‘Não fiz dinheiro na vida pública’, afirma Aécio

Pedro Venceslau

24/05/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Tucano fala pela 1ª vez sobre a delação de Joesley; irmã pede revogação de prisão

Em um vídeo divulgado ontem nas redes sociais, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) falou pela primeira vez após a delação da JBS. Aécio disse que fez “dinheiro na vida pública” e é vítima de “uma armação de réus confessos”. O tucano mineiro reafirmou a versão de que recorreu ao empresário Joesley Batista para vender um apartamento de sua família no Rio de Janeiro.

As acusações do empresário culminaram no afastamento de Aécio do Senado e na prisão de sua irmã, Andrea Neves.

“Há cerca de dois meses eu pedi à minha irmã, Andrea, que procurasse o senhor Joesley e oferecesse a ele a compra de um apartamento onde minha mãe vive há mais de 30 anos. Com parte desses recursos eu poderia pagar minha defesa. Fiz isso porque não tinha dinheiro. Não fiz dinheiro na vida pública”, disse Aécio em um vídeo de quatro minutos.

Em outro trecho, ele diz que Joesley ofereceu outro caminho e armou uma “encenação” ao oferecer empréstimo de R$ 2 milhões. “Fui vítima de um armação conduzida por réus confessos.

Sempre respeitei cada voto que recebi. Nos últimos dias, e vocês podem imaginar, minha virou pelo avesso.” Por fim, o tucano admitiu que errou. “E isso me corrói as vísceras. Em primeiro lugar por ter permitido que minha irmã se encontrasse com um cidadão cujo caráter todo o Brasil conhece.

Em segundo, ao utilizar, mesmo em conversa particular, um vocabulário que não costumo usar, e por isso peço desculpa.

Meu maior erro, porém, foi me deixar enganar numa trama montada por um criminoso. Os criminosos são aqueles que enriqueceram às custas do dinheiro público e agora vivem no exterior zombando dos brasileiros”, disse Aécio.

Na semana passada, o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, mandou prender a irmã e um primo do tucano – Frederico Pacheco de Medeiros – a partir de acusações feitas pelo dono da JBS na delação firmada com o Ministério Público Federal.

A defesa do senador Aécio Neves (PSDB-MG) apresentou ontem pedido de revogação do afastamento das funções parlamentares determinada por Fachin, e criticou a decisão monocrática do ministro.

O advogado Alberto Toron, que defende o senador afastado, diz no recurso que ele não obstruiu a Justiça. “Considerando a natureza da medida imposta contra um senador da República, não poderia ela decorrer de decisão monocrática, e sim de decisão colegiada do Supremo”, afirmou Toron.

‘Pessoalidade’. Já a defesa de Andrea Neves argumentou, em recurso enviado ao Supremo, que ela não poderia ter sido presa por eventuais ilícitos cometidos pelo seu irmão. Na peça, os advogados de Andrea pedem para que a prisão preventiva seja revertida em outras medidas cautelares, já que o pedido feito pela Procuradoria- Geral da República aponta para “razões que, se existentes, poderiam ser aplicadas para a pessoa física do senador Aécio Neves, nunca para sua irmã”.

“A jurisprudência dos Tribunais Superiores rejeita a tentativa de justificar prisão preventiva de uma pessoa com fundamentos aplicáveis a outra, por violação do princípio pessoalidade da responsabilidade penal, do qual decorre a imperiosa necessidade de individualização da fundamentação da prisão preventiva”, argumentam os advogados. / COLABORARAM BRENO PIRES, ISADORA PERON, ISABELA BONFIM e JULIA LINDNER

Defesa. Em vídeo, senador se diz vítima de uma ‘armação conduzida por réus confessos’

Declaração

“Os criminosos são aqueles que enriquecem às custas do dinheiro público e agora vivem no exterior zombando dos brasileiros.”

Aécio Neves

SENADOR AFASTADO (PSDB-MG)

____________________________________________________________________________________________

STF divulga conversa de jornalista

24/05/2017

 

 

O ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes criticou ontem a divulgação, pela própria Corte, de uma conversa entre o jornalista Reinaldo Azevedo e Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves, no âmbito da investigação relativa à delação da JBS.

“A lei que regulamenta as interceptações telefônicas é clara ao vedar o uso de gravação que não esteja relacionada com o objeto da investigação. É uma irresponsabilidade não se cumprir a legislação em vigor. O episódio envolvendo o jornalista Reinaldo Azevedo enche-nos de vergonha, é um ataque à liberdade de imprensa e ao direito constitucional de sigilo da fonte”, afirmou o ministro.

O diálogo foi publicado pelo site BuzzFeed. Segundo a reportagem, a conversa entre Azevedo e a irmã de Aécio ocorreu no dia 13 de abril, logo após a abertura dos conteúdos da delação da Odebrecht. Eles também conversaram sobre Rodrigo Janot, procurador-geral da República.

Azevedo anunciou ontem sua demissão da revista Veja e afirmou que dar publicidade a “esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas”.

Os áudios fazem parte de um lote de gravações liberado pelo ministro Edson Fachin na semana passada após o fim do sigilo das delações. Em notas, a Procuradoria- Geral da República e a Polícia Federal negaram ter divulgado a conversa. A PRG disse que “não anexou, não divulgou, não transcreveu, não utilizou como fundamento de nenhum pedido, nem juntou o referido diálogo”.

