'Cabeças pretas' do PSDB pressionam por desembarque
Vera Rosa
25/05/2017
 
 
GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Grupo formado por jovens parlamentares do partido pede que tucanos entreguem cargos no governo; Tasso tenta conter ‘rebelião’

A bancada do PSDB na Câmara está dividida sobre a permanência do partido no governo Michel Temer. O grupo conhecido como “cabeças pretas” – em oposição aos “cabeças brancas”, que formam a cúpula da legenda – pressiona para que os tucanos entreguem imediatamente os cargos na administração.

O movimento “rebelde” ganhou uma adesão de peso: o deputado Carlos Sampaio (SP), vice- presidente jurídico do partido. “Penso que ser responsável com o País, hoje, é pensarmos imediatamente, de forma equilibrada e serena, numa transição que respeite o regramento constitucional.

O presidente Michel Temer perdeu as condições mínimas de governabilidade”, disse o parlamentar ao Estado.

Diante do avanço do grupo, o senador Tasso Jeiressati (CE), presidente interino do PSDB, foi chamado ontem para acalmar os ânimos na reunião da bancada, que conta com 48 deputados.

Por ora, a decisão é aguardar os próximos acontecimentos, mas o dirigente ouviu vários discursos exaltados. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), também tenta conter o movimento. A ideia é ganhar tempo para articular uma saída política de consenso da base e escolher um nome para disputar a eleição indireta em conjunto com o PMDB e o presidente Michel Temer. A defesa do peemedebista pelos tucanos, porém, já não é mais tão enfática. “Se o presidente Temer por acaso tiver de sair, será por meio da Constituição.

Não nos afastaremos um milímetro dela. Vamos seguir o livrinho”, afirmou Tasso, referindo- se à possibilidade de eleição indireta no Congresso para escolher o sucessor de Temer. Dos quatro ministros que o PSDB tem no governo, apenas o titular de Cidades, Bruno Araújo, compareceu ao encontro de ontem. Quando as delações da JBS atingiram Temer, na semana passada, Araújo chegou a ensaiar um pedido de demissão. Deputado licenciado, o ministro foi convencido pelo presidente a ficar.

O PSDB e o DEM definiram que atuarão em bloco na crise. Enquanto os tucanos defendem o nome de Tasso em caso de eleição indireta, o DEM ventila a candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). “A decisão é sair unido, embora alguns achem que o partido deve sair já (do governo) e outros no próximo dia 6, após a votação (da cassação da chapa Dilma-Temer) no TSE. Tasso pediu a unidade de todos”, disse Tripoli.

Ala jovem. Em outra frente, jovens lideranças do PSDB que ganharam força nas eleições municipais do ano passado também pressionam pelo rompimento do PSDB com a gestão Temer. “Não faz mais sentido continuar apoiando o governo Temer”, disse ao Estado o prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Orlando Morando.

Ele gravou em vídeo sua posição e distribuiu em um grupo de WhatsApp do PSDB. A iniciativa repercutiu na reunião da bancada. Outro nome “cabeça preta” que pede abertamente a renúncia de Temer é o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan.

“Há um desejo da base do PSDB, de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e alguns federais de sair da base do governo”, disse o tucano. Os diretórios estaduais do PSDB no Rio Grande e Rio de Janeiro se posicionaram pela saída do PSDB do governo.

O diretório de São Paulo ameaçava seguir o mesmo caminho, mas foi contido pelo governador Geraldo Alckmin, que está afinado com a cúpula nacional do partido.

Armínio. Em meio ao aumento das incertezas políticas, o nome do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga passou a ser lembrado por tucanos para o Ministério da Fazenda em uma eventual queda de Temer. O nome do ex-presidente do BC já tinha sido cogitado quando Temer estava montando a sua equipe econômica. Ele também foi o “ministro” da Fazenda escolhido pelo senador Aécio Neves durante a campanha presidencial de 2014.

Publicamente, deputados do partido evitam falar sobre eventual substituição de Henrique Meirelles do Ministério da Fazenda, sob o argumento de que ainda é cedo e de que qualquer discussão nesse momento sobre o assunto poderia gerar uma instabilidade no mercado. Em reservado, porém, reconhecem que Fraga tem preferência de alguns tucanos, embora uma eventual agenda de reformas seja muito semelhante à de Meirelles. Parlamentares do PSDB afirmam que, pela importância do cargo, o comando da Fazenda também entrará na negociação entre os grandes partidos sobre a substituição do presidente.

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Temer avalia com bancada retirar Renan de liderança do PMDB

Isabela Bonfim

25/05/2017

 

 

Senador reagiu com um discurso em plenário e disse que o ‘PMDB não é um departamento do Executivo

Os ataques do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), ao governo Temer chegaram ao limite no Planalto. Na manhã de ontem, o presidente Michel Temer discutiu com a bancada do partido a destituição de Renan do cargo. A conversa rendeu bate-bocas no plenário mais tarde, além de um enfrentamento em discursos entre Renan e o presidente do PMDB, Romero Jucá (RR).

“O presidente pode destituir o líder do governo, mas do PMDB não. O PMDB não é um departamento do Executivo, não é um subproduto do governo. É um partido político que, coincidentemente, tem um filiado na presidência da República”, afirmou Renan na tribuna.

Dezessete dos 22 senadores que compõem a bancada do partido estiveram com Temer no Planalto. Renan e outros aliados preferiram não comparecer.

O tema da destituição de Renan foi puxado por Romero Jucá, que afirmou que não cabia mais na bancada essa postura contrária ao governo e às reformas estruturantes.

Outros senadores endossaram o posicionamento de Jucá.

Na reunião, eles relataram incômodo com o comportamento de Renan, que tem criticado diretamente Temer e articulado para derrubar os projetos do governo.

De outro lado, um grupo mais próximo do líder teria saído em sua defesa.

A conversa desencadeou a ira de Renan, que foi à tribuna despejar críticas sob Temer. Ele alegou que a ala da bancada que discorda do governo é tão representativa numericamente quanto ao grupo que o apoia.

Em resposta, Jucá foi taxativo: “Ninguém está autorizado a subir na tribuna para dizer que o PMDB não apoia o presidente Michel Temer. Eu sou o presidente do PMDB e eu me reuni com a maioria da bancada hoje.

A posição individual não pode superar a decisão coletiva.” À noite, catorze senadores do PMDB voltaram a se reunir para pressionar Renan. Os parlamentares alegam que o senador não está expressando em seus discursos de crítica ao governo o posicionamento da maioria da bancada. Renan, por sua vez, desconversou e fingiu que esse não era o assunto da reunião.

“Isso não estava na pauta. Você acha que a essa altura alguém vai botar ‘canga’ em mim? Coisa difícil!”, disse quando perguntado se a bancada discutiu sua saída. / COLABOROU CARLA ARAÚJO

Faíscas. Líder no Senado usou tribuna contra presidente

 

O Estado de São Paulo, n. 45145, 25/05/2017. Política, p. A11