Chegada do verão alerta contra dengue, zika e chicungunha

25/12/2016

 

 

Com a aproximação da temporada que reúne a dobradinha altas temperaturas e grandes, e constantes, precipitações de chuva, o país, numa faixa cada vez maior de seu território, começa a se preocupar com a chegada do período de proliferação em larga escala do Aedes aegypti. O mosquito, que estava erradicado do Brasil desde meados do século passado, reapareceu no cenário epidemiológico nos anos de 1990 e, desde então, consolidou-se como um fantasma sazonal.

O verão associou-se a surtos de doenças transmitidas pelo inseto — dengue, responsável pela maior incidência de epidemias, zika e chicungunha, as duas últimas com história mais recente nos boletins de saúde pública. Com um mês de novembro e início de dezembro marcados por volumes pluviométricos acima das médias, as projeções de ocorrência dessas doenças para 2017 são preocupantes.

É nesta época que o mosquito começa o ciclo de reprodução, neste fim de ano, ao que parece, favorecido pelas condições climáticas (mais chuvas, que representam mais áreas para o depósito de ovos, e calor forte). Também deveria ser antes deste período que as ações de prevenção, em especial as demandadas pelo poder público, precisariam começar a ser implantadas. Mas, neste particular, como se sabe, os organismos sanitários dos governos não costumam ser muito ágeis — um protocolo que, ano após ano, precisa ser aperfeiçoado, mas, vítima de leniência e inoperância, está quase sempre associado a perdas de batalhas contra o Aedes.

Os números do Ministério da Saúde até novembro dão conta de que em 2016 o mosquito esteve bem ativo. Ao todo, foram registrados no país quase dois milhões de casos prováveis de dengue, zika e chicungunha. A dengue derrubou 1.475.940 brasileiros — a mais alta marca de incidência da doença desde seu reaparecimento, no final do século passado. É um universo de infecção muito alto, mas com um perfil de contaminação diferente de outros anos.

O Rio de Janeiro, tradicionalmente o estado mais atingido por essas epidemias, foi ultrapassado por Minas (526 mil casos), São Paulo (204,5 mil) e Goiás (113 mil). Um movimento que se explica: vítima de grandes surtos passados, o Rio tem boa parte de sua população não mais suscetível de contaminação. Mas a chegada de novas cepas do vetor ainda é fator de grande potencial de infecção, circunstância que recomenda redobrar a prevenção, uma responsabilidade que não é só do poder público: também em casa é necessário combater os possíveis focos de reprodução do inseto.

Com presença detectada mais recentemente nos boletins epidemiológicos, a zika (desde 2015) e a chicungunha (este ano) têm uma curva de crescimento assustadora. Como são doenças “novas”, o potencial de suscetibilidade a elas atinge praticamente toda a população das regiões onde o Aedes as espalha. O vírus da zika já atingiu a marca de 210 mil infecções no país (66,9 mil somente no Rio), com seis óbitos. Já a chicungunha teve um crescimento espantoso de 727,3% desde os primeiros registros. A guerra contra o mosquito parece longe de estar sob controle. Ao contrário, os indicadores mostram que o país, apesar da previsibilidade de ocorrências dessas doenças sazonais, ainda não consegue se preparar de antemão para enfrentar o Aedes.

 

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O globo, n.30456 , 25/12/2016. EDITORIAL, p. 16