Para MPF, Cabral agiu com ‘ganância desenfreada’

JULIANA CASTRO

26/07/2017

 

 

Ao pedir condenação, procuradores dizem que propina tornou padrão de vida do ex-governador ‘digno de magnata’

Nas alegações finais do processo da Operação Calicute, o Ministério Público Federal (MPF) afirma que o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) agiu com “ganância desenfreada” para sustentar um padrão de vida luxuoso. A força-tarefa da Operação Lava-Jato no Rio pediu a condenação do ex-governador, da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo e de todos os outros 11 réus do processo da Operação Calicute. O documento do MPF, com 300 páginas, foi protocolado ontem na 7ª Vara Federal Criminal do Rio e pode resultar na segunda condenação do ex-governador.

“Os motivos dos crimes também são bastante reprováveis, pois, ao longo da instrução, restou evidenciado ter o réu agido com ganância desenfreada, imbuído da intenção de ostentar padrão de vida cada vez mais luxuoso, ainda que, para tanto, fosse sacrificada a higidez da administração pública estadual, em prejuízo da coletividade”, afirmam os procuradores.

O MPF pede a condenação de Cabral por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

“A propina foi paga e elevou o padrão de vida de Sérgio Cabral a um nível impensável, digno de um magnata do setor privado e sem qualquer relação com o padrão econômico que um servidor público, mesmo um governador de estado, pode pensar em ter”, diz o MPF.

Ao prestar depoimento, há duas semanas, em audiência de outro processo em que é réu, Cabral admitiu pela primeira vez que teve conta no exterior na década de 1990. O saldo de US$ 2 milhões àquela época era, segundo ele, relativo a sobras de campanhas eleitorais. O peemedebista disse ainda que não vivia do salário de governador e que seus gastos mensais eram de R$ 200 mil. Ele afirmou que encerrou a conta no exterior em 2003 e que os irmãos Marcelo e Renato Chebar, que fizeram delação, passaram a tomar conta de seu dinheiro, oriundo de caixa dois, no Brasil. As joias, segundo Cabral, foram compradas com esses recursos.

O MPF contesta a alegação e diz que as vendas das joias ocorreram ao longo de vários anos, muitas vezes muito longe de períodos eleitorais.

O globo, n.30669 , 26/07/2017. PAÍS, p. 5