECAT

A portas fechadas. Aliados como o senador José Serra e o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, foram ontem à casa de Aécio em Brasília

Protagonismo

“São Paulo precisa tomar a frente e indicar o futuro presidente nacional. Vou brigar o máximo possível para SP ser ouvido.”

Pedro Tobias

DEPUTADO ESTADUAL E PRESIDENTE DO PSDB PAULISTA

 

O Estado de São Paulo, n. 45139, 19/05/2017. Política, p. A11