DEM e PSDB querem nome de consenso para barrar ‘diretas’

Vera Rosa

24/05/2017

 

 

GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Nos bastidores, partidos debatem uma saída negociada para Michel Temer no caso a crise política envolvendo o presidente se agrave

O agravamento da crise política fez o PSDB e o DEM intensificarem as articulações de bastidores na tentativa de barrar a possibilidade de eleição direta para substituir o presidente Michel Temer. Em conversas reservadas, dirigentes das duas siglas avaliam que, caso a coalizão de apoio a Temer não apresente uma alternativa de poder, o movimento por “diretas já” pode ganhar força, com “risco” de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar ao Palácio do Planalto.

Ontem, a base aliada conseguiu adiar a votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara do relatório favorável à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das eleições diretas para o caso de vacância da Presidência. O projeto, mais tarde, foi retirado da pauta.

Desde a divulgação das delações da JBS, tucanos e outros aliados têm feito reuniões quase que diárias para discutir cenários de pós-Temer. Um deles, defendido por dirigentes do PSDB, do DEM e de uma parte do próprio PMDB, seria a renúncia do presidente com escolha de um sucessor que passe pela concordância do próprio Temer.

O problema, nesse caso, é que o peemedebista não aceita renunciar e ninguém pretende pressioná-lo para que faça isso, ao menos por enquanto.

Ministros. Até agora, a maior parte dos aliados concorda com a manutenção do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Alguns também observam que seria conveniente propor a Temer que, caso a situação fique insustentável, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, também sejam preservados, embora sejam investigados pela Lava Jato. Avalista do governo, o PSDB considera que o nome ideal para substituir Temer seria o do expresidente Fernando Henrique Cardoso, mas não há consenso.

Na Câmara, muitos aliados querem que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ocupe a cadeira de Temer. Se o presidente renunciar, é Maia que assume o cargo por 30 dias.

Chapa. Apesar das articulações, o PSDB pretende esperar o julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), previsto para o próximo dia 6, para só então resolver se continua ou não no governo.

“A ideia é ter prudência e, obviamente, um prazo para tomar a decisão”, disse o deputado Ricardo Tripoli (SP), líder do partido na Câmara.

O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, disse que a manutenção de Temer no governo depende agora do Congresso. “Se as reformas andarem, Temer fica. Se não, o próprio mercado, que o sustenta hoje, pedirá para ele sair”, afirmou o parlamentar. / COLABOROU RENAN TRUFFI

Compasso de espera

“A ideia é ter prudência e, obviamente, um prazo para tomar a decisão (de desembarcar ou não do governo Temer).”

Ricardo Tripoli (PSDB-SP)

LÍDER DO PARTIDO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

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Alckmin veta movimento anti-Temer em diretório de SP

Pedro Venceslau

24/05/2017

 

 

Pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2018, governador ganha espaço no partido com afastamento de Aécio

Com o afastamento do senador Aécio Neves do comando nacional do PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, principal adversário do tucano mineiro na legenda, afinou o discurso com a cúpula nacional do partido e se aproximou do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apontado por tucanos paulistas como o “nome ideal” para disputar uma eventual eleição indireta.

Anteontem, Alckmin barrou um movimento do diretório paulista do PSDB que ameaçava pedir a renúncia de Temer. Os diretórios tucanos do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul já se posicionaram em defesa da renúncia de Temer e há forte pressão tucana na Câmara para que o partido siga esse caminho.

Na ausência de Aécio, que até a delação da JBS ainda comandava com mão de ferro a executiva nacional tucana, Alckmin ganhou protagonismo no núcleo duro da sigla e passou a ser apontado até por aliados de Aécio como opção natural tucana para disputar a eleição presidencial do ano que vem. Ele tem conversado regularmente com FHC e com o senador Tasso Jereissati (CE), que assumiu o partido deforma interina.

O trio formou uma espécie de conselho informal do partido.

Antes relegado ao segundo plano, o governador paulista passou a ser consultado com frequência sobre os rumos do PSDB desde a semana passada.

A avaliação entre auxiliares do governador é de que a nova dinâmica partidária fortalece a posição de Alckmin no partido para 2018 e esvazia a tese de realizar prévias para definir o candidato tucano.

Recebida com surpresa na bancada tucana na Câmara, a decisão de Alckmin de defender a permanência do PSDB no governo Temer foi tomada após várias conversas com FHC e Tasso e teve objetivo de conter a pressão da base tucana pelo desembarque imediato do Palácio do Planalto.

“Nesse momento não seria correto com o País”, disse o governador em um evento anteontem no Fórum da Barra Funda, na capital. Em seguida, porém, disse concordar com o prefeito da Capital, João Doria, que a situação do presidente Temer é “comprometedora”.

O governador paulista não se pronunciou sobre a eventualidade de uma eleição indireta, mas, segundo, pessoas próximas, ele deve apoiar publicamente os nomes de FHC ou de Tasso caso haja a disputa. A decisão será tomada em conjunto.

Em caráter reservado, integrantes da executiva nacional tucana avaliam que dificilmente um nome do Judiciário, como o de Carmem Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, reuniria apoio suficiente no colégio eleitoral, formado por deputados e senadores.

FHC 2017. A crise foi o tema de reunião na noite de segunda no diretório que reuniu o principais quadros do partido. A expectativa era de que os paulistas seguissem o mesmo caminho dos diretórios gaúcho e fluminense, mas o movimento foi barrado pelo governador Geraldo Alckmin.

“Decidimos não decidir. Vamos esperar uma decisão do (diretório) nacional”, disse o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do diretório paulista.

Em consonância com o Palácio dos Bandeirantes, Tobias também declarou voto no expresidente Fernando Henrique Cardoso como candidato na eleição indireta e relatou que esse é o sentimento majoritário com o partido no Estado.

“Meu candidato em caso de eleições indiretas é o FHC. Há quase uma unanimidade no partido em São Paulo.” Já o ex-governador Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, discorda.

“Acho difícil, e não é pela idade. Sabemos que ele (FHC) teria objeções muito fortes de vários setores”.

“Decidimos não decidir. Vamos esperar uma decisão do (diretório) nacional.”

Pedro Tobias, presidente estadual do PSDB-SP

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Nelson Jobim, o nome sempre lembrado nas crises políticas

Ricardo Galhardo

24/05/2017

 

 

PERFIL - Nelson Jobim, ex-ministro da Justiça e da Defesa / Ex-ministro integra conselho administrativo de banco e já foi titular em pastas dos governos, FHC, Lula e Dilma

Citado como um dos nomes para uma eventual sucessão do presidente Michel Temer, o ex-ministro da Justiça e da Defesa Nelson Jobim tem evitado comentar o assunto com seus amigos e interlocutores. Segundo eles, Jobim ainda vê chances de Temer permanecer no cargo e não enxerga uma solução imediata para a crise.

Ontem, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), defendeu publicamente Jobim como alternativa.

A amigos, o ex-ministro tem dito que Temer tem chance de se manter no cargo se tirar o governo da paralisia e fazer com que as reformas trabalhista e da Previdência andem no Congresso.

Também não vê uma solução imediata para a crise mesmo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decida cassar a chapa Dilma-Temer, pois a legislação permite uma infinidade de recursos. Mas acredita que a saída será pela política e não pelo Judiciário, segundo relatos de amigos.

Jobim também tem evitado, no momento, o papel de construtor de uma ponte entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Carodos, pois acredita que antes disso é preciso definir uma agenda comum entre os dois.

O motivo para seu nome ser cogitado, segundo quem o conhece, é a facilidade de Jobim para transitar nos mais diversos e relevantes ambientes.

Filiado ao PMDB, partido de Temer, foi ministro da Justiça no governo FHC e ocupou a pasta da Defesa nas administrações petistas de Lula e Dilma.

Na condição de ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Jobim transita bem no Judiciário, criou laços nas Forças Armadas depois da passagem pelo Ministério da Defesa e hoje é integrante do conselho administrativo do Banco BTG Pactual, posto que lhe abriu as portas do mercado financeiro. Além disso, Jobim foi deputado federal por três mandatos.

“Ele é sempre lembrado por ser um conciliador”, diz o deputado Miro Teixeira (Rede- RJ), amigo de Jobim mas que discorda da possibilidade de o ex-ministro concorrer em uma eleição indireta. “Numa eleição direta, aí sim, o PMDB poderia indicar o nome dele”, completou.

Segundo amigos, Jobim se cala quando o assunto é a possível sucessão de Temer. Alguns deles interpretam o silêncio como sinal de que o ex-ministro está disposto a enfrentar a empreitada, caso a oportunidade caia no seu colo, mas não fará movimentos bruscos.

Amigo de infância e ex-vizinho de calçada em Santa Maria (RS), o também ex-ministro do STF Eros Grau pontua que uma das marcas da atuação de Jobim é a objetividade.

“Além de ser formado em Direito, ele se graduou em Matemática.

As frases dele nunca têm mais do que 15 palavras. É extremamente objetivo, seja no que escreve, seja no que faz”, disse Eros Grau. O ex-ministro lembra que, embora tenha perfil conciliador, Jobim sempre manteve autonomia. “É um homem correto e, portanto, independente”, disse Eros Grau.

Essa autonomia se expressa, às vezes, de forma polêmica, como quando Jobim admitiu ter votado em José Serra (PSDB) em 2010, embora fosse ministro de Dilma. Alvo de críticas do PT, respondeu durante um aniversário de FHC: “Os idiotas perderam a modéstia”.

Ex-ministro. Jobim tem dito não enxergar solução imediata

 

O Estado de São Paulo, n. 45144, 24/05/2017. Política, p. A10