___________________________________________________________________________________________

Ministros são escalados por Temer para vender ‘normalidade’

Tânia Monteiro e Carla Araújo

24/05/2017

 

 

Moreira e Padilha tentam passar a mensagem de que governo Temer não está paralisado diante da crise política

Em mais um dia de fatos negativos para o Palácio do Planalto, com a prisão de um assessor especial do presidente Michel Temer, e em meio à crise política provocada pela delação de executivos da JBS, ministros saíram em defesa do governo.

Moreira Franco (Secretaria- Geral da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil) foram escalados para tentar passar mensagem de normalidade e dizer que o “governo continua trabalhando”.

Sem citar a operação de ontem, Moreira postou um vídeo nas redes sociais e afirmou que é preciso “independência e autonomia dos Poderes”. “Que o Poder Judiciário, apoiado por todos nós, continue o seu trabalho.

Que o Executivo permaneça firme, com compromisso de levar até o fim o que está escrito na ‘Ponte para o Futuro’, que é a trajetória para tirarmos o país da mais grave crise da história”, afirmou.

O ministro citou ainda a importância de que parlamentares continuem votando a agenda de reformas do governo, como quer o presidente Temer, para mostrar que seu governo não está paralisado.

Padilha foi na mesma linha e voltou a falar da reforma da Previdência.  “A reforma não saiu de pauta e serão cumpridos os prazos definidos pelo Congresso.”

Dificuldades. Temer está convencido que a luta política e jurídica será longa. A interlocutores, apesar de reconhecer o período mais difícil vivido por seu governo, o presidente tem repetido que terá disposição para “resistir, enfrentar e ganhar cada batalha”.

Logo no início do dia, por mais que assessores se apressassem para tentar dissociar a imagem de Tadeu Filippelli, preso na operação ontem, da de Temer, nos bastidores, auxiliares reconheceram que a notícia amplia o desgaste já sofrido pelo governo. Assessores do presidente tentaram explicar que o motivo da prisão de Filippelli está relacionado a fatos anteriores ao Planalto. Auxiliares destacam que na “hierarquia” dos assessores especiais, Filippelli era o que menos tinha relação pessoal com o presidente, ao contrario de José Yunes e Rodrigo Rocha Loures que também acabaram afetados por denúncias.

Agenda. Durante o dia, Temer se dividiu entre o Palácio do Planalto e o Jaburu, em reuniões com advogados e telefonemas a parlamentares. Temer também passou o dia acompanhando as votações na Câmara e no Senado. O presidente sabe que precisa mostrar força política no Congresso e testar sua base, que faz ameaças de rupturas.

O governo também acompanha – via Gabinete de Segurança Institucional e por meio da equipe de mídia social – a organização dos protestos marcados para amanhã.

A avaliação preliminar é que a baixa adesão de domingo, que foi considerada positiva, não deve se repetir. Apesar disso, auxiliares minimizam a força de mobilização e dizem que mesmo no auge das polêmicas envolvendo Temer a oposição não conseguiu mostrar força e a ordem é evitar o tema até amanhã. / COLABOROU LEONENCIO NOSSA

Café da manhã. Temer reunido com os deputados da base aliada, ministros e senadores

Governo

A base conseguiu adiar votação do texto favorável à Proposta de Emenda à Constituição das eleições diretas, projeto para o caso de vacância da Presidência

Autonomia

“Que o Judiciário, apoiado por todos nós, continue seu trabalho. Que o Executivo permaneça firme.”

Moreira Franco

MINISTRO DA SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA

____________________________________________________________________________________________

Líder do PMDB, Renan pede ‘renúncia negociada’

Julia Lindner e Isabela Bonfim

24/05/2017

 

 

 

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), passou a defender abertamente a saída do presidente Michel Temer para a realização de eleições indiretas. Ontem, durante sessão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Renan disse que “o ideal seria conversar com o presidente para fazer uma transição rápida e negociada”.

Após criticar as reformas do governo e articular a derrubada da sessão para impedir a leitura do relatório da reforma trabalhista, o peemedebista passou a listar nomes para substituir Michel Temer na Presidência.

“Nelson Jobim e Joaquim Barbosa são grandes nomes. É claro que a atual presidente do STF, os presidentes da Câmara e do Senado e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) seriam candidatos naturais.

Mas Jobim e Barbosa são ótimos nomes”, defendeu.

Em mais um embate com Temer, Renan fará um discurso hoje na Marcha das Centrais sindicais, em Brasília, às 10 horas, contra as medidas econômicas defendidas pelo governo. Após sua fala, os manifestantes seguirão em direção ao Congresso Nacional, onde será realizado ato contra as reformas trabalhista e previdenciária.

Oposição. A participação de Renan no protesto faz parte da estratégia do peemedebista de se aproximar cada vez mais da oposição. Com a crise no governo, o alagoano também aproveitou para intensificar as conversas com partidos insatisfeitos com o governo para angariar apoio em uma eventual eleição indireta no Congresso, como PSB e PDT. O primeiro integrava a base aliada do governo até sábado passado, quando anunciou sua saída e defendeu a renúncia do presidente.

Não é a primeira vez que Renan articula contra o governo. Desde o envio das reformas ao Congresso, ele tem enfrentado o Planalto, o que gerou mal estar dentro da bancada do PMDB, onde é líder.

O posicionamento de Renan incomoda alas do partido e aliados de Temer, que pedem que a base aliada mantenha um clima de “normalidade” e aguarde o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no próximo dia 6, para se posicionar.

 

O Estado de São Paulo, n. 45144, 24/05/2017. Política, p. A8