Governo pressiona, e base se une contra denúncia

CRISTIANE JUNGBLUT

 CATARINA ALENCASTRO 

TATYANE MENDES

KARLA GAMBA

13/07/2017
 
 
 
 
Planalto pretende votar questão amanhã no plenário da Câmara

Na guerra para tentar derrubar a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o presidente Michel Temer, a cúpula do PMDB e de outros três partidos da base decidiram ontem pelo fechamento de questão contra a autorização para o Supremo Tribunal Federal (STF) analisar a abertura do processo. O PMDB decidiu punir com afastamento de funções partidárias os infiéis por até 90 dias. A posição da legenda é inédita nesses casos. Além do PMDB, as bancadas do PP, PSD e PR decidiram encaminhar pela rejeição da denúncia. Os comandos nacionais dos quatro partidos — que somam 185 deputados — entraram em campo para tentar enquadrar os deputados e assim conter defecções ou traições. A estratégia da base aliada, que já deu maioria a Temer, é encerrar a discussão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) hoje e tentar votar a questão no plenário amanhã.

O primeiro dia de debate sobre a denúncia contra Temer na CCJ foi marcado por uma guerra de argumentações de governistas e oposicionistas, que se revezaram no microfone por mais de oito horas. Os defensores de Temer repetiam que a denúncia apresentada pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, carece de provas e atacavam o acordo de delação fechado pelos irmãos Batista, da JBS. Muitos também acusaram Janot de agir politicamente. Outros pregaram que há uma guerra contra a classe política como um todo.

Por outro lado, a oposição pontuava que há indícios fortes capazes de atestar a conduta criminosa por parte do presidente. E que, diante das dúvidas que pairavam sobre o Planalto, era preciso investigar. A CCJ tem o papel meramente formal de admitir a denúncia. Independentemente de ela ser aceita ou não nesta fase, terá de ser votada pelo plenário da Câmara. A tendência é que o debate se encerre hoje, e o caso seja votado na comissão, liberando o caminho para que o assunto siga para o plenário.

Para que a denúncia siga ao STF, são necessários 342 votos favoráveis. Mas integrantes do Palácio do Planalto reconhecem que o o grande problema é garantir quorum amanhã para realizar a sessão da Câmara. Para iniciar a sessão, serão necessários 342 deputados em plenário.

O presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá (RR), reuniu a Executiva e anunciou a decisão de fechar questão, mas disse que a decisão não é retroativa e que o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) — que na CCJ apresentou parecer a favor da denúncia — pode rever sua posição. Jucá disse que quem não estiver contente no partido pode deixar a sigla e acrescentou que o que está em discussão não é uma “mera questão na CCJ e sim um ataque à classe política".

— A manifestação é a partir de hoje. Portanto, qualquer decisão contrária a partir de hoje, será avaliada da forma que precisa ser feita. Defendo que ele (Zveiter) possa avaliar o posicionamento dele a partir de agora e seguir o partido. Não estamos fazendo nenhum tipo de ação ou punição pretérita. Estamos discutindo o posicionamento daqui para a frente e, daqui para a frente, é uma decisão unânime da Executiva Nacional do partido. Não é manobra. estamos marcando uma posição partidária. Quem está descumprindo a posição partidária que responda pelos seus atos. Não vou fulanizar, discutir posicionamento pessoal — disse Jucá.

 

MAIS TROCAS O PMDB

fez mais duas mudanças ontem na CCJ : o deputado Darcísio Perondi (RS) entrou no lugar de Osmar Serraglio (PR), e Hildo Rocha (MA) substituiu Soraya Santos (RJ). O PP também trocou Esperidião Amin (SC) por Toninho Pinheiro (MG).

Com negociação com o Palácio do Planalto, as bancadas de PP, PSD, e PR se reuniram e decidiram encaminhar pela rejeição da denúncia, mas há defecções. O líder do PSDB, Ricardo Trípoli (SP), liberou a bancada:

— A decisão foi de liberar a bancada. Acredito que dois terços da bancada de 46 membros sejam a favor da denúncia.

O PTB está agindo com Temer, tanto que Roberto Jefferson esteve com o presidente e fez mudanças na CCJ. Mas a deputada Cristiane Brasil (RJ) disse que não haverá fechamento de questão. (*Estagiárias sob supervisão de Maria Lima)

O globo, n.30656 , 13/07/2017; PAÍS, p. 21