O homem do presidente na máquina do PMDB paulista

MARIANA SANCHES

ARLON VIANA LIMA

03/07/2017
 
 
 
 
Ele chamou a atenção da Lava-Jato quando seu nome surgiu em meio às investigações sobre reformas em casas de parentes de Temer

Quando seu pequeno negócio de transporte de carne bovina entrou em crise definitiva, há cerca de 20 anos, Arlon Viana Lima bateu à porta dos velhos colegas do PMDB, partido no qual militava desde 1972. Político de voo eleitoral curto, tentara ser deputado estadual uma única vez, em 1998. Sua situação financeira, no entanto, era tão ruim, que ele desistiu da campanha no meio. Amigos da época contam que Arlon estava a ponto de ser despejado quando foi alocado como ajudante de ordens no escritório paulista do então deputado federal Michel Temer.

— Era uma pindaíba, mas faz tanto tempo que eu nem gosto de falar disso — disse Arlon ao GLOBO.

Parecia pouco provável que, décadas depois, ele viria a ser o chefe do gabinete presidencial em São Paulo, com influência sobre o maior entreposto alimentício da América Latina, o Ceagesp, e um dos mais importantes dirigentes do PMDB no estado.

— Você não marca uma reunião com Michel Temer hoje se não for pela intermediação do Arlon. É um assessor da maior confiança do presidente, todo mundo sabe — afirmou a ex-secretária municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo Marianne Pinotti.

 

VERSÕES DISTINTAS

Arlon chamou a atenção dos investigadores quando seu nome surgiu em meio às investigações sobre reformas feitas em casas de parentes de Temer. Tanto a filha Maristela, quanto a sogra do presidente, Norma Tedeschi, teriam sido beneficiadas por reparos em casas cuja execução seria responsabilidade de Arlon e de João Baptista Lima, “o coronel Lima”, tido como aliado de primeira ordem. Em uma busca e apreensão na casa de Lima, há menos de um mês, a Polícia Federal encontrou documentos rasgados com informações sobre a reforma. Desde então, Arlon se contradisse sobre sua participação em tais obras. Negou, confirmou e, ao GLOBO, tentou demonstrar pouca intimidade com o assunto:

— Não, na verdade acho que, talvez. Fui lá uns anos atrás, não sei. Não vou nem te precisar data porque eu sou ruim de negócio de data. Mas faz uns três, quatro anos isso. O presidente me perguntou: “Você não conhece uma pessoa de confiança para pintor?” Falei: “Conheço”. (O presidente respondeu): “Então manda ‘pra’ mim lá". A partir daí, nunca mais. A pessoa foi lá, pintou, não pintou. Se foi ele, se não foi... Mas acho que foi. Mas eu não coordenei nada, imagina.

Para correligionários, a ascensão de Arlon se deve à sua habilidade de ter atraído a simpatia do coronel Lima. De jeito simples e despachado, filho de um lavrador baiano de algodão, Arlon se autointitula um conservador. Na infância, costumava ir com o pai assistir a comícios do então governador paulista Adhemar de Barros. Embora o site do PMDB o intitule como economista, ele mesmo admite que não chegou a concluir um curso técnico de contabilidade.

A influência de Lima sobre o presidente teria facilitado o processo de substituição de antigos funcionários de Temer por Arlon. O chefe de gabinete, porém, rechaça essa explicação:

— O coronel Lima é meu amigo, nada a ver com política. Minha relação com ele é de uma amizade gostosa.

 

INFLUÊNCIA FORTE

Para Arlon, ele se tornou importante para Temer porque o ajudou a ganhar penetração no PMDB paulista.

— Michel nem conhecia direito o partido, eu que apresentei para ele. E permaneci com ele até hoje — disse, sem falsa modéstia.

Com a morte de Orestes Quércia, Arlon ganhou mais proeminência no diretório, passando a ocupar sucessivamente os cargos de secretário, tesoureiro, presidente. Independentemente do posto, atribui-se a ele o poder de decidir, ao lado do deputado federal Baleia Rossi e do deputado estadual Jorge Caruso, quem serão os candidatos a prefeito no interior e como a máquina local funcioná. Na tríade, Arlon é quem fala em nome de Temer. Alguns ex-candidatos a prefeituras paulistas afirmaram, em condição de anonimato, que Arlon costuma cobrar dinheiro para ceder a legenda ou para oferecer apoio em coligações, acusações que ele nega.

Nas últimas semanas, em sua conta no Twitter, aumentou a carga de comentários políticos, eventualmente de tom ameaçador. Em 6 de junho, mirando aliados que ameaçavam o governo, Arlon disparou: “Caça às bruxas, serão necessários” (sic) e “A vingança, será maligna” (sic). Preocupado com sua própria condição jurídica, fez uma limpa nos documentos da sua casa e, a amigos, tem repetido, em tom de piada, que se a Polícia Federal fizer uma busca e apreensão em sua casa, “só vai levar susto”.

O globo, n.30646 , 03/07/2017. PAÍS, p. 4