Temer revoga decreto sobre Exército

Tânia Monteiro / Carla Araújo / Leonencio Nossa

26/05/2017

 

 

Pressionado por aliados e em meio a um mal-entendido com Rodrigo Maia, presidente recua sobre atuação das Forças Armadas nas ruas

 

 

 

O presidente Michel Temer revogou ontem, menos de 24 horas depois da publicação, o decreto que autorizou o uso das Forças Armadas na segurança de prédios na Esplanada dos Ministérios. O recuo ocorreu após pressão de aliados e polêmica com o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A medida foi adotada em meio a depredação de prédios e confronto entre manifestantes e policiais anteontem, durante protesto em Brasília, que deixou 49 feridos. Centrais sindicais, organizadores do ato na capital federal, serão cobradas pela Advocacia- Geral da União (AGU) a ressarcir aos cofres públicos os prejuízos causados por manifestantes.

Somente o Ministério da Agricultura, que teve o prédio incendiado, calcula em R$ 1,105 milhão as perdas. O valor se refere aos custos com mobiliário, infraestrutura predial e serviços de mão de obra, diz a pasta, em nota. Pela manhã, a segurança dos prédios na Esplanada ainda estava reforçada.

Anteontem, ao divulgar a convocação das Forças Armadas, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que a decisão havia sido tomada após solicitação de Maia. O presidente da Câmara, no entanto, negou ter pedido a presença de tropas do Exército nas ruas e pediu que o ministro se retratasse.

“Quando recebi a determinação do presidente da República, já havia sido feita a avaliação da necessidade das Forças Armadas pela insuficiência da Força Nacional. Houve realmente um mal-entendido, já liguei para o presidente da Câmara e dei as explicações”, disse Jungmann ontem, ao lado do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sergio Etchegoyen, numa tentativa de encerrar a crise.

Jungmann fez questão de dizer que a decisão de chamar as Forças Armadas foi de Temer e tentou encerrar a polêmica afirmando que “o presidente da Câmara não tem responsabilidade nenhuma, foi uma decisão operacional que tomamos e o conflito de versões está esclarecido”.

A decisão de revogar a medida foi tomada em reunião logo pela manhã entre Temer e ministros, no Palácio do Planalto.

Segundo o decreto, a autorização para as Forças Armadas atuarem nas ruas da capital federal seria até o dia 31.

Mesmo após o recuo, o governo manteve a avaliação de que a medida foi acertada, pois no momento em que houve o pedido para o Exército atuar, manifestantes haviam invadiam e incendiavam o prédio do Ministério da Agricultura, com pessoas dentro. O problema, de acordo com assessores do presidente, foi ter havido um tempo entre o agravamento da violência na manifestação e o anúncio.

 

Manifestantes. Dos 49 feridos durante a manifestação, cinco ainda estava internados ontem no Hospital de Base de Brasília. Entre eles está o estudante Vitor Rodrigues Fregulia, de 21 anos, que teve parte da mão dilacerada após uma bomba estourar antes que conseguisse soltá-la.

O jovem passou por uma cirurgia e permanece internado ainda sem previsão de alta. Carlos Giovani Cirilo, de 60 anos, levou um tiro de arma de fogo na altura do maxilar durante a manifestação. Segundo o hospital, ele está na UTI e seu estado é grave.

Um integrante do MTST, chamado Isaias, também foi levado com ferimentos provocados por estilhaços de vidro que acertaram seu pescoço e o seu rosto.

Outros dois feridos durante os atos de anteontem também estão internados, mas não foram identificados. Eles não correm risco de vida.

 

Quebradeira. Depois de ter sido incendiado no protesto, Ministério da Agricultura calcula prejuízo de R$ 1,105 milhão

 

Avaliação

“Quando recebi a determinação do presidente da República, já havia sido feita a avaliação da necessidade das Forças Armadas.”

Raul Jungmann

MINISTRO DA DEFESA

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45146, 26/05/2017. Política, p. A6.