Delação da JBS gera insegurança e afeta venda de bois

Alexa Salomão

26/05/2017

 

 

Grupo, que chega a ter 80% do mercado em algumas regiões do País, deixou de fazer os pagamentos a produtores rurais à vista

 

 

As delações dos irmãos Batista, controladores da JBS, também têm repercussão sobre a pecuária brasileira. Elas têm afetado a negociação do boi gordo e estão levando os pecuaristas a buscarem alternativas de compradores. Para garantir geração de caixa em meio à crise, a JBS decidiu parar de pagar os pecuaristas à vista. A medida garante um fôlego para o caixa da empresa, mas desagradou produtores.

A alteração na forma de comercialização ocorreu há três semanas, antes mesmo de as denúncias serem divulgadas. Como a venda a prazo deixa o caixa da empresa mais robusto, a percepção do mercado é de que a mudança na forma de pagamento foi um movimento antecipado do grupo para proteger suas finanças. Desde a divulgação da delação, os negócios seguem em ritmo mais lento. O clima é de incerteza. O preço da arroba caiu e leilões foram interrompidos.

“Quem pode está segurando o boi, por enquanto”, diz Jonatan Barbosa, presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul).

Na próxima terça-feira, a entidade realiza, em Campo Grande, uma reunião com pecuaristas e representantes do governo estadual para discutir alternativas.

Segundo Barbosa, entre 70% e 80% do abate no Estado está sob controle da JBS. “Fizemos de tudo para mostrar ao governo federal que estavam construindo um monopólio, reclamamos até no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que trata de concentração de mercado), mas, infelizmente, não nos ouviram e a JBS virou esse monstro – não temos alternativa para quem vender”, diz Barbosa.

O setor também convidou para o encontro o governador Reinaldo Azambuja (PSDB). A expectativa é que ele não apenas ajude a encontrar uma solução de mercado para a pecuária local, mas também se explique.

Em sua delação, Wesley Batista apresentou documentos mostrando ter pago propina a Azambuja e a dois ex-governadores, o deputado federal Zeca do PT e André Puccinelli (PMDB). Todos negam as acusações. “Reinaldo disse que pode apresentar toda a documentação para mostrar que está limpo”, diz Barbosa.

A Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat), por sua vez, está mobilizada desde a semana passada. O Estado tem 30 milhões de cabeças de gado, o maior rebanho do País. Cerca de 48% do abate é feito pela JBS, e os pecuaristas fazem questão de ter a opção de vender à vista.

A Acrimat defende que o governo do Estado adote duas medidas para ampliar as opções de mercado. A primeira é a concessão temporária de isenção de ICMS para a venda do boi em outros Estados. Hoje, a alíquota é de 7%. O governo ofereceu uma redução, para 2,5%, mas o setor insiste no pleito. “Não vamos nos considerar atendidos se não zerarem neste momento”, diz Luciano Vacari, diretor executivo da Acrimat.

A entidade também solicita que Mato Grosso faça a sua adesão ao Sisbi (Sistema de Inspeção de Produtos de Origem Animal).

Com a medida, pequenos e médios frigoríficos que hoje só têm autorização para vender carne no município onde estão instalados ou em nível estadual, teriam autorização para comercializar seus produtos em todo o País.

Em nota, a JBS declarou ter padronizado “todos os processos de compra de gado no Brasil há três semanas, com pagamento no prazo de 30 dias, o que já acontecia em 97% das praças onde atua”.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45146, 26/05/2017. Economia, p. B5